Uma tarde digna de Sherazade: na caverna de Ali Herrmann!

A joalheria nacional tem muito a agradecer a Anna Clara Herrmann. Com seu discernimento, ela deu um impulso à atividade que não houve sindicato ou entidade associativa que realizasse por ela algo que sequer se aproximasse de seu feito. Com feiras sofisticadas, obedecendo a um bom critério de escolha, marketing direcionado, convocando a imprensa selecionadíssima, sempre colando seu evento aos grandes e mais importantes lançamentos de moda, Anna Clara conseguiu inserir as joias no olho do furacão do melhor noticiário, nos momentos e lugares certos, junto aos certíssimos formadores de opinião, atraindo os mais que certos olhares…

Assim, através dos eventos Joia Brasil, de Anna Clara Herrmann, foram lançados nacionalmente (e também internacionalmente) nomes que certamente estariam restritos aos limites de suas cidades e/ou Estados, como a sempre inspirada Lucia Lima, celebrada joalheira baiana made in Pernambuco, a talentosa capixaba Sueli Chieppe, a brasiliense Carla Amorim, o baiano Carlos Rodeiro e tantos outros que vimos passarem a ter projeção nacional ou ganharem maior fama após suas participações nos eventos Joia Brasil, da Herrmann

O Joia Brasil pode até diminuir de tamanho, pois nem sempre o mar está pra peixe, mas jamais perde em atrevimento e sofisticação. E também não perde a pôse. Daí que os locais da feira são sempre os mais nobres que há. Este ano, como no ano passado, o cenário escolhido foi o Hotel Fasano. Primeiro, a partir de meio-dia, a exposição no Bar Londra, do hotel, com um coquetel, enquanto os convidados, imprensa, a fina flor dela, vinda do Brasil inteiro, e especialistas do setor, visitavam as vitrines de cada expositor e dialogavam com os joalheiros criadores.

Logo à entrada encontrei o trabalho de Marcia Chagas Freitas. Ela me disse que não se prende a estilos. Ama a natureza e faz das videiras brincos, das borboletas colares. Seus trabalhos machetados resultam irresistíveis, ourivesaria aprendida com o mestre Caio Mourão, misturando ouro branco e ouro amarelo nos braceletes. As gotas nos brincos, tão perfeitas na forma, quase inspiram religiosidade. Suas esmeraldas são de Minas Gerais, da mina Nova Era. Mais claras que as colombianas, elas transmitem leveza e jovialidade. Márcia adora peridotos e uma pedra negra conhecida como Feldspatos. Num certo excesso de reverência ao belo, Marcia se curva e deixa de imprimir sua própria marca ao que produz. Mas seu talento merece que o faça. Quem teve um mestre como Mourão deve isso pelo menos à memória dele…

Lucia Lima, ao contrário, é fiel à temática que a lançou: o sincretismo religioso da boa terra baiana. As grandes bolas de ouro nos colares, os medalhões, as figas cravejadas com rubis, as pulseiras de balangandãs absolutamente inacreditáveis, pujantes e cada vez mais ricas, as imagens santas da Igreja Católica… A gente olha e adivinha: “é uma joia de Lucia Lima!”. Agora com parceria de sua filha, Morena, Lucia desbravou e revelou um caminho que hoje tem muitos seguidores. Não deve mesmo deixar de lado o filão que a projetou. Muito bonito o que ela faz. E cada vez mais…

O vizinho à esquerda da vitrine de Lúcia era o jovem joalheiro Antonio Henrique, de Brasília. Ele pratica um trabalho conceitual, entre o exótico, o étnico e a pesquisa histórica de joias da antiguidade. O resultado desse mix é muito atraente. Ele é muito feliz em seu trabalho, particularmente nos anéis, e um deles, dedicado à deusa Shiva, vocês poderão ver num dos quadros abaixo. Bonito o anel “Caramujo”, de ouro, lembrando um generoso seio feminino. Antonio Henrique usa muitas opalas. Tem bom gosto. Uma joalheria poética, a dele…

E lá estava Bia Vasconcelos, com seus estranhos anéis gigantes, pedras que nos intrigam e surpreendem, joias para mulheres e homens que gostam de transgredir. Anéis teatrais, reais, que fazem sonhar com vikings, reis, chefes tribais celtas, extraterrestres e mais o que se puder pensar de diferente e majestoso. Surpreendente e bonito, como é toda a obra de Bia, que também cria óculos que se tornaram itens de elegância imprescindíveis para quem curte moda. Ela desenha as peças e trabalha com diferentes ourives…

Francisca Bastos segue o caminho do classicismo. Suas joias são classudas e elegantes, com pedras brasileiras, para clientes com refinamento e senso de estilo. E não são todas. Seu anel com a tão badalada turmalina Paraíba é de uma grande delicadeza, com a pedra emoldurada por arabescos de brilhantes. Francisca é delicada…

Carlos Rodeiro, da Bahia, veio com sua coleção e uma grande entourage. A cercá-lo, tinha um fotógrafo particular, Fred Pontes, o amigo maquiador Fernando Torquato, a amiga Lucia Cochrane e o agente de imprensa Rafael Freitas, do site Alô-Alô, Bahia. A obra de Rodeiro não perde o sotaque da Boa Terra, mesmo assim vai cada vez mais de encontro à mulher internacional. Brilhante e esmeralda são suas paixões no momento e, para celebrar essa dupla preciosa, o joalheiro fez uma pulseira escrava de ouro branco forrada de brilhantes e salpicada de esmeraldas. Lindo trabalho…

Daniela Norinder veio do México, onde atende by appointment only (só com hora marcada) e tem na sua clientela as mulheres das famílias mais ricas do país (família Carlos Slim, ela conta). Sua vitrine tinha até uma turmalina Paraíba roxa, encravada num anel. Ela explicava ser raridade, pedra extraída da mesma mina da gota turmalina Paraíba de cor néon turquesa, 23 quilates, exibida pendurada numa riviera de brilhantes. Esmeraldas, rubis de Burma, safiras e tanzanita, joias espetaculares, cravações clássicas e pedras de alta qualidade, loucura, loucura. Daniela volta suas vistas do México para o Rio. Que seja muito bem-vinda…

Vanessa Robert faz uma joia minimalista e contemporânea. Seu anel Upgrade valeu a ela um prêmio internacional. Nele, instalado numa monture de ouro, há um brilhante mínimo e de qualidade ímpar. Sobre ele, uma lente de aumento. Para quem olha de cima, com ajuda da lente, o brilhante fica imenso. Ganha um “upgrade”. Uma brincadeira sutil e bem-humorada. Uma interferência inteligente na joia… Vanessa também criou uma pulseira com míni-lâminas redondas de pedras druzas faiscantes. Lindezas. Sua joia é assim. Surpreendente…

Vanessa e Lisi Fracchia dividiam a mesma vitrine. São praticamente almas gêmeas. Sensibilidades bem parecidas. Encanta, no trabalho de Lisi, o olhar minucioso. Sua pulseira Patchwork, também merecedora de prêmio, é qualquer coisa. São “retalhos” de ouro quadrados “costurados” entre eles. Cada retalhinho tem uma “estampa” de ouro diferenciada e delicada. Dá pra ficar minutos, horas mesmo, admirando aquela delicadeza toda. Lisi tem a assessorá-la uma profissional preparada e competente, a Cristiane Paiva Chaves

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As conversas no Joia Brasil eram sobre preços, pedras, catálogos, lapidação, pureza… e até encontrei a dona de uma mina de turmalinas Paraíba em Moçambique. Era Carla Miranda, de Governador Valadares, cuja família detém a Mina Miranda, na África, que tem como seus representantes no Rio de Janeiro a família Sobotka…

O belíssimo estande Sobotka no Joia Brasil tinha só Paraíbas, de todos os formatos, tamanhos, intensidades e preços. E as irmãs tchecas Sobotka, que nos atendiam, são elas mesmas tão preciosas e belas quanto um par de turmalinas da mina de Carla. A turmalina mais cara na sua vitrine custava 700 mil reais, mas estava prestes a chegar uma outra de US$ 1 milhão, com néon ainda mais intenso (a particularidade dessa turmalina é que, no escuro, ela reluz como néon e sua cor é turquesa)… Informação cultural: o que dá a cor e o brilho néon à pedra é a mistura do cobre com o manganês em sua composição…

Na vitrine ao lado, estava a Ucha Valverde, jovem joalheira revelação, exibindo peças cheias de criatividade e ousadia. Inclusive um par de brincos “cocares indígenas”, lembrando leques abertos de pedras coloridas. Muito bonitos. Ucha é talentosa, linda e bem assessorada. Sua press agent é a Nicole Tamborindeguy e, quando se trata de uma Tamborindeguy, vocês sabem, a família inteira apoia. De quebra, também, a “boadrasta” Liliana Rodriguez estava lá dando a maior força….

DSC 0153 Uma tarde digna de Sherazade: na caverna de Ali Herrmann!

A joalheira Ucha Valverde, Anna Clara Herrmann e Shirley Sobotka Vianna

A Sara Joias não é novidadeira. Ela tem o que é bom e ponto. Exibindo uma linda e cristalina turmalina Paraíba quadrada no dedo, com o mais profundo dos tons azuis turquesa, Laja Zylberman mostrou-me as belíssimas joias de brilhantes de sua vitrine, e algumas delas eu reconheci do catálogo da marca estrelado por Antonia Frering. Kika Gama Lobo, a assessora de imprensa, falou-me do link daquela coleção com a Rio+20, daí as flores de bananeira no décor do pequeno espaço, que ficou tão belo e se destacou entre todos.

Nas mostras do Joia Brasil, a Sara é tipo assim o Evandro Castro Lima das joalherias, aquela que sempre merece o prêmio categoria “hors concour” nas feiras e exposições. E mais não preciso dizer… (Agora, explico: Evandro era um desfilante, nos concursos de fantasias de carnaval que não competia, ele desfilava “hors concour”. O que queria dizer que já desfilava com um prêmio especial garantido, pois era tão bom, tão ótimo, tão excepcional, que não dava mesmo pra ninguém competir com ele!)…

diamantes1 Uma tarde digna de Sherazade: na caverna de Ali Herrmann!

Das turmalinas Paraiba à “paraibana” por seu primeiro casamento Kristhel… Não são apenas as joias de Kristkel Byanco que celebram a vida. Ela própria é uma grande celebração. Suas joias exuberantes são uma extensão de sua féerie. Kristhel me explicou que este ano apresentou uma síntese de tudo que já fez, e que não foi pouco. Tudo isso concentrado no pequeno espaço de sua vitrine. Lá estavam, as borboletas, as pedras graúdas, as formas art-nouveau, as sementes fazendo base às flores de ouro, os aneis com pedras grandes, enfim, as formas pródigas e abusadas que caracterizam seu trabalho, bem como suas pedras espetaculares e abundantes, inspirando luxo e poder. Suas joias são voluptuosas como ela própria, que também era mostruário vivo de sua obra…

Kristhel Uma tarde digna de Sherazade: na caverna de Ali Herrmann!

Fotos de Sebastião Marinho

 

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