DEZOITO entidades representativas de diversos segmentos da indústria audiovisual do Brasil lançaram um manifesto de surpresa e preocupação com a notícia veiculada na sexta-feira sobre a morte do Departamento de Economia da Cultura do BNDES, comunicada aos funcionários pelo presidente do banco, sr. Dyogo Oliveira… ELAS ESTRANHAM que a presidência do banco, ao extinguir o departamento de cultura, demonstre desconhecer que a empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers coloca a indústria do entretenimento e lazer cultural entre as três maiores cifras de negócios do mundo – quase US$ 2 trilhões… LEMBRAM QUE a cultura brasileira, mesmo nesse quadro gravíssimo de crise econômica, é um dos setores mais dinâmicos da economia nacional, está em franca expansão, gera quase 1 milhão de empregos e sua participação no PIB é de 1,2% a 2,6%. Sem esquecer sua dimensão simbólica… OS SIGNATÁRIOS concluem, expressando sua confiança de que o BNDES esclarecerá essa notícia e que o Departamento da Economia da Cultura do banco continuará promovendo o desenvolvimento da indústria… EM SUA RESPOSTA, o sr. Dyogo Oliveira só fez acentuar a impressão de desinformação sobre esses fatos, confundindo política de Patrimônio Histórico com política de financiamento à Industria Criativa Cultural… O QUE ISSO SIGNIFICA? Que o BNDES está apenas sendo coerente com o Projeto Novo Brasil – vamos chamá-lo assim – que desmonta o país e aniquila qualquer possibilidade de desenvolvimento intelectual do povo brasileiro, e faz estagnar toda iniciativa que promova a inclusão social… UMA ANIQUILAÇÃO de terra arrasada, um retrocesso, não ao tempo do Governo Getúlio Vargas, com essa “releitura” grosseira de suas CLT, mas à própria Abolição da Escravatura, pois torna os pobres, negros na maioria, reféns do capital e totalmente escravizados pela ausência de instrumentos que promovam alguma justiça social… ESSE PROCESSO vem se desenvolvendo desde o início deste governo, quando foi anunciada a extinção do Ministério da Cultura, ato que só foi revertido após forte posicionamento da classe artística brasileira, em uníssono, ocupando instalações do ministério e exigindo respeito para o setor. Assim, o MinC foi mantido, aos barrancos e trancos, com o atual orçamento pífio… CONCOMITANTE A ISSO, lançaram, logo nas semanas pós impeachment, e aprovaram, uma reforma do ensino básico, em que inicialmente só eram obrigatórios o português e a matemática!… OS ESTUDANTES REAGIRAM, ocuparam escolas públicas, e a nova grade curricular passou a incluir inglês (antes podia-se escolher entre ele e o idioma espanhol, agora, não mais), filosofia, sociologia, artes e educação física, com o foco maior de preparar para o ensino técnico… SEM DISCUTIR com a sociedade, com um conteúdo didático prejudicado, para a revolta e o protesto da sociedade civil, pais, alunos e professores, que pediram a rejeição da Medida Provisória, enquanto antigos ministros da Educação previram, com essa reforma, um grande risco de se ampliarem as desigualdades de oportunidades… DEPOIS, VEIO o corte drástico de recursos para toda e qualquer pesquisa científica. Veio a campanha contra as universidades públicas, reduzindo-se drasticamente seus recursos, e até criminalizando reitores… AGORA, O BNDES, tido c omo “a mãe da cultura brasileira”, tradicional impulsionador da nossa indústria criativa, sai de campo e deixa o setor desguarnecido de patrocínios e financiamentos… FAZ REFLETIR que o que se pretende são novas gerações de brasileiros com nível raso de informação, sem interesses culturais abrangentes, reduzidas à perspectiva de um futuro ensino técnico, quando muito… NADA A ESTRANHAR. Apenas estão sendo sinceros em seus objetivos de desconstruir o Brasil, pois é sabido que “a cultura constrói uma Nação”. Sem cultura, sem ciência e com uma instrução incipiente, o que esperar do Brasil?… ELEMENTAR: UM PAÍS com poucas cabeças pensantes, país vassalo, sem deter patentes, 100% dependente do conhecimento importado… UM BRASIL consumidor da produção cultural estrangeira. Com o setor de audiovisual totalmente dominado por produções em inglês (daí a serventia de falar o idioma?)… E VOLTANDO AO BNDES, colocar na mesma “caixinha” as suas políticas para a preservação do Patrimônio Cultural e as de uma pujante indústria criativa é, perdoe-me dizer, falta de cultura. Ou ojeriza a ela…
e para consumar tamanho obscurantismo, o Museu Nacional arde em chamas, quinze dias depois a publicação desse artigo