O Brasil não conhece o Brasil… fora do Brasil. O obituário de uma designer de moda brasileira desconhecida entre nós, nome de marca internacional de sucesso, considerada influência de estilo de uma época, há uma semana ocupa até página inteira em jornais europeus e norte-americanos.
É uma Cinderela contemporânea. Irmã caçula da também famosa estrela de cinema internacional Florinda Bolkan, Sonia Ribeiro, aos 19 anos, seguiu os rastros da irmã até Roma, onde, fazendo um estágio de vendas na boutique Valentino da Via Condotti, com sua modernidade e seu estilo latino brasileiro, conquistou a atenção da empresária alemã milionária Maria Bogner.
Ato contínuo, Maria a recrutou como modelo para o novo catálogo da sua Bogner Sport e a apresentou a seu filho, Willy, um esquiador e fotógrafo do tiro de 30 anos de idade: paixão!
Diz Willy: “Ela podia não se importar com o esporte, mas vê-la em movimento jogar golfe era uma completa delícia”. Paixão, paixão, paixão!
Ela era uma celebridade no exterior. Quando morreu, na quarta-feira passada, o jornal norte-americano, especializado em moda, WWD, encheu uma página inteira com sua biografia. Era uma estilista do patamar dos grandes, assinava as coleções da marca desportiva de inverno Bogner, inclusive da sua própria marca, a mais luxuosa entre elas, a “Sonia Bogner”, o luxo dos europeus sobretudo, que vivem o inverno e praticam os esportes de inverno. Ela foi a brasileira Sonia Ribeiro, irmã da artista de cinema Florinda Bulcão e levada por ela para Roma, assim que terminou o ensino médio.
Linda que era, foi convidada pelo costureiro Valentino para um estágio no departamento de vendas, em sua loja. A matriarca Bogner, ao vê-la, bela, graciosa, exótica, achou que seria a mulher certa para ser a modelo da marca e para se casar com seu filho de 30 anos, Willy, esquiador olímpico da neve. E não é que foi tudo isso mesmo? Isso e muito mais…
Sonia revelou-se uma notável designer. Deu uma tremenda modernizada no estilo Bogner, até então circunspecto e sóbrio. Ela propôs estampas, deu ao inverno europeu um tom de alegria tropical, impulsionou as vendas e a produção. Foi um casamento feliz em tudo e para sempre. A família sempre unida. O casal envelhecendo junto e feliz. Sorridente. Somando prêmios com sua moda. Quando vinham ao Brasil era com a filha, de nome Florinda como a tia, como fizeram em Réveillon recente, assistindo aos fogos de Copacabana no Edifício Chopin. Porém, a imprensa brasileira de moda não descobriu Sonia Bogner, a irmã de Florinda, tão famosa na moda quanto aquela foi no cinema. Eis que um câncer no fígado levou Sonia há uma semana, em Munique, depois de longo padecimento. Triste despedida. O obituário no jornal americano lembrou suas qualidades e os méritos.
Sonia e Willy casaram-se em clima de muito romantismo, que ele descreve como “um conto de fadas”. Após uma experiência pré-nupcial de seis meses, casaram-se em dezembro na capela do castelo de Mühlfeld, onde Willy tinha seu apartamento de solteiro, em Saarland, na Alemanha. Naquela data, foi a primeira vez na vida em que a brasileira viu a neve, que caiu suave o dia inteiro, como se desse sua bênção e aprovação. Valentino não foi apenas o padrinho. Também criou o vestido da noiva e a majestosa capa com capuz, debruado com pele de raposa branca, dramática. O designer disse, quarta-feira passada, no dia da morte de Sonia: “Era uma grande amiga, uma linda garota, irmã de Florinda Bolkan. Quando se mudou para Roma, lhe demos um emprego na boutique masculina na Via Condotti, onde conquistou a todos com o seu grande sorriso! Ela também conquistou uma cliente especial, a sra. Maria Bogner, que decidiu na hora que ela seria a esposa perfeita para seu filho, Willy! Estou terrivelmente triste. O sorriso dela sempre estará comigo”.
Sonia e Willy deram à sua filha o nome Florinda, da tia também famosa, Florinda Bolkan, a atriz brasileira, que, na década de 70, foi uma estrela da cinematografia italiana Sonia trabalhou lado a lado com o marido Willy, ajudando-o na construção da empresa de roupas esportivas e de moda, com sede em Munique, que a família fundou em 1932. Um comunicado da empresa divulgado à imprensa diz: “Seu estilo singular estabeleceu tendências de moda nacionais e mundiais. Seu calor e charme serão sempre lembrados. Sônia Bogner recentemente atuava como membro do conselho fiscal da Willy Bogner GmbH & Co. KGaA “.
Sonia modernizou a moda esportiva Bogner, conferiu-lhe um toque urbano, jovialidade e charme, e passou a assinar uma marca com seu próprio nome, Sonia Bogner. Recém-casada, ela foi direto trabalhar no negócio da família, como assistente de vendas, em Munique, reunindo-se com um a um dos clientes da Bogner. Mais tarde assumiu o cargo de assistente da sogra, Maria, que na época respondia pela criação da coleção. No ano seguinte, Sonia Bogner viajou para os EUA com o marido para ajudá-lo a lançar a Bogner of America. Em 1979, ela sucedeu sua sogra na direção criativa da coleção feminina. Fluente em cinco idiomas – português, inglês, francês, italiano e alemão – tinha grande comunicabilidade, conversa fácil e incentivou e promoveu um equilíbrio entre a vida profissional e familiar. Quando perguntada o que mais desprezava no mundo, Sonia dizia: “pessoas mentirosas e esnobes”.
Ela era a modelo dos produtos de sua própria marca
Em 1992, enquanto ainda era a principal designer da linha Bogner Woman, Sonia lançou sua própria coleção que incluiu detalhes sutis, como estampas florais e um estilo descontraído. A designer pesquisou a frequência em aeroportos, ruas da cidade, restaurantes, cafés e bares “para ter uma ideia do que as mulheres realmente precisam”. Ela foi a responsável por infundir uma sensação de modernidade urbana ao estilo Bogner, antes essencialmente desportivo. Sonia Bogner deu um toque ainda mais pessoal à sua marca, logo na sua estréia, aparecendo com alguns de seus amigos famosos na campanha publicitária de lançamento, ela mesma como modelo. Seu uniforme não oficial consistia em um blazer, camisa branca e jeans off-hours. Seu lema era: “Toda mulher que conhece a si mesma e se atreve a ser ela mesma é uma cliente da Sônia Bogner”.
Os Bogner eram uma família unida e feliz
Interior da loja Bogner em Saint Moritz. Fundada por Willy pai, a empresa teve os esportes como seu foco inicial e começou a equipar as equipes de esqui na Alemanha Ocidental desde o princípio. A mulher de Willy pai, Maria, revolucionou as calças de esqui, criando estilos esguios e finos. Após a morte do patriarca, em 1977, Sônia e Willy Jr. expandiram-se para outras categorias, introduziram o rótulo Sônia Bogner e a marca Fire + Ice, inspirada no snowboard, e abriram lojas independentes. Com a distribuição em cerca de 35 países e 800 funcionários em todo o mundo, as vendas anuais de Bogner superam US$ 300 milhões.
Uma das lojas Bogner
Os Bogner eram presença constante nas entregas de premiações, como o Prêmio Bambi, em que as suas marcas de moda somam indicações.
Os Bogner costumavam postar nos sites da empresa e em quadros nas lojas, filmes e fotos deles em várias situações, no esqui inclusive – muitas vezes feitos pelo próprio Willy, aclamado diretor de fotografia – para divulgar o desempenho de suas roupas e seu estilo de vida.
Willy e sua filha, Florinda no enterro de Sonia
Nascida no Rio de Janeiro como Sônia Ribeiro, ela deixou o Brasil aos 19 anos, depois de obter o diploma do ensino médio, para se juntar a sua irmã atriz, Florinda Bolkan, em Roma. Mais tarde, ela estudou inglês em Cambridge, de 1971 a 1972, antes de retornar a Roma para um aprendizado de vendas na loja masculina de Valentino, quando foi descoberta e “pescada” por Maria Bogner. Uma vida de Cinderela.
Ela é o marido,também tiveram uma fase de muita tristeza com a perda de um filho já Ele cometeu o suicídio ,deixando os dois muito abalados.Era um casal muito unido .Ele era já rapaz e fora adotado pelo casal ainda bebê.
Realmente muitos não sabiam que Florinda Bolkan tinha uma irmã, não por culpa mas devido a estarem informados pela mídia.
Nossa!…
Eu que me sinto uma privilegiada pela vida por também ter sido uma guerreira, sinto-me pequenina diante dessas grandes histórias de sucesso dessas irmãs.
Gosto de conhecer a história de brasileiras tão grandes e incrivelmente desconhecidas em nosso país. São pessoas iluminadas.
Grata pela reportagem, fonte de conhecimento e informações valiosas sobre nossas conterrâneas ilustres. Fontes de inspiração.
Abraços.
Eliana
Ela também tem outra irmã fantástica, escritora, artista plástica, artista Naïf, entre outros, que se chama Odete Maria Ribeiro Brussolo, residente no Brasil… realmente o Brasil não conhece o Brasil…
Visitem o site http://www.odetebrussolo.com e vejam o currículo dessa grande artista!
Que precioso e criativo percurso da brasileira, que você pode nos oferecer .
Ao inicio de Junho a brasileira Anna Margarida Chagas Bovet também partiu. Desenvolveu um trabalho respeitado na área de Psicologia na Itália e dedicou-se ao canto, com sua agradável voz.
Obrigada pelas palavras de carinho para com minha irmã Sônia.
Que o Cósmico a tenha!
Odete Ribeiro Brussolo
Odete, gostei tanto da estória contada pela Hilde que compartilhei no meu facebook, hoje. Me lembrava de que “a irmã da Florinda Bulcão” tinha tb ido morar na Europa.Mas, nunca mais lí qualquer notícia dela. Apenas lia sobre a Florinda, porque procurava saber dela. Até hoje, assisto Anônimo Veneziano com ela linda e exuberante! Abraço, Gesy Tápias Dabrowska.
ARRASOU , HILDEGARD !
TIRO O CHAPÉU …
SÓ VOCÊ …
romy di vitti
( agente comunicação Florinda Bolkan no Brasil )
Geni, vc é uma linda! Amo vc!
Lalo
Que relato maravilhoso de uma pessoa que fez todo diferencial…!
Cara Hildegard,
Aqui é o país da inversão de valores.
Dá-se valor ao que não tem. Ídolos são jogadores, cantores( de gênero e qualidade musical bem duvidosoa) estrelinhas de novelas e bbbs , Além dos “salvadores” da pátria e “heróis” fabricados pelas mídias, como temos visto nos últimos tempos.
Parabéns pela reportagem. Um abraço..
Realmente Hildegard, grata por nos manter informados…Penso que vivemos uma crise tão imensa aqui dentro, que “esquecemos” de ver o que está ocorrendo “lá fora!’
Gení