O menino Sean Goldman, que fez o Brasil todo chorar por ele, até ser praticamente arrancado de sua família brasileira e levado para morar com seu pai biológico nos Estados Unidos quando tinha oito anos, deu agora sua primeira entrevista à TV americana, que vai ao ar amanhã pela rede NBC…
E o que disse Sean, hoje com 11 anos? “Outros pais podem ser apenas um pai, mas ele é mais do que um pai”. “Ele” é o pai de fato, David Goldman, que muito lutou para ter Sean de volta, mas que deixou aqui má impressão já que líamos nos jornais que, quando David vinha ao Brasil, visitava advogados, consulado, embaixada, menos o filho. Vá entender…
A entrevistou de Sean foi ao programa Dateline. Ele contou que ficou “aterrorizado” diante da multidão de repórteres e da quantidade de câmeras e flashes quando foi levado para o Consulado Americano no colo do pai adotivo João Paulo Lins e Silva. Quem é jornalista sabe que a entrevista pode bem ter sido encaminhada para ele, uma criança, dizer isso. Assim como para ele dizer: “não tenho raiva da família de minha mãe no Brasil, mas tinha medo de perguntar onde estava o meu pai”…
Reprodução Boletim InterNews edição de Eliakim Araujo e Leila Cordeiro
Vamos lembrar da história. Bruna Bianchi, a mãe brasileira de Sean, veio dos EUA em 2004 trazendo o menino para as férias e nunca mais retornou. Divorciou-se aqui de David Goldman, que ficou nos EUA. Bruna morreu no parto do filho de seu segundo casamento com Lins e Silva, e os avós de Sean se recusaram a devolver o garoto ao pai americano, buscando uma solução conciliada, pois o menino estava totalmente adaptado no Brasil e muito apegado à irmã caçula…
A batalha pelo garoto virou um caso político, com envolvimento de Hillary Clinton em favor de Goldman…
No rastro dessa disputa, um grande sofrimento. Em março passado morreu, de câncer no pulmão, aos 65 anos, Raimundo Carneiro Ribeiro Filho, o avô de Sean, inconsolável e implorando para ver o neto até o último minuto de vida. Sem sucesso, a família entrou com pedido na Justiça para que Sean pudesse vir visitá-lo, nem que fosse apenas no hospital…
Raimundo era um avô apegado e carinhoso. Demorei pra saber que ele era ele (só soube ontem), pois o conhecia apenas como Bainho, seu nome artístico. Na juventude, fizemos teatro juntos. Bainho era sempre brincalhão. Estudamos no Conservatório de Teatro, depois fomos do elenco do Teatro Novo. Época em que todo mundo tinha que andar com carteira de identidade na rua, pois estávamos na Ditadura. Bainho certa vez foi parado por um “poliça” e estava sem os documentos, só com a carteirinha do Teatro Novo, com as iniciais TN bem graúdas. E ele, gozador como sempre, deu uma carteirada: “Tá qui, ó: Tulícia Nilitar”. Para espanto de nós todos, o argumento colou! O que foi motivo para darmos boas e gostosas gargalhadas…
Depois, muito jovens e corajosos que éramos todos nós, formamos um grupo mambembe de teatro e embarcamos, aos 18 anos (eu, pelo menos, tinha), num ônibus para ir encenar em Porto Alegre a peça “Berenice“. Eu a Berenice, Bainho o meu galã. O insucesso foi extraordinário…