Por uma ironia do destino, neste 13 de maio, data emblemática da Abolição da Escravatura pela princesa regente Isabel, chefe da Casa Imperial do Brasil, morreu, às 13h40, em sua casa no Jardim Botânico, aqui no Rio de Janeiro, Sua Alteza Imperial e Real a princesa dona Maria Elizabeth Francisca Teresa Josefa de Wittelsbach e Croy-Solre de Orléans e Bragança. A mãe de dom Luiz, herdeiro presuntivo do trono do Brasil, será velada amanhã, na Igreja Matriz de Vassouras, com missa de corpo presente seguida do sepultamento no jazigo da Família Imperial, no Cemitério de Vassouras…
Maria Elisabeth Franziska Theresia Josefa von Wittelsbach und Croy-Solre, princesa da Baviera
Dona Maria Elizabeth, mãe de 12 filhos, era a mulher de dom Pedro Henrique de Orléans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil desde 1921, com a morte de sua avó a princesa Isabel, a Redentora. Nasceu princesa da Baviera, há 99 anos, em 9 de setembro de 1914, no Castelo de Nymphenburg, em Munique, capital do então Reino da Baviera, na Alemanha. Era a segunda filha do príncipe real Franz da Baviera e neta do rei Ludwig III, último monarca reinante da Baviera, e da princesa Isabelle de Croy…
A princesa nasceu no início da Primeira Guerra Mundial em que seu pai combateu. Com o fim da guerra, em função dos regimes que se estabeleceram na Alemanha, ela teve infância e juventude bastante problemáticas, vivendo até a maioridade no Castelo de Sárvar, de sua avó, a rainha Maria Teresa, na Hungria. Sua avó também tinha o título de arquiduquesa da Áustria. Na década de 30, a Família Real Bávara retornou à Baviera, quando o governo republicano foi pressionado a lhe devolver grande parte dos bens e Castelos que lhes foram confiscados em 1918…
Dona Maria Elizabeth, neta do rei Ludwig III, era da Casa Real de Wittelsbach, a mesma da Imperatriz Sissi
A princesinha Maria Elizabeth viveu os tempos duros na Alemanha entre as duas Grandes Guerras Mundiais (1918-1938), com a Grande Depressão de 1929 e a ascensão dos nazistas no governo alemão. Ela viu o quanto custou caro à sua família o fato de seu tio, o príncipe Rodolfo, Chefe da Casa Real da Baviera, ter se declarado inimigo de Hitler. Eles foram obrigados a fugir para a Itália, mas não escaparam de episódios trágicos como o da princesa Antonieta de Luxemburgo, mulher do príncipe Rupprecht, capturada e torturada barbaramente pelos nazistas. Com a saúde debilitada pelas sequelas da tortura, ela morreu alguns anos depois…
Fotografia oficial do casamento dos príncipes Maria Elizabeth e Pedro Henrique
Dona Maria era pintora, especializada em porcelanas, arte tradicional da Baviera, a que continuou a se dedicar em seus anos no Brasil, a partir de 1937, quando se casou com o príncipe dom Pedro Henrique de Orléans e Bragança, passando a também ser princesa do Brasil. O casamento foi no mesmo castelo de Nyphenburg em que ela nasceu, o que foi visto como um gesto de bravura e confronto do duque da Baviera contra o governo nazista. Afinal, além de vários chefes de Casas Reais da Europa, compareceram dois soberanos: a grã-duquesa Charlotte I de Luxemburgo e o rei espanhol Alfonso XIII, exilado devido à Guerra Civil Espanhola. Pior, e o que deve ter doído mais ao pessoal de Hitler: nenhum membro do governo nazista foi convidado!…
A intenção do jovem casal era se mudar logo para o Brasil, mas, com a Segunda Guerra Mundial, a viagem pelo Oceano Atlântico se tornou muito perigosa e eles ficaram impedidos de viajar, permanecendo na Europa. Na França, nasceram seus quatro primeiros filhos: príncipes Luiz, Eudes, Bertrand e Isabel. Porém, muito perseguida pelo então governo de Vichy, fantoche da Alemanha Nazista, a família se refugiou na Suiça, embarcando para o Brasil só em 1945, com o fim da guerra…

A mulher de dom Pedro Henrique, princesa dona Maria de Wittelsbach, e a filha dona Isabel Maria de Orléans e Bragança, em 1946
Primeiro, eles moraram no Palácio do Grão-Pará, depois em uma casa no bairro do Retiro, ambos em Petrópolis. Finalmente se mudaram para o interior do Paraná, na Fazenda Santa Maria, comprada em 1951 por dom Pedro Henrique, onde viveram até 1964. No período paranaense, dona Maria foi voluntária catequista, participando da formação cristã de crianças carentes das comunidade rurais de Jacarezinho…
Dom Pedro Henrique e dona Maria Elizabeth viveram na França e na Suíça até poderem se mudar para o Brasil
Em 1965, a Família Imperial voltou para o Rio de Janeiro, indo morar no Sítio Santa Maria, em Vassouras. Nessa mesma época, dom Pedro Henrique, dona Maria e todos os filhos foram acolhidos, por um período, por Horácio e Lily de Carvalho, que lhes emprestaram uma das fazendas de sua propriedades. E Lily contava de sua admiração pela princesa, que, com dificuldade e muita bravura, criou seus filhos. Lily se lembrava da vez em que foi visitá-la na fazenda, e dona Maria Elizabeth Francisca Teresa Josefa de Wittelsbach e Croy-Solre de Orléans e Bragança, ao lhe abrir, ela mesma, a porta, tinha numa das mãos uma vassoura, pois cuidava, ela própria de limpar o imenso casarão. Sem perder a altivez e a nobreza, dona Maria convidou Lily para entrar, serviu-lhe um chá e conversaram, passando juntas horas amenas e elegantes, numa tarde para Lily inesquecível…
Dona Maria da Baviera, como era conhecida, com dom Antonio, dona Cristina e os filhos, no pátio da Glória do Outeiro, na missa de ação de graças pelos seus 90 anos
Em 1981, com a morte de dom Pedro Henrique, dona Maria passou a se dividir entre a fazenda Santa Maria e o apartamento da filha, Isabel, no Jardim Botânico, onde atuava voluntariamente como professora de artes plásticas na Ong O Sol, de apoio ao artesão. A princesa dona Maria, durante toda sua vida, trabalhou em prol dos necessitados, sempre de modo discreto, isto é: sincero…
Uma de suas alegrias era visitar, na Bélgica, sua filha, a princesa dona Eleonora, desde 1981 casada com o príncipe Michel de Ligne…

Princesa Dona Maria
Dona Maria Elizabeth também era mãe dos príncipes dom Pedro de Alcântara, dom Fernando Diniz de Orléans e Bragança, dom Antônio João, dom Francisco, dom Alberto de Orléans e Bragança, e as princesas gêmeas Maria Thereza e Maria Gabriela, todos felizmente vivos. Ela também deixou 29 netos e 9 bisnetos.
Em 2004, tive a oportunidade de cobrir a celebração dos 90 anos de dona Maria, promovida pela Familia Imperial, com missa de ação de graças na Igreja Nossa Senhora da Glória do Outeiro, celebrada pelo abade dom José Palmeiro e co-celebrada pelo padre Sérgio Costa Couto, capelão do Outeiro, e padre Jorjão. Presentes, todos os 12 filhos, os netos além de parentes nobres europeus e monarquistas de todo o país…
A princesa com seu filho, príncipe dom Luiz, Chefe da Casa Imperial do Brasil
Sua Alteza Imperial e Real Maria Elizabeth de Wittelsbach de Orléans e Bragança tinha um colar de títulos: Princesa da Baviera, Princesa do Brasil, “De Jure” Imperatriz Consorte do Brasil (1937 a 1981), Dama das Ordens de Santa Isabel e de Santa Teresa e da Baviera, Dama Grã-Cruz de Justiça de todas as Ordens Imperiais Brasileiras, Dama Grã-Cruz da Ordem Constantiniana de São Jorge, da Realeza Napolitana…
O Circulo Monárquico do Rio de Janeiro, que tinha um especial carinho por ela, está abalado e triste, e pede orações para a princesa e a Família Imperial neste luto…
Sua Alteza Imperial e Real princesa dona Maria Elizabeth de Orléans e Bragança cercada pelos 12 filhos