O ator Ary Fontoura é um patrimônio de talento, seriedade, competência, correção. Um privilégio para nossas artes: aplausos de pé!
Há uma tendência no público, que assiste às novelas e na imprensa que a cobre, de concentrar sua atenção e seus comentários apenas nos protagonistas das tramas principais. Assim, ou falam do desempenho do Félix ou da Valdirene ou do César e vamos ficando por aí.
Perdem-se, nesse ciclo repetitivo, registros de atuações soberbas e o devido reconhecimento a grandes artistas, aos quais as artes cênicas de nosso país muito devem, como é o caso de Ary Fontoura.
“Um ator confiável” é a definição perfeita para ele. Tê-lo num elenco é um sossego pra qualquer autor ou diretor. Dá conta do recado de todo e qualquer personagem. E com maestria!
Incorporados na tela da TV por Ary Fontoura, seus personagens tornam-se, automaticamente, inesquecíveis. Assim foi com o avarento seu Nonô, de Amor com amor se paga; o Ubirajara Martins, de Dancin’ Days; o prefeito Florindo Abelha, em Roque Santeiro; o Silveirinha, de A favorita; o autoritário coronel Artur da Tapitanga, em Tieta; o Pitágoras, deputado corrupto, de A indomada.
Mas o personagem mais marcante, para mim, de Ary Fontoura, foi o vivido por ele na peça Alice no País Divino–Maravilhoso, de Paulo Afonso Grisolli e Sidney Miller, no Teatro Casa Grande.
Suzana Faini, Tamara Taxman, a Dudu, depois Dudu das Frenéticas, eu, tínhamos todas 18 anos ou em torno disso, e dividíamos personagens, já que Grisolli e Sidney nos testaram para os papéis de Alice e de Rainha, porém, generosamente indecisos, acabaram loteando as personagens entre todas nós, sem dispensar ninguém!
Assim, Alices havia cinco (a principal era a Tetê Medina) e Rainhas éramos quatro, que passávamos o tempo todo embaladas dentro de um saco branco de pano, com o Ary Fontoura em pé no meio, brotando de dentro dele (acho que era a Lagarta).
De vez em quando, uma de nós punha a cabeça de fora, apontava o dedo na direção de uma das Alices e berrava: “Cortem-lhe a cabeça!”. Era o nosso texto. E o Ary, moleque, volta e meia dava uma chutadinha, lá dentro, nas rainhas encolhidas.
Dentro desse espírito democrático de divisão do papel, que tanto reduziu nossas falas e nossa participação, dividíamos também o camarim divertidíssimo, onde passávamos horas diante do espelho, como se nos preparássemos para ser Lady Macbeth, e não rainhas ensacadas.
Na hora de limpar a maquiagem, depois do espetáculo, era o mesmo frege.
Então que acontecia a melhor parte da festa. A grande performance do Ary Fontoura, quando ele, com sua ironia, encostava-se no alisar da porta e anunciava: “Meninas, o coronel paulista chegou!”.
O “coronel paulista” em questão era o meu atual marido, o Francis, então com 25 anos, mas já começando a calva, e com uma Mercedes bordô, modelo antigo, com placa de São Paulo. Naquele tempo, ter uma Mercedes, mesmo que de modelo velho, era o ó do bobó. Donde meu jovem namorador ralador foi logo promovido pelo Ary a “coronel paulista”.
Hoje, todas as vezes que nós dois encontramos o ator, nos referimos a isso e rimos muito.
Tudo isso pra lhe dizer, Ary, que ontem, em Amor à vida, você mais uma vez mereceu aplausos de pé e bis. O capítulo foi todo seu. E tantos outros capítulos já havidos, desta e das muitas outras novelas de que participou.
Parabéns à emissora pelo privilégio de tê-lo em seu elenco, aos autores e diretores pela sorte de poderem escalá-lo e aos seus colegas, que contracenam com um ator talentoso, correto e firme, que troca emoções, sem cometer manhas, rasteiras nem subterfúgios.
PS: Manhas, tentativas de rasteiras e subterfúgios rolam demais por trás dos panos das ribaltas, das câmeras das TVs e dos filmes, onde as vaidades se sobrepõem, vocês é que não ficam sabendo…
Pois é, em meio a tantas celebridades, ainda há atores do quilate de Ary Fontoura e Elisabeth Savala!
Tem cenas em que atores experientes estão tão canastrões, que dão vergonha a quem está assistindo. Pelo amor de Deus, se não acreditam no que fazem – e deus sabe como ator de novela tem que falar bobagens – é melhor procurar outros papéis, outros canais… De toda forma, desculpa ai, Hildegard, mas essa novela é bem ruinzinha.
Ainda bem que ainda sobraram meia dúzia de bons atores que atuam ainda – pena com papéis secundários -, como Ary, Savala, Rosamaria Murtinho e Nathalia Timberg.
Viva Ary!
Ary é um show de ator! Também tive o privilégio de conviver com ele no back-stage, era 1970, “Tem banana na banda” no Teatro Poeira de Ipanema, revista ipanemense com Leila Diniz e trupe… No espetáculo, ele arrebentava nos quadros de humor e especialmente cantando o bolero “Nos Otros”, primorosamente. Ary é cantor com discos gravados no Paraná, sua cidade. Sim, completamente confiável pq sua competência de talento nascido no palco, arrasa toda e qualquer novela. Na primeira versão de “Saramandaia” (1976) foi o Lobisomen inesquecível. E tantas e tantas…Bravo, Ary!