Histórias de uma certa Dinéia é o nome do primeiro livro de Edméia Machado, lançado por ela para um grupo de amigas, durante almoço na Argumento do Leblon. Histórias de gente que conhecemos contadas por uma até agora desconhecida. Entre as pessoas citadas está Zuzu Angel, com quem Edméia trabalhou oito anos e de quem foi amiga até a morte da estilista. Histórias jamais contadas…
Dinéia, como era chamada Edméia quando criança, reúne suas lembranças de vida em pequenos capítulos. Um deles é dedicado exclusivamente a Zuzu, a quem Edméia chegou através de um anúncio publicado no jornal pela costureira, à procura de uma pessoa para chulear as roupas em seu atelier. E quem recebeu Dinéia, no portão da casa da Rua Nascimento Silva, foi Stuart Angel, o filho de Zuzu, naquele tempo longínquo em que os estilistas atendiam (e produziam) em suas próprias casas…
Para ela, Zuzu era dona Zuleika. Para depois se tornar simplesmente Zuleika, pois esta jamais mantinha distância de seus funcionários. Pelo contrário, diz Dinéia: “Conto no livro passagens difíceis da minha vida em que Zuzu me ajudou muito. Ela era uma grande pessoa humana, de bondade extrema”…
Dois desses momentos, ela conta aqui. Certa vez, grávida, Dinéia, seguia no fusca com Zuzu Angel, para fazer uma entrega de roupa, quando passaram em frente a uma padaria e Dinéia lançou um olhar comprido para os frangos que giravam na assadeira. Foi o bastante. Mais tarde, já em casa, Dinéia recebeu a visita de Zuleika, levando para ela um frango assado, embrulhado em papel pardo, pois afinal de contas “mulher grávida não pode ter desejo contrariado”…
Era o ano de 66 e uma grande enchente tomava conta do Rio de Janeiro. Edméia e a família, que moravam no Parque Proletário (onde hoje há a Selva de Pedra), tiveram que sair de casa para se abrigar na casa de parentes. Ela avisou à patroa que não poderia ir ao trabalho. Momentos depois, chegava Zuzu, a bordo de seu fusca, levando panelas cheias de alimentos já preparados e quentinhos, feijão, arroz, água. E ainda teve mais: um bebê, sobrinho de Dinéia, passava mal naquele exato momento. Diante do desespero da família, Zuzu, mesmo cheia de compromissos, não pensou duas vezes: colocou a criança e os pais dentro do carro e saiu em busca de um hospital…
“Ela só voltou quando, muito tempo depois, conseguiu internação para o meu sobrinho. Infelizmente, era grave e ele não sobreviveu, mas ninguém jamais esqueceu aquele gesto solidário daquela mulher”….
São muitas histórias, muitas lembranças. Algumas nem estão no livro, mas Edméia se recorda. Como, quando Zuzu pedia para ela procurar sua filha caçula, que havia saído sem dizer pra onde. Essa filha “fujona” era essa jornalista que vos fala…
A última vez em que se viram foi 15 dias antes da morte de Zuzu, com quem Edméia não trabalhava mais, porém continuavam amigas. Dinéia passava com o marido de carro e, ao avistar Zuzu no carro dela, acenou. Percebeu, então, que Zuzu botou o pé no acelerador e sumiu. O que não era de seu estilo, pois sempre conduzia muito cuidadosamente…
Estranhando, Edméia e o marido a seguiram até em casa. Só ao identificá-los, Zuzu contou que vinha sendo seguida, por conta de sua denúncia do desaparecimento de seu filho, Stuart. “Ela me entregou uma foto dele, fez uma dedicatória e me disse que um dia alguém teria que dar conta do corpo do Tuti. Quinze dias depois, ela morreu”, lembra emocionada…
Essas e muitas outras histórias estão reunidas no livro. Saiba um pouco mais de histórias reais, contadas por Edméia, que sábado completou 73 anos. Uma pessoa simples e anônima que também faz parte da História…
Fotos de Sebastião Marinho