Meninas e meninos, cheguei! Cheguei em Milão, via Lisboa, e no avião da conexão da TAP já fiquei sabendo das últimas das terras lusas, através dos jornais a bordo….
Manchete do Diário de Notícias: Jovens adultos processam os pais por pensão… Isso mesmo, caros meus, os filhos portugueses maiores de 18 estão levando os pais às barras dos tribunais, exigindo que lhes custeiem a vida e os estudos até a sua completa formação acadêmica. E estão vencendo todas! A maior parte deles processa os pais estimulada pelas mães, que não acham justo que, por terem chegado aos 18, os filhos não possam concluir suas faculdades, por não terem mais a pensão do papai…
Assim como no Brasil, em Portugal é comum filhos adultos continuarem a viver em casa dos pais até se casarem ou até tomarem seu rumo profissional…
Outra do jornal português: foi criada a primeira organização criminal dentro das cadeias portuguesas! Trata-se do PCP, Primeiro Comando de Portugal, que, de dentro dos presídios, comanda ações externas. Ideia de quem? Dos brasileiros bandidos, naturalmente. No momento, em Portugal, há 2.200 no xilindró, sendo que mais de 300 deles são brasileiros. Número que já dá um bom caldo, né?…
Desembarquei em Milão ontem, num dia de clima ameno, mangas de camisa, sol fulgurante, a cidade linda em plena efervescência da eleição do novo prefeito. E à noite já se tinha os primeiros resultados: Berlusconi perdeu o seu quartel-general na Itália! Milão lhe virou as costas, dando 48% dos votos para a esquerda. A candidata de Berlusconi, a atual “síndica” da cidade, a direitista Letizia Moratti, teve apenas 41% dos votos. Os Moratti são uma dinastia na Itália. São donos de tudo, até do Inter de Milão. Mas na própria família rola uma eterna guerra de mulheres. A cunhada de Letizia, Milly Moratti, é de esquerda, e também política. E toda a vida lutou contra Letizia. Milly deve estar estourando espumantes!…
Mas, como aqui também tem segundo turno, ainda não se chegou ao último round. Vamos ver qual cunhada que vence essa queda de braço…
E ainda fazia dia claro quando saí, montada em meus paetês da Santa-Ephygênia, rumo àquela que é considerada, por unanimidade, a residência mais bonita de Milão. O único hôtel particulier da cidade. Lá, fui homenageada com um jantar pela anfitriã Silvia Sodis, uma mulher elegantíssima, a quem Valentino dedicou seu livro de coleções. Silvia era sua maior cliente. Há 10 anos, quando ainda não era viúva, ela me recebeu pela primeira vez, também para um jantar em minha homenagem, de maneira descontraída e inteligente: pés descalços para contrastar com o luxo extremo da casa, e depois foi para a cozinha, pois ela própria preparou o risoto magnífico…
Desta vez, Silvia estava calçada, usando um terno cor de pérola e colar de três voltas de contas de marfim, sem um pingo de make-up, e quem preparou o jantar foi seu chef. Fomos recebidos pelo casal de copeiros do Sri Lanka, ambos lindos e com luvas brancas, e não pude fotografá-los porque agora as seguradoras não pagam os prêmios, em caso de roubo, se as fotos das residências são publicadas. Por isso, meus amores, desta vez, vocês não verão a magnífica casa decorada por Mongiardino, o melhor decorador do mundo, que já não está mais entre nós, foi decorar a casa de São Pedro in loco, mas deixou por aqui trabalhos magníficos, como esta casa de Silvia e a do falecido Gianni Versace…
Na subida da escada, reconheço os contornos do corrimão de mármore de Carrara, todo rendado, que é reproduzido pelo pintor futurista Balla, em um quadro famoso que está no Metropolitan Museum, retratando três mulheres, em seus longos vestidos que descem degraus abaaaaixo… E eu, vestindo minha pantalona, sem usar cauda para escorregar naquela escadaria, que lástima! Se eu soubesse teria ido de longo, ai, ai, ai…
Logo na primeira sala, as paredes são cobertas por tromp l’oeils de fragmentos de monumentos greco-romanos, enquanto sobre as mesas maravilhosas e os aparadores estão as verdadeiras preciosidades greco-romanas, como um busto datato de 1.050 Antes de Cristo. Isso mesmo, meus amores, ANTES de Cristo!!!…
Silvia também possui a mais importante coleção de Canalettos. A casa é toda um sonho, os salões se sucedem com as paredes forradas com tecidos adamascados venezianos, que se repetem nos estofados, as cortinas de seda pura, os lustres de Baccarat impressionantes, e também os de Murano, e a sala de jantar com as paredes todas cobertas por pratos autênticos do Palácio de Versailles, de 1.700. E muita chinoiserie, biombos, porcelanas, mobiliário, tudo autêntico, um verdadeiro museu!…
Presentes, o sócio de Bill Gates na Itália, Roberto Paolucci, com a mulher – e aliás o próprio Bill Gates também já foi várias vezes jantar em casa de Silvia…
Por falar em jantar, vamos direto a ele, onde o primeiro prato foi servido em porcelana; as carnes e as sobremesas foram servidos em pratos de prata bicentenários com brasão de um duque francês. Pratos de pratas, como usava-se servir a comida na época. A única que fez isso nos salões do Rio de Janeiro foi Lily Marinho, que, para receber 300 pessoas em seu jantar no Cosme Velho, celebrando o bicentenário da chegada de Dom João VI ao Brasil, serviu a todos em sua coleção de pratos de prata, que depois passou interinha pelo martelo da leiloeira Soraia Cals…
Entre os demais comensais do jantar de Silvia, os embaixadores Solange e Luiz Henrique da Fonseca, nosso cônsul-geral em Milão, o empresário Mauro Gardenghi com sua bela Elsa, num Valentino preto haute couture. Uma blusa linda, com mangas amplas, transparente, mas com bordados estratégicos…
Pequenos detalhes de sofisticação: a água servida à mesa era água de limão, aromatizada. O vinho, à sobremesa, era vinho santo, da produção de uns amigos da Sodis, lá da Toscana. O champagne foi servido, não em taças ou em flütes, mas em pequenos copos venezianos de cor verde escura, com a borda de ouro com desenhos de uvas…
E, para completar os bons momentos, a própria dona da casa, com sua voz modulada e muito afinada, cantou, sem qualquer acompanhamento, sentada ao sofá entre os convidados, canções clássicas napolitanas, conseguindo sobrepujar aquele inacreditável espaço de pura beleza com a vibração de sua legitimidade e de seu encanto. A voz suave de Silvia enchia o ambiente, ofuscando até o fabuloso teto de afrescos na madeira, as gotas rutilantes do Baccarat e os Laliques preciosos…
A foto está péssima, mas só para vocês verem que não estou mentindo: aí estão Elsa Gardeghi, Silvia Sodis e a signora Paolucci (Microsoft), no palácio com paredes adamascadas de Veneza (e eu cortei o Canaletto acima do sofá, porque senão a Seguradora não paga)
Olha eu aí com o embaixador Luiz Henrique da Fonseca, outra foto péssima, uma pena, mas quem bateu foi o Mauro Gardenghi, não eu (ficaria pior!!!)
Roberto Paolucci e a embaixatriz Solange Greco da Fonseca