Nesses tempos nossos, em que difícil é distinguir um patrimônio construído com dignidade, suor e trabalho daqueles acumulados às custas de conchavos, tráfico de influência e corrupção, sinceramente, encho-me de entusiasmo para falar de um brasileiro raro. Daquele tipo que, durante toda a sua vida de empresário, acreditou em decência, qualidade profissional e bons princípios éticos. Acreditou e professou…
Os que têm mais de 50 anos lembram-se bem do nome H. C. Cordeiro Guerra. Era a maior e mais conceituada construtora do Rio de Janeiro, nos anos 50, 60 e 70, sobretudo pela beleza e a qualidade de suas edificações. E as obras eram entregues no prazo, o que na época era um grande feito e até hoje poucas conseguem cumprir. A H. C. Cordeiro Guerra era uma marca de respeito. Entre tantas realizações que acrescentaram ao desenvolvimento de nossa cidade, o empreendimento no local do antigo Cassino Atlântico, hoje Sofitel, foi uma iniciativa dessa empresa, projeto depois repassado para um sócio minoritário…
Essa excelência e a fidalguia profissional da empresa apenas refletiam a personalidade de seu acionista majoritário, o engenheiro Henrique Cristino Cordeiro Guerra, ele sim um homem de grande qualidade pessoal. Professor da antiga Escola Nacional de Engenharia, em 1951 deixou de lecionar construção civil e arquitetura para se dedicar integralmente à sua empresa, que já fundara em 1939. Um trabalho obstinado, que o obrigava a chegar em casa para jantar apenas às 10 da noite. Bom patrão, impunha-se pagar aos seus empregados domésticos multa por cada hora sua de atraso para a refeição (que era servida à francesa)…
Sua empresa, inicialmente uma firma individual, depois companhia limitada, foi a primeira do setor da construção civil e empreendimentos imobiliários a abrir o seu capital no Brasil nos anos 70, tornando-se uma S.A., estrutura compreendendo mais de mil profissionais, entre engenheiros, arquitetos, advogados, economistas e técnicos, além de centenas de operários…
Foram mais de uma centena de prédios residenciais e comerciais construídos por essa equipe, que se orgulhava de pertencer à H. C. Cordeiro Guerra, bastando uma menção do nome da empresa para distinguir e credenciar qualquer um de seus profissionais…
Ao longo de sua vida foi, também, fundador e presidente de outras empresas ligadas ao ramo imobiliário, além de acionista e conselheiro do antigo Banco Irmãos Guimarães...
Henrique Christino Cordeiro Guerra trabalhou até os seus últimos dias em seu escritório no Centro do Rio de Janeiro e faleceu, hoje, por falência múltipla, às vésperas dos 98 anos, sempre cercado do carinho dos filhos, Ricardo Villemor Cordeiro Guerra e Rosina Villemor Cordeiro Guerra, netos e bisnetos. Os mais próximos iam visitá-lo, ao fim das tardes, no apartamento da Av. Atlântica, no prédio construído por ele, quando dr. Henrique não abria mão de dois dedos de seu “rótulo preto” ao lado dos amigos. E sempre com bom humor e informado sobre tudo, pronto a discutir os problemas nacionais do presente, do passado e do futuro…
Um mês antes de sua morte, Henrique Cristino foi indicado, pelo Clube de Engenharia, para o Prêmio Internacional Excelência em Engenharia de Edificações da World Federation of Engeneering Organizations – Federação Mundial das Organizações de Engenharia / Femoi, vinculada à Unesco…
Antes de ficar doente, tomou medidas para, mesmo depois de sua morte, ajudar no futuro dos que o serviam…
Um homem exemplar…
Homem sempre discreto, certamente o empresário Henrique Cristino Cordeiro Guerra não aprovaria a publicação de uma foto sua com esse grande destaque, como faço agora. Mas não resisti, quando encontrei esta, em meu arquivo: dr. Henrique, muito elegante, de fraque, no casamento de um dos netos. Um brasileiro patriota, um empresário honesto e digno. Merece o destaque…
Boa tarde,
gostaria de saber se você tem mais alguma informação sobre essa família, Especialmente sobre seus pais e seus irmãos. Obrigado
Bom dia!
gostaria de saber se esta construtora ainda existe no Rio de Janeiro, ou se ela
encontra-se com outro nome.
Antenciosamente,
Romildo Assis