A primeira página nos jornais do país dá espaço ao jornalista americano degolado pela Lei Islâmica. Fossemos dar primeira página aos degolados pela Lei da Milícia e a Lei do Tráfico, na Baixada Fluminense, faltariam jornais no Brasil.
Ninguém conta, ninguém comenta, ninguém sabe, ninguém viu nada. A mídia cheirosa se omite completamente.
A população da Baixada Fluminense, apavorada com seu cotidiano de horrores, emudece paralisada diante das cenas dantescas a que é obrigada a assistir diariamente, em frente de suas casas, de ruas sem asfalto e muitas vezes também sem saneamento básico.
Ao lado do esgoto, que escorre a céu aberto, as pessoas de bem testemunham serem arrastados pelas pick ups corpos de sacrificados pela milícia e pelo tráfico, com braços estendidos como crucificados, muitos deles degolados.
Cabeças são expostas como troféus. Exemplos para os que ousem desafiar o poder da maldade sem limite dos grupos organizados, que se fortalecem naquele território da Baixada e se alastram por todo o Estado do Rio de Janeiro.
A Zona Sul finge ser uma Ilha da Fantasia. Sitiada, ela faz como o pai que é cego e não quer ver a realidade em algumas comunidades à sua volta.
No IML de Posse, distrito de Nova Iguaçu, mães se debruçam em desespero sobre corpos de jovens estraçalhados, decepados, de seus filhos mortos de maneira medieval. Transpassados por espetos de churrasco desde o rosto, empalados, desfigurados, irreconhecíveis. Mas coração de mãe não se engana…
São corpos e corpos e corpos.
Funcionários há que, habituados ao dia à dia da barbárie, ainda tratam os familiares com indiferença e agressividade. Não há espaço para a compaixão.
Não são corpos apenas de “pretos e pobres”. São também, e muito, dos brancos da classe média, talvez até ricos, bem vestidos. As famílias chegam, algumas em seus automóveis, e o que vem depois é a Lei do Silêncio.
Quem falar será a próxima vítima.
É tempo de eleição. Vamos refletir sobre isso.
A questão da segurança no estado, se não houver uma ação social efetiva, é como enxugar gelo, já disse o Beltrame. Porém, já foi muito pior. Houve um tempo em que nem sair às ruas podíamos, agora já podemos.
Por pior que seja o quadro, e por incrível que pareça, as coisas melhoram.
São 800 mil pessoas libertas do tráfico em comunidades cariocas, onde foram instaladas as UPPs. Esta é uma luta que não pode ser interrompida.
Vamos refletir que não é com leniência e com governantes sem políticas efetivas para a Segurança Pública que o Estado do Rio de Janeiro manterá o atual ritmo de crescimento e melhoria do bem estar.
Infelizmente eu vivo nesse lugar e posso dizer que, em vez de orgulho, hoje eu sinto um vazio muito grande no coração e na alma.
Abandono, mágoa, nojo da falta de humanidade como nós somos tratados pelo poder público e por nós mesmos.
Viramos estatísticas de jornais sensacionalistas, que só se importam se a tragédia e a dor das famílias forem grande o suficiente para aumentar os índices de audiência.