PRÊMIO CESGRANRIO DE TEATRO, COMPETÊNCIA PRA OSCAR ALGUM BOTAR DEFEITO

O Rio de Janeiro viveu ontem noite de esplendor. Magnífica. Era a concretização de mais um dos muitos projetos de um sonhador notável:  a entrega do I Prêmio Cesgranrio de Teatro. Foram 300 mil reais em prêmios distribuídos, 25 mil reais a cada um dos contemplados. Generosidade inédita na História do Teatro Brasileiro. Dois dos maiores nomes de nossa cena apresentaram com brilho para Oscar algum botar defeito: Miguel Falabella e Marília Pêra. E a direção de cena impecável de Jacqueline Laurence.

Para entregarem as esculturas-troféus aos vencedores, vimos um desfilar de estrelas raro de acontecer num palco: Ney Latorraca, Cissa Guimarães, Daniel Filho, Luiz Fernando Guimarães, Bárbara Paz…

Como vencedores, o ritual estelar se repetiu, com nomes notáveis da cena teatral, como Zezé Polessa, Daniel Dantas, José Dias. As fotos de hoje no meu blog contam.

Eles não foram os grandes premiados. Fomos nós, os brasileiros que amamos teatro. Foi o teatro nacional. Foi a cultura como um todo.

De fato, não foram eles os principais dignos de aplausos da noite. Foi o grande empreendedor que pensou e tornou realidade aquilo tudo e que, na ocasião, anunciou que está construindo, para entregar à cidade, dois teatros com projeto do grande José Dias: um com 750 lugares, no campus da Fundação Cesgranrio, e outro com 350.

Sonhadores, conheço inúmeros. Realizadores são vários. Visionários, muito poucos. Quem some os três atributos, apenas um: Carlos Alberto Serpa.

Para os americanos, a Humanidade se divide a grosso modo: winners e loosers – vencedores e perdedores. Simples assim. Sem meios tons ou nuances. Fosse americano, Serpa estaria a encabeçar nas universidades a galeria dos vencedores a serem observados, seguidos e estudados como exemplo de inteligência, método, foco e obstinação.

Com um diferencial: é múltiplo. O que torna bem mais significativo o seu mérito.
Dura é a vida dos multivocacionados. Via de regra se perdem pelo caminho das incontáveis seduções, da atração por encantos diferenciados.

Fugindo a essa regra, Serpa, ao longo de sua vida, foi e vai cumprindo cada um dos seus objetivos e gostos, um por um, com sucesso, construindo, concluindo, somando, dando continuidade, sem nada deixar pelo caminho.

Fascinado pelas artes plásticas, inaugurou muito bem sucedida galeria de arte em Ipanema, na Praça General Osório, no auge do boom as bolsas de arte. Teruz, Sigaud, Cícero Dias, Volpi, Scliar, Agostinelli, Bruno Giorgi, Ceschiatti, Ascânio eram os artistas disputados naqueles anos 70, em que poucos souberam ser, proprietário e marchand, o Serpa. Pensavam que era Hélio Fraga, na verdade, diretor da galeria, contratado por ele, que preferia manter o perfil baixo, mais voltado àquela época para suas atividades de educador.

Com isso, Carlos Alberto reuniu uma bela e invejável coleção particular.

Jovem educador de grandes e notáveis ideias. Criou os vestibulares unificados do Cesgranrio, hoje uma poderosa fundação, que no ano passado lotou o mesmo Golden Room com 400 educadores, na celebração de seus 40 anos. Graças aos projetos educacionais, provas e aferições da Fundação Cesgranrio, 75 milhões (!) de estudantes brasileiros, nas últimas quatro décadas, tiveram suas vidas transformadas. A Cesgranrio é uma entidade redentora através da educação.

Aficionado das antiguidades, paixão herdada de sua mãe, tornou-se um dos maiores especialistas do tema no país. Formou um corpo de técnicos no assunto. Por longo tempo, teve um dos mais belos antiquários do Rio, no Shopping Cassino Atlântico.  Promoveu a primeira feira de antiguidades do Rio. Formou restauradores. E detém um acervo absolutamente extraordinário.

O teatro e a moda foram amores despertados de modo simultâneo, lá atrás, há 20 anos, quando, como antiquário, participou da cenografia da mostra A Moda de Jacqueline Bouvier Kennedy Onassis, no Palácio da Cidade, e à mesma época cedeu  mobiliário e objetos de cena à montagem da peça As regras do jogo, de Noel Coward.

Então, assistindo aos ensaios, participando do after espetáculos, das esticadas com os atores e o produtor, respirando a essência dos bastidores, coxias, bem, naquele exato momento de suas vidas, no Terezão (Teatro Tereza Rachel), Serpa e Beth (pois, quando penso nele, Beth está sempre ao lado, doce e presente), o casal foi devidamente picado e contaminado pela mosca do teatro.

Com a criação da Casa de Cultura e Arte Julieta de Serpa, ele reuniu lá, em diversos ambientes, seus muitos amores. As artes plásticas, com exposições de arte; as antiguidades, com a exposição permanente do acervo; a gastronomia, uma das recentes vocações, que o levou a formar, nos muitos restaurantes da casa, um corpo de chefs e staffs de garçons, como organização alguma no país possui; a música, em seu J Club, agora Paris Show; a arquitetura, pois a própria Casa é um exemplar digno de estudo de uma época áurea do ofício, o início século 20; a moda, através das mostras ali realizadas; e os musicais, encenados na Pérgula.

Formou o Corpo de Atores da Casa Julieta de Serpa. Os artistas brilharam e todos os anos brilham encenando A Paixão de Cristo, nos Arcos da Lapa. Recentemente, seu musical sobre o Grupo Abba, no Shopping da Gávea, encantou quem o assistiu.

Sem esquecer que Carlos Alberto Serpa é duplamente imortal: fundador e membro das academias Nacional de Engenharia e Brasileira de Educação.

A Cultura, a Educação, o Teatro, o Antiquariato, a Música, as Artes Plásticas, a atividade religiosa, tudo se soma e agrega, no grande roteiro que Serpa vai traçando para ele e para Beth, companheira de muitos talentos, disposta para tudo, aceitando qualquer desafio que ele lhe proponha.

No mais lindo dos apartamentos da cidade, que chamo de “palácio suspenso”, eles recebem, e ninguém na atualidade do Rio de Janeiro, o faz com o mesmo requinte.

A guiá-lo, Carlos Alberto Serpa teve – e tem ainda – a forte referência de uma mulher de fibra: sua mãe, Julieta. Ela, de fato, a grande vencedora. Criou-o sozinha, transmitindo-lhe os valores da fé, guardando-o sempre em sua companhia, enérgica e afetuosa, mulher de gostos finos, exigente, que, naquele filho único, motivo de seus orgulhos, depositava todas as expectativas.

Assim, imagino Serpa, após cada vitória, sucesso, êxito, em sua oração noturna, no momento da tranquilidade, do voltar o pensamento a Deus, do agradecimento à sua devoção, Nossa Senhora da Glória, mantendo o silencioso diálogo intimo com Julieta, e ofertando a ela mais aquele triunfo.

Como se, filho dileto, menino, lhe dedicasse, um singelo buquê de flores no Dia das Mães.

Para o professor Carlos Alberto Serpa, o Dia das Mães é todos os dias de sua vida.

Dia da Julieta.

Cesgranrio-troféu do designer  Yutaka ToyotaAcesse aqui e conheça os premiados

Cesgranrio-Marília Pera e Miguel Falabella- (1)

Marília Pêra e Miguel Falabella

Cesgranrio-Miguel Falabela e Marilia Pera são os mestre de cerimonias

Cesgranrio-TroféusOs 12 troféus

Cesgranrio-Carlos ALberto Serpa Marília Pêra e  Miguel Falabella (3)Carlos Alberto Serpa, Marília Pêra e Miguel Falabella

Cesgranrio-Milton Gonçalves e Carlos Serpa.jpg1Milton Gonçalves, o Homenageado Especial, e Carlos Alberto Serpa, presidente da Fundação Cesgranrio

Cesgranrio-Carlos Alberto Serpa com os jurados´Lionel Fisher  Mirian Rubim  Tania Brandão  Daniel Schenker  Barbara Heliodora  Carolina VirguezCarlos Alberto Serpa com os jurados do Prêmio Cesgranrio de Teatro: Lionel Fisher, Mirian Rubim, Tania Brandão, Daniel Schenker, Barbara Heliodora, Carolina Virguez

Fotos de Veronica Pontes e Marcelo Borgongino

2 ideias sobre “PRÊMIO CESGRANRIO DE TEATRO, COMPETÊNCIA PRA OSCAR ALGUM BOTAR DEFEITO

  1. Hilde querida:: Vc definiu lindamente o vencedor da noite, nosso amigo Serpa. Parabens pelo texto!!!!!!
    Beijos
    Maria Jose Goytacaz

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.