Conversando com meu amigo português Mario Vinhas, ele me perguntou por que eu apoio Dilma. Meu amigo é um homem de direita, que viveu grande prosperidade nos anos Salazar e que, sendo um dos acionistas da Skol, sofreu a perseguição da ditadura de esquerda na Revolução dos Cravos em Portugal. Passada essa fase radical, seu bens lhe foram devolvidos, como aconteceu com outros ricos portugueses. Hoje,
Mario pode receber com Titá em sua fabulosa Quinta do Zambujal, onde a festa ora é em sua arena de touros ora na adega subterrânea, ao som de cantoras de fado e à luz de velas espessas, com a cera se derretendo amarela candelabros abaixo…
Digo isso para explicar que meu amigo Vinhas conhece as duas faces perigosas da mesma moeda. A direita e a esquerda. E sabe o quanto o radicalismo, de um lado e de outro, pode ser um risco para quem produz, para quem possui. Por isso, quando lhe disse o motivo de apoio a Dilma, ele me perguntou: “Você já escreveu isso? Publique, tem que publicar”…
Eu, que não sou comunista muito menos ativista política, mas apenas uma colunista social que olha para os lados, disse a Vinhas que o motivo que me leva a ser Dilma é muito simples: só comandado por um líder com olhar social o Brasil rico poderá continuar a ser cada vez mais rico e o Brasil classe média poderá continuar a sonhar em um dia ser rico. Sem um equilíbrio das forças riqueza x pobreza, sem uma preocupação com a justiça social, sem a diminuição das diferenças agudas, o Brasil rico, mesmo o Brasil muito rico, terá todo que se mudar para Miami. Ou se refugiar em seu apartamento em Paris, em sua quinta em Cascais, em sua penthouse em Manhattan, em seu resort nas Bahamas, correndo dos pobres aqui a lhes morderem os calcanhares, dos assaltantes a lhes colocarem revólver na cabeça…
Pois o miserável e o pobre, estes de agora, do Brasil de Lula, que já podem ter sua comida, sua geladeira, seu teto, seu fogão, não vão querer voltar ao estado de penúria e de desapreço vividos no Brasil de antes, quando os políticos insensíveis no comando viam o pobre como um mal desnecessário, a quem só eram dadas migalhas, quando eram…
Verdade é que, em nosso país, em todos os governos, sempre foram os ricos que mandaram. Houve roubo no governo Lula? Mas quem corrompeu? Quem? Os ricos, como sempre fizeram, em todas as épocas. Com isso, sempre tiveram o controle total da situação. Mas algo de errado ocorreu nesses anos de Lula. Algo que fez o miserável passar a sonhar com dias melhores, a classe C levantar a cabeça, ter dinheiro no bolso, abrir crediário, e a classe média, bem média, sair às ruas, lotar os bares, voltar a ir ao teatro e ao cinema, vestir-se na moda. Algo que criou novos dinheiros para novos ricos. Foi essa a nota fora do tom, que tanto aborreceu aos ricos imperiais deste país, que na verdade gostariam que aqui fosse uma monarquia, eles os nobres, perpetuando-se ad eternum, com meia dúzia de famílias mandando no Brasil…
São estes ricos imperiais, que, com seus instrumentos de poder, fazem a cabeça da classe média tradicionalista, daquelas pessoas de boa fé, do bem, que acreditam que os demais sejam à sua imagem e semelhança e, por isso, viram alvo fácil de mistificadores, da imprensa manipuladora, que na verdade está a serviço exclusivo não da informação, mas de seus próprios interesses. A esta imprensa não interessa um Brasil totalmente pensante e democratizado. Um Brasil com opiniões próprias e não tutelado por meia dúzia de articulistas comprometidos apenas com seu próprio sucesso, sua fama, seus salários, sua estabilidade total, parcial ou global. A esta imprensa não interessa um Brasil, por exemplo, com banda larga para todos…
Mas há ricos e ricos. O rico desenvolvimentista, que produz, forjado a partir de muito esforço e não de benesses e privilégios, este valoriza o trabalho de Lula/Dilma nesses oito anos. Este reflete e sabe da necessidade de uma sociedade mais justa, sabe que este agora é um caminho sem volta e só assim poderemos prosperar ainda mais. Um desses ricos é Jorge Gerdau Johanpetter, o homem do aço, que há duas semanas deu almoço para Dilma em Porto Alegre. Mas isso não saiu nos jornais. Não devia interessar…
Crédito: AFP PHOTO/ANTONIO SCORZA