Neste sábado, o mau tempo resolveu dar uma trégua em Paraty. Ainda que tímido, o sol brilhou, brindando a todos com um dia pra lá de quente! Mas não tão quente quanto as mesas das palestras e discussões, que contaram com nomes ilustres da moda e do design. A começar pelo primeiro bate-papo do dia, sobre moda e figurino, com as participações do super historiador de moda João Braga e da designer Eliane Damasceno, com mediação da designer e consultora do Instituto Zuzu Angel, Lucia Acar…
Durante o bate-papo, João ressaltou a importância de se valorizar o que é produzido no Brasil, não só em termos de moda, mas, também, de figurino. Citou o exemplo de figurinistas de fora quem vêm ao Brasil para conhecerem o Carnaval, muitos deles trabalham com óperas, e se quedam fascinados pela exuberância e a criatividade de nossas fantasias. Para o historiador, o Carnaval é a ópera brasileira. Eliane relembrou outro tipo de figurino bastante popular por aqui: o das telenovelas. Poderosa, a telenovela dita e lança moda, atingindo todas as camadas da sociedade. Em relação à questão ambiental, para ambos o despertar da consciência ecológica é algo recente, que ainda precisa ser maturado. De todas as áreas, a roupa, falando de moda e de figurino, talvez seja o produto com maior poder sensibilizador para a questão da sustentabilidade. E por que não aproveitar, por exemplo, a força de uma telenovela para tentar sensibilizar a população sobre a importância de se usar produtos ecologicamente corretos? Uma questão a se pensar…
Na segunda mesa do dia, Roberto Meireles, do Instituto Rio Moda, Lilyan Berlim, mestre em Ciências Ambientais e Nina Braga, do Instituto E, refletiram sobre as velhas e novas formas de produção, o descarte imediato de peças e o papel dos novos designers na tentativa de se fazer algo autoral, atemporal e sustentável. Nina ressaltou a importância de se unir a ética à estética. E Lilyan comentou que, na contra mão das fast fashion, muitos designers têm mostrado preocupação com o controle de sua produção, pensando e desenvolvendo um produto que seja usado a longo prazo. É o que podemos chamar de slow fashion. Não irá demorar muito para que estes designers passem a ditar as regras do jogo. O próprio consumidor já está mais exigente em relação ao que consome e usa. Cedo ou mais tarde, a indústria da moda terá de rever sua forma de produção…
A terceira e última mesa do dia contou com a mediação da jornalista de moda Heloisa Marra e com a presença dos convidados Renato Imbroisi, designer, e Mana Bernardes, designer-poetisa e artista plástica. Mana, uma das primeiras designers a apostarem na sustentabilidade no ramo das joias – quem não se lembra do colar de bolinha de gude em redinha de limão? – contou ao público sobre seu processo de criação. Ela não desenha, nunca desenhou. Mana cria um poema e, a partir daí, nasce uma joia. Para ela, a poesia é o central, o início de todo o processo. Bonito, né? Mana é uma dessas artistas completas. Suas joias possuem sentimento e um porquê de existir. E não é só a joia ou a poesia que tem importância neste processo. A embalagem em que ela virá envolta, o detalhe do fecho, enfim, tudo deve fazer parte de um conjunto para que este trabalho tenha um significado…
No mesmo dia, a tenda principal do evento, onde há uma feirinha de produtos sustentáveis, na Praça da Matriz, ficou repleta de curiosos, turistas e fashionistas, que foram conferir os desfiles das marcas que expõem no local. O casting de modelos foi de meninos e meninas da própria região de Paraty. Na foto, look da estilista Angélica Brasil, de Minas Gerais…
Cobertura de Marina Giustino / Fotos de Cristiana Giustino