Em sua terceira edição, o Paraty EcoFashion, evento que discute alternativas sustentáveis de consumo e produção na moda e no artesanato local, agitou o pequeno centro histórico de Paraty neste final de semana! O Blog da Hilde e o Instituto Zuzu Angel estiveram comigo lá e contamos agora pra vocês o que rolou de mais bacana!
Na Praça da Matriz, uma enorme tenda foi montada para que estilistas e artesãos locais e de outros estados do Brasil pudessem expor e comercializar seus produtos, todos com a proposta da sustentabilidade.
Adoramos as peças da Artuso, da artista plástica local Germana Artuso, que realiza um trabalho super autoral com joalheria, reutilizando pedaços de cerâmica e vidro. Nesta nova coleção, em especial, ela também passou a utilizar borracha de pneu em seus acessórios. Cada peça é única, feito obra de arte, com colagens e pinturas sobre superfície.
Já a designer pernambucana Patrícia Moura exibiu belíssimos e sofisticados colares feitos de ramir, palha de arroz e sisal, todos resultantes do trabalho de capacitação que realizou com mulheres de Paraty, em parceria com o Instituto Colibri e a Associação Cairuçu.
Trabalho de Patricia Moura com artesãs locais, o Instituto Colibri e a Associação Cairuçu.
Outra marca bacana que encontramos na feira, foi a Desudelã, da argentina Desirée. Apaixonada por Paraty, ela escolheu a cidade para viver e criar. Desirée possui extrema habilidade com o crochê! Com a técnica ela produz desde casaquinhos fofos, passando por porta-moedas em formato de ovo, morangos para fruteiras, forros coloridos para banco de bicicleta até instalações com big palmeiras e bananeiras.
Desudelã
Já as bordadeiras da Praia do Sono produziram bolsas com bordados do rosto do autor Graciliano Ramos, homenageado da FLIP deste ano. Uma graça! O grupo costuma retratar nas peças o seu cotidiano através de bordados naif, como peixinhos, rede de pescadores, barcos, palmeiras.
Bordadeiras da Praia do Sono
Enquanto isso, a poucos metros dali, a charmosa Casa de Cultura de Paraty tornou-se o palco de debates, abrigando o Ciclo de Palestras EcoModus, onde profissionais da área discutiram o papel da moda neste novo milênio. Patricia Sant’Anna, da Tendere, falou sobre a força da moda como economia criativa e a importância de políticas públicas para seu incentivo.
Renato Imbroisi me contou sobre sua experiência com as tecelãs do Muquem, em Minas Gerais, e da vivência que teve com artistas locais de Paraty, gente como Jubileu e Lucio, artesãos de máscaras originalíssimas, e o casal dona Madalena e seu Valentim, do Quilombo do Campinho, que realizam um lindo trabalho de cestaria e bolsas com taboa, além de talhar delicados bichinhos em madeira.
Imbroisi é um dos maiores especialistas em artesanato no país e leva sua experiência sobre o assunto também à África, onde dá consultoria junto a comunidades produtivas de vários países do continente africano. Tomamos um suco de frutas à beira da piscina da inspiradora Pousada da Marquesa,quando pude beber um pouco do grande conhecimento sobre o assunto de Renato, que recentemente publicou um grande estudo sobre a renda brasileira.
Casa de Cultura de Paraty
Renato Imbroisi com os mestres Jubileu e Lucio
E por falar em máscaras, o segundo andar da Casa de Cultura abrigou a belíssima exposição “Raízes de Paraty” sobre a arte local, onde os visitantes podiam interagir com as obras, vestindo e brincando com as máscaras. Já no andar debaixo, uma homenagem à minha mãe, Zuzu Angel, com a muito bem montada exposição de painéis fotográficos “Zuzu Angel, eu sou a moda brasileira”.
Exposição “Raízes de Paraty”
Exposição “Zuzu Angel, eu sou a moda brasileira” faz um retrospecto da obra de Zuzu Angel
Mas as homenagens à estilista minha mãe não pararam por aí. Eu também participei de um bate-papo, que resultou emocionante, em que relembrei sua vida, obra e luta.
A palestra sobre Zuzu Angel, em que estamos as professoras Celina de Farias e Lucia Acar, do Instituto Zuzu Angel, e eu, no palco da Casa da Cultura de Paraty
Outra figura que deu o que falar foi a indiana Kavita Parmar. Ela criou uma plataforma criativa, premiada mundialmente, em que repensa o valor afetivo do produto de moda na vida dos consumidores nesses tempos de fast-fashion, em que são consumidas peças “sem alma”, descartáveis, que duram apenas uma estação, fabricadas aos montes na China. Você algum dia já parou pra se perguntar o que há por trás deste processo de produção, quem produziu aquela peça, por que mãos ela passou até chegar a você? Qual o nome do costureiro, do modelista, da pessoa que bordou aquela florzinha, que imprimiu aquela estampa? A ideia é que cada roupa contenha uma etiqueta com um “QR code” costurado, onde o celular da pessoa que a comprou possa rastrear um pouco mais sobre a história daquele produto, sua origem e os nomes de quem o confeccionou. Uma bela tentativa de humanizar a moda. Aquela peça, sem dúvidas, deixará de ser apenas um produto e passará a ter outro valor, quando soubermos que por trás dela alguém, ou muitos, suaram a camisa para produzí-la.
Tive o prazer de conversar e conhecer mais de perto o trabalho de Kavita Parmar em um almoço no restaurante Banana da Terra em uma bela tarde ensolarada de sábado.
Com Kavita Parmar
O “QR code” das roupas, ideia premiada de Kavita Parmar
Uma pena que o evento só tenha durado um final de semana. Mas ano que vem tem mais e nós, certamente, o Instituto Zuzu Angel, meu blog e eu, estaremos lá novamente. Enquanto isso, vamos pensando e fomentando a sustentabilidade!
Com os parabéns à Bernadete, que, com tino, esforço e muita competência, ao lado de seu parceiro e marido, o Pedro, leva avante este sonho de, na bucólica Paraty, a cada ano, fazer o EcoFashion alçar voo, nas asas de um frágil Colibry, com o auxílio e o apoio de várias empresas e instituições dotadas de grande sensibilidade social. Aplausos para todos os envolvidos!
Fotos de Marina Giustino e Nadja Von Melentovytch
Mt bom mesmo!
paraty é bom viver lá
maricá terra querida sou feliz porque te amo