Por definição e prática, o exercício da moda implica em repor itens em perfeitas condições de uso por outros que são novidade.
Porém, jogar fora roupas em bom estado para colocar outras em seu lugar seria ecologicamente correto?
Eis o dilema da moda sustentável!
Shopping de Moscou: paraíso dos ricos e famosos da capital russa
Neste admirável momento novo que vivemos, os partidários da causa ecológica defendem as roupas “eco-frendly”, isto é, feitas com materiais inofensivos à natureza.
Para nosso desinformado espanto, o singelo algodão é frequentemente citado como o Inimigo nº1 do planeta, sob o argumento de que a produção de uma T-shirt deste tecido requer alto nível de pesticidas.
Em contrapartida… há o algodão orgânico, totalmente livre de pesticidas químicos.
Tecidos orgânicos não agridem tanto a saúde dos humanos bem como aquela do meio ambiente.
O mesmo acontece com o “peace silk”, também chamado de “vegetarian silk”, em que, em vez de as libélulas serem fervidas em seus casulos, como acontece com a seda tradicional, é permitido às libélulas saírem de seus casulos e viver completamente seu ciclo de vida.
Naturalmente, este ato de “bondade” não sai barato. Na era em que uma T-shirt pode custar 2 euros na Europa, o preço de uma T-shirt orgânica chega a 20 vezes mais. Ou muito mais.
Amanda Hearst, editora da Marie Claire, usando a marca eco-frendly lemlem
Enquanto isso, a habilidade de empresas, como a Primark, de criar looks com “cara de champagne e preço de cerveja” fazem da marca o templo da moda descartável para os compradores britânicos.
Lá, um skinny jeans custa em média oito euros, com a possibilidade de se comprar um guarda-roupa para uma família inteira por apenas cem euros.
Bem, assim é fácil ver a Primark cativar a clientela com orçamentos mais apertados.
Contudo, caso você resolva entrar na Primark, vai ver que muitos de seus clientes não parecem ser de baixa renda. São gente atraída pelo consumo em massa descartável.
Os próprios consumidores já se acostumaram com esse padrão e para mantê-lo alguém tem que sair perdendo. Normalmente, os fornecedores.
A ideia de “fair trade” é ótima na teoria, exceto quando os fazendeiros do oeste africano se veem incapazes de competir contra a indústria americana de algodão, que recebe um subsídio do governo de três bilhões anuais…
Resumindo: ser legal com o planeta e com as pessoas carentes, que plantam coisas para nós transformarmos em algo ético/eco-clothing, é um negocio relativamente caro. O que nos leva de volta à definição de moda.
Vestido feito inteiramente de papel para editorial de moda
Ao longo dos últimos 20 anos, comprar roupas deixou de ser algo que você faz algumas vezes ao ano para uma atividade praticamente cotidiana.
É barato, rápido e promete gratificação imediata a uma sociedade que não tem o discernimento ou a concentração para pensar além dos 140 caracteres no Twitter.
O fato é que nosso desejo por moda é inesgotável e, num mundo onde tudo é imediato e tem pressa, ironicamente, ainda temos empresas a nos oferecerem produtos mais baratos, sem sequer precisarmos sair de casa.
Há 20 anos, as pessoas, felizes da vida, juntavam seu dinheiro para comprar um par de jeans novos ou um vestido especial. O investimento para se vestir não era apenas uma fase fashion; era um estilo de vida.
Hoje, enquanto parece fácil culpar os fabricantes, precisamos reconhecer que eles são pura e simplesmente parte de uma sociedade que não mais se preocupa com a sustentabilidade a longo prazo.
Esta, potencialmente, é a verdadeira barreira entre uma moda sustentável e uma sociedade sustentável.
Os escândalos das mariposas fervidas e pesticidas escondidos no algodão são apenas a ponta do iceberg para uma questão muito maior. Focando no método de produção, ignoramos o problema mais amplo, que é uma sociedade que quer tudo rápido, fácil e bonito.
Não importa quantos estilistas vanguardistas montem fabricas orgânicas na costa africana, não importa quantas vezes Vivienne Westwood opine sobre as questões da mudança do clima no meio ambiente, de fato, a não ser que possamos mudar o pensamento das massas, será difícil ver como a moda pode mudar em algo que não é tão efêmero.
Sejam políticos ou roupas baratas mal feitas, we get what we ask for (nós temos o que nós merecemos – tradução livre).
E enquanto não pararmos de pedir e merecer roupas baratas descartáveis, independentemente dos efeitos que isso possa causar ao nosso meio ambiente e às nossas vidas, a palavra “sustentável” e a palavra “moda” realmente não podem andar juntas.