Na noite emocionante que marcou o lançamento do livro História da Moda no Brasil, um nome foi especialmente lembrado pelos autores Luís André do Prado e João Braga: o de José Ronaldo, pai de nosso querido repórter Zé Ronaldo Müller…
O costureiro foi o primeiro criador de moda no Brasil a alcançar reconhecimento e fama, muito antes de Dener, no início dos anos 50, quando foi contratado pela fábrica Bangu de Tecidos para criar os vestidos do concurso mais importante da época (mais do que o Miss Brasil): o Miss Elegante Bangu…
A promoção foi uma iniciativa do industrial Joaquim da Silveira, dono da Bangu, para divulgar seus tecidos, belíssimos por sinal, e envolvia apenas nomes de garotas da alta sociedade. Na verdade, participar do Miss Elegante Bangu era uma demonstração não só de elegância e beleza, como também de status social…
Já consagrado, com sua moda, além de muito elegante, alegre e original, José Ronaldo abriu seu próprio atelier de Alta-Costura, sendo o primeiro a ter uma etiqueta assinada com seu nome! Foi um precursor, pois, até então, não haviam ateliês próprios ligados a um nome de criador de moda, apenas casas de moda, como a Casa Canadá…
Querem conhecer um pouco mais sobre José Ronaldo? Vejam só que interessante a sua história…
Desde pequeno ele gostava de desenhar, mas em sua família não havia ninguém ligado à moda, nenhum costureiro. Quando completou 18 anos, foi para Paris, onde se encantou pela moda e voltou ao Brasil decidido a seguir carreira na área. Começou vendendo seus desenhos para modistas, até que conheceu Candinha da Silveira, mulher de Joaquim da Silveira…
Candinha era muito ligada à moda francesa, que adquiria e gostava de pegar os vestidos e abri-los para decifrar como eram feitos e costurados. José Ronaldo, muito atento, passou a observar todos os detalhes internos dessas roupas, como acabamentos e costura, e não demorou muito para dominar a técnica…
A proposta da Bangu Tecidos era fazer uma moda brasileira baseada na moda francesa, usando tecido nacional, o algodão. Isto é, modelos franceses de seda se transformavam em modelos nacionais de algodão, com modelagem e detalhes inspirados em roupas Made in France. Na época, ainda não havia um conceito de brasilidade na moda, que só foi introduzido, uma década depois, por Zuzu Angel (mãe desta repórter querida!). A moda francesa era uma demanda do mercado. Isto é, as próprias clientes queriam que seus modelos fossem parecidos com os franceses, considerados os mais chics do mundo…
Reunindo as mais belas garotas da alta sociedade brasileira, cada uma representando um clube da cidade, o concurso Miss Elegante Bangu tinha sua final numa grande noite no Copacabana Palace. Cada menina com um vestido de tecido da fábrica Bangu, criado exclusivamente por José Ronaldo. A mais importante Miss Brasil de todas as épocas, Martha Rocha, também se rendeu ao trabalho do costureiro (como eram chamados o estilistas da época). Martinha usava só modelos by José Ronaldo com tecidos Bangu…
Robe de soirée, em tafetá e cetim, de José Ronaldo
Quando saiu da Bangu, no final dos anos 50, o costureiro abriu seu ateliê de alta-costura no Flamengo, onde contava em sua oficina com uma equipe de mais de 20 pessoas, entre costureiras, modelistas, bordadeiras. Todas as mulheres da alta-sociedade queriam ser vestidas por José Ronaldo. Na época, não havia uma única da nata brasileira que não tivesse sido vestida por ele…
Os vestidos de noiva se destacavam, e quatro casamentos foram inesquecíveis: os de Maria Clara Marianni, Nininha Nabuco, Silvia Amélia Chagas e Astrid Monteiro de Carvalho…
Vestido de noiva por José Ronaldo
Infelizmente, quase não existem registros fotográficos. Fiquem com mais alguns de seus belos croquis, cedidos por seu filho, Zé, à nossa coluna. E confiram como são todos chiquérrimos e atemporais. Todos poderiam ser feitos e usados hoje, e com grande sucesso, garanto!…
José Ronaldo empresta seu nome importante à cadeira nº 10 da Academia Brasileira da Moda, hoje ocupada pela estilista Lucília Lopes, também ela famosa por seus vestidos de noiva…
Saia e blusa floral para almoço ou coquetel
Os delirantes anos 50, o mais glamouroso do Rio, visitado por estrelas de Hollywood, não pode ser mencionado sem a presença desse estilista – José Ronaldo – que abriu caminhos para os que seguiram seus passos nas décadas entrantes. Uma pena não termos registros fotográficos (claro que esses desfiles eram muito concorridos e fotografados) dele e de sua vida íntima, muito devassada na época, com o surpreendente casamento e vida burguesa. De repente ele sumiu do noticiário. A inquietante década de 60, já prenunciava a tormenta que se seguiria.
Parabéns pela iniciativa, sites informativos como este, lembrando o trabalho deste verdadeiro artista-estilista, José Ronaldo, são fundamentais.