Se há um político em nossa História sobre o qual pairam injustamente nuvens acinzentadas, como se fosse um personagem estigmatizado, do qual não se deva falar, este é João Goulart. Se eu fosse uma psicóloga diria que João Goulart, o Jango, é evitado porque ele inspira culpa, uma grande e assombrada culpa pairando sobre a classe política brasileira, seja ela de direita, centro ou esquerda, que sempre esteve unida numa conspiração invisível contra sua memória. A conspiração do silêncio. Exatamente este o título da conferência, que tentou levantar o véu que encobre Goulart na História, e aconteceu esta semana no Instituto Cultural Cravo Albin…
E por quê evitar a figura de Jango? Bem, não sou uma historiadora, mas ouso palpitar que Jango teve sua memória fritada devido não a seus defeitos, mas a suas qualidades, que eram inúmeras. Não era um violento e foi vítima de violência. Não era um corrupto e foi alvo de desconfianças. Não era um radical e foi massacrado pelas radicalizações. Jango era um homem bom, um patriota bem intencionado, um nacionalista legítimo, simplesmente adorado pelos que o cercavam e com ele trabalhavam. E isso ficou evidente na emoção até as lágrimas da centena de pessoas na plateia do debate, coordenado pelo jornalista Milton Coelho da Graça, celebrando os 50 anos da posse de João Goulart como presidente do Brasil em setembro de 1971…
A mesa da conferência foi presidida pela ex-primeira-dama Maria Thereza Goulart, com a participação notável dos dois únicos ministros vivos de Jango, Waldir Pires e Wilson Fadul, em duas horas e meia de revelaçōes, segredos e detalhes inéditos, tanto sobre a pessoa do presidente quanto do golpe militar que o depôs…