Ontem, postei no Twitter:
“O que acho desses “movimento” anti-corrupção mesclando “gatos & ratos”: que a demonização da política é o atalho mais curto para uma ditadura”.
Em seguida, complementei:
“Quem já viveu uma ditadura tem que estar atento e forte, sempre alerta, pois foi com esse discurso de “ladrões” que Lacerda incendiou o Brasil”.
Enfim, no espaço máximo de 140 caracteres, expressei minha opinião, que, como bem diz meu “lema”, pode não ser a melhor opinião, pode não ser a sua opinião, mas é a minha opinião….
E sabem o que aconteceu? Recebi como retorno, de uma certa @maria_lima, que não conheço, dois comentários sucessivos. Para o primeiro post: “decadente ridicula!”. Para o segundo: “Discurso imbecil!”…
Só então, dada a grita indignada dos demais seguidores do Twitter, eu soube tratar-se, a desbocada, da coordenadora de política da sucursal de Brasília do jornal O Globo! Eu, que convivi em O Globo – onde “nasci” como jornalista e trabalhei mais de três décadas – com os educadíssimos irmãos Roberto, Rogério e Ricardo Marinho, o finíssimo Padilha, o rigoroso mas sempre correto Evandro Carlos de Andrade, o cavalheiro José Augusto Ribeiro, o sempre amável Carlos Chagas, o elegante Milton Abirached, o sensível Pedro Gomes, o “lord” Carlos Menezes, o impecável Ali Kamel, o fraterno Agostinho Vieira, o cordial Ascânio Seleme, o discreto Rodolfo Fernandes e outros companheiros de grande categoria, levei um susto. Será esta a nova orientação de comportamento das Organizações? Não acredito…
Foi então que, puxando pela cabeça, lembrei-me de um post que recebi, no ano passado, quando, novata, ingressei no Twitter, enviado por “@maitêproença”, me pedindo voto para Maria Lima, para um prêmio de mulher na imprensa. Como se tratava da Maitê, que aprecio, eu acreditei, votei e respondi à atriz, ainda via Twitter, informando o que fizera. Que mico! Fui alertada pelos seguidores que “@maitêproença” era um perfil falso, provavelmente inventado por alguém que queria emplacar o prêmio da tal candidata, que aliás ganhou o dito troféu e soltou foguete. É certamente uma ascendente. Sobe às alturas de uma alpinista…
Agora, vou dizer a vocês, neste espaço que não me limita, o que penso de um movimento “anti-corrupção”, convocado pelas redes sociais e inflado por lideranças empresariais, por uma imprensa muitas vezes comprometida com seus próprios interesses e uma canastra de senadores de diferentes naipes que não se combinam. O que acho é que falta objetividade…
Para que os gritos contra a corrupção não ecoem no vazio e não se limitem a um exercício coletivo de catarse, a uma reunião esporrenta sob o sol antes da chopada, é preciso ter um foco. Exemplo: anos atrás propus, numa coluna, que todas as pessoas em funções públicas neste país fossem obrigadas por lei a manter informações detalhadas sobre sua evolução patrimonial, sempre atualizadas na internet, acessíveis a todos, a partir de data anterior aos cargos assumidos. Essa obrigação se estenderia aos cônjuges e ao núcleo familiar do personagem. Simples e transparente, não? Assim, saberíamos quando, onde e como o parlamentar tal enriqueceu, o prefeito ou governador ou presidente da estatal comprou seu avião particular. Uma passeata com essa proposta seria bem mais frutífera, não acham?…
Agora me perguntem se apareceu um legislador, um deputado, um senador sequer interessado em propor uma lei com esse fim? NENHUM! Porque o que de fato se deseja não é “acabar com a corrupção”, esse objetivo vago, o que se quer é manipular a opinião pública em prol de seus interesses particulares, sejam eles políticos, profissionais ou empresariais…
Hoje, converso com mulheres arrependidas por terem, em março de 1964, participado da tal Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que deu no que deu. Elas saíram às ruas de terço na mão, insufladas pelo seu ídolo Carlos Lacerda, e pediam aos gritos e em faixas o impeachment de João Goulart, o que foi usado como justificativa para o golpe militar. Inocentes úteis, coitadas, bem intencionadas, servindo à ambição ilimitada de um político que errou no cálculo, o tiro saiu pela culatra e ele próprio foi perseguido, se arrependeu, criou a tal Frente Ampla com Jango e JK, lembram?…
Bem, isso é História, e a História deve ser contada e recontada, para que os erros do passado não se repitam. Vivemos um novo tempo. O Brasil não é o mesmo, nem as pessoas, muito menos as nossas Forças Armadas. Mas há um fato novíssimo: as redes sociais. Poderosas, avassaladoras, incontroláveis. São elas que agora nos obrigam, a nós, os formadores de opinião, a ter uma responsabilidade muito maior. Devido a elas, mais do que nunca, devemos ser, nós, os jornalistas, ainda mais consequentes, sérios e cuidadosos antes de ajudar a acender qualquer pavio, que não sabemos que comprimento terá e que incêndios poderá provocar. Para que no futuro algumas “marias lima” não se arrependam por terem confundido experiência com decadência…