A segunda metade do século XIX foi marcada por uma série de acontecimentos que revolucionaram os costumes da época, como, por exemplo, o surgimento da Alta-Costura, impulsionado por Charles Worth, que em seu rastro fez nascer milhares de outras maisons, cuja influência junto às revistas ajudou a consolidar a Moda e o tão elegante estilo parisiense, objeto de predileção dos pintores impressionistas, que retrataram de maneira única, com a leveza de pinceladas soltas, as cenas do cotidiano da burguesia parisiense, seja em piqueniques e passeios ao ar livre, cafés, restaurantes ou festas…
Abordando a estreita ligação das pinturas impressionistas com o advento da Moda na sociedade francesa, traçando um panorama dos hábitos e das vestimentas da segunda metade do século XIX, o Museu d’Orsay, em Paris, inaugurou recentemente a exposição “L’Impressionnisme et la Mode” (O Impressionismo e a Moda). Quem indica é nossa amiga querida e atenta Rosa Cordeiro Guerra, que esteve por lá e simplesmente AMOU! Ela conta que a ambientação é lindíssima, com direito a chão de grama sintética na parte em que são exibidos quadros que retratam encontros ao ar livre. Tem até uma passarela com quadros enfileirados, imitando um desfile de moda, cujas cadeirinhas diuradas dos convidados levam os nomes de ilustres personalidades da época. Além das obras, a expo também exibe acessórios e roupas originais daqueles tempos. Uma delas, inclusive, está retratada em um quadro de 1881, do artista Albert Bartholomé, que mostra sua mulher, Prospérie ,usando um vestido de algodão. A peça é composta de duas partes: o corpete enfeitado com laços, estampa de pois, gola e mangas 3/4 listradas. E, por baixo, uma saia plissada em camadas, como vemos a seguir…
É inegável: ainda que usada de maneira inconsciente, a roupa é um elemento poderoso de comunicação. Ela pode dizer muito a respeito de quem a veste, o que esta pessoa deseja transmitir e a que grupo social pertence ou gostaria de pertencer, retratando, assim, a imagem de uma determinada época. A fim de captar o ar daqueles tempos, onde a transitoriedade da moda esteva intimamente ligada ao avanço da modernidade, os artistas impressionistas não hesitaram em pintar detalhadamente os trajes da burguesia…
Por volta de 1860, a última novidade no guarda-roupa feminino era a crinolina de aço. Considerada um item moderno, de fabricação industrial, era uma espécie de grande gaiola, colocada debaixo das saias e vestidos para armar e dar volume. Ao longo do tempo, foi sofrendo algumas modificações, até que, em 1867, a crinolina foi substituída pela anquinha, acessório usado também debaixo das vestes, mas para dar volume somente à parte de trás, especificamente aos quadris da mulher. Para completar a silhueta de “vespa”, as mulheres da segunda metade do séc. XIX ainda contavam com o espartilho, que “ajudava” a afinar a cintura e destacava os seios…
No vestido acima, exposto no Museu d’Orsay, é possível notar o uso da anquinha sob a roupa, por conta do volume nos quadris. A silhueta da mulher desta época, quando observada de lado, aparentava a forma de uma vespa. Os espartilhos acentuavam ainda mais este aspecto.
Neste quadro de Manet, podemos observar um pouco do que era o guarda-roupa íntimo de uma mulher. Nana, evidentemente, está sem anquinha, mas veste um espartilho bem apertado e, por baixo, uma espécie de camisola.
Para os trajes matinais, assim como os trajes de verão, eram utilizados algodões leves. Podiam ser enfeitados com fitas, estampas delicadas de flores, listras ou pois…
Acima, em primeiro plano, um vestido de verão em que se nota o uso da crinolina por debaixo da saia.
Os vestidos usados para ir a um jantar ou ao teatro, geralmente, eram pouco decotados, com mangas ricamente ornamentadas. A saia da frente era apertada, enquanto que a de trás tinha bastante volume, ressaltado por babados…
Para os bailes e as grandes noites de ópera, os vestidos eram bem mais decotados, com ombros nus e, obrigatoriamente, de seda. Alguns combinavam mais de um tipo de tecido, formando contraste de cores e texturas, sem esquecer da variedade de ornamentos, como babados, aplicações de fita, rendas e plissados. Os penteados podiam ser decorados com jóias ou flores, como vemos abaixo, nos quadros de Renoir e Béraud…
Os chapéus eram acessórios fundamentais para qualquer dama que saísse ao dia. Eles podiam ser de veludo, palha trançada, nude, coloridos, enriquecidos com laços de seda, flores de tafetá e por aí vai. As luvas também eram itens importantíssimos. Outros acessórios como sombrinhas e leques ajudavam a complementar o look, atribuindo-lhe charme e graciosidade. Os sapatos costumavam ser do mesmo tecido do vestido, decorados com um laço ou uma flor. Abaixo, nos quadros de Manet, damas fazem o uso de chapéus, luvas, sombrinhas e leque…
Acima, um chapéu e uma sombrinha da época, expostos no Museu d’Orsay.
Quem visitar Paris até o dia 20 de janeiro de 2013, não pode deixar de conferir essa exposição ma-ra-vi-lho-sa! No ano que vem, ela também chega ao Metropolitan Museum of Art, em Nova York, a partir de 19 de fevereiro, e depois segue para o Art Institute, em Chicago.
Infelizmente, não há previsões de “L’Impressionnisme et la Mode” aterrissar no Brasil. Mas os fashionistas e amantes das artes não ficarão na mão! A partir do dia 23 deste mês, os cariocas poderão contemplar algumas das mais belas obras do acervo do Museu d’Orsay na expo “Impressionismo: Paris e a Modernidade”, que acontece no CCBB. Fiquem ligados!… 😉
Imagem da expo “L’Impressionnisme et la Mode”, em cartaz no Museu d’Orsay, em Paris. IMPERDÍVEL!
Texto: Marina Giustino / Imagens: reprodução
Adorei essa matéria!!! Sou miniaturista e estou participando de um novo projeto, Imigrantes. Escolhi a moda e a França para tal. Aqui encontrei muitas informações. Também estou idealizando um outro projeto para um workshop em oficina cultural sobre a moda na arte, vai me ajudar demais.
Muito obrigada!!!! Adorei!!
Bj
Rose
Muito bonito o seu post sobre a exposição no Museu Orsay em Paris. Visitarei a exposiçao tão interessante em dezembro. Abração