O superstar Willem Dafoe que nos perdoe, mas o grande bapho do almoço de confraternização do Festival do Rio não foi a presença dele, foi a atuação de Léa Garcia no filme Sudoeste. “Será uma injustiça se ela não ganhar o prêmio de melhor atriz”, dizia Luiz Carlos Barreto, com o apoio do coro dos presentes que assistiram à sessão de gala do filme. “Parece um Bergman“, dizia o cantor Victor Dornelles. “O filme lembra Antonioni em seus melhores momentos”, enfatizava o jornalista Sidney Rezende. “Tem algo de Luiz Buñuel“, acrescentava a produtora Bruna Petit…
Lea Garcia, numa tomada de Sudoeste, cotada para o prêmio de Melhor Atriz do Festival do Rio
Fato é que Sudoeste causou sensação no festival. Filmado em preto e branco, com uma fotografia de tirar o fôlego, o filme conta a história de uma mulher que nasce, cresce, fica adulta e morre num único dia. Filmado no cenário agreste das salinas da Região dos Lagos, no Rio, o filme surpreendeu público e crítica com sua qualidade técnica e artística. “Não existe nada de errado com esse filme. Ele é perfeito”, decretava o experiente Barretão, enquanto traçava a feijoada, no Armazém 6 do Cais do Porto…
Léa Garcia estreou com o pé direito no cinema nacional, em 1959, no papel de Serafina, em Orfeu Negro, ganhador da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro daquele ano. É mole ou quer mais? Atuou em Ganga Zumba, de Cacá Diegues, e em A noiva da cidade, de Alex Viany. Janete Clair a adorava e sempre a chamava para suas novelas: Acorrentados, O homem que deve morrer, Fogo sobre terra e o Caso Especial Meu primeiro baile. Sem esquecer, meus amores, que Léa foi minha colega de elenco na primeira versão de Selva de pedra, clássico indiscutível de Janete. Pois foi esta senhora atriz que arrebatou o Festival do Rio com uma performance arrasadora, vivendo uma rezadeira misteriosa, tida como bruxa no lugar onde vive…
Totalmente solto, William Dafoe trocava figurinhas com Matthew Chapmam, o cineasta inglês casado com Denise Dummont, que veio lançar A tentação, estrelado por Liv Tyler; cumprimentava efusivamente o italiano Dario Argento, mestre dos filmes de terror, homenageado com uma retrospectiva no festival, e dava boas risadas com as histórias contadas por Lincoln Phipps, produtor do filme Hollywood não surfa, grande sucesso de público do festival…
Hollywood não surfa é um documentário sobre os filmes de surfe produzidos por Hollywood, que traz magníficas cenas de ondas gigantes, clipes de produções dos anos 50 e 60 e depoimentos de Tarantino e Spielberg. Lincoln Phipps também é ligado ao cinema brasileiro. É co-produtor do filme de Vicente Amorim, Corações sujos, e já está em pré-produção de seu novo filme, o documentário Tropicália, sobre o movimento musical liderado por Caetano Veloso e Gal Costa no final dos anos 60. “Sou louco por música brasileira”, ele repetia, bebericando uma caipirinha…
William Dafoe veio ao Brasil lançar o filme 4:44 – Last day on earth, mas a cópia veio com defeito e a avant-prémière foi cancelada. O ator levou na esportiva e aproveitou para badalar Uma mulher, dirigido pela sua mulher Giada e estrelado por ele, com belíssimas cenas rodadas na Itália…
William Dafoe não conseguiu exibir seu filme mas não perdeu a viagem: mergulhou numa deliciosa feijoada tendo a Baía da Guanabara por testemunha
Karim Anouiz, Ricardo Waddington, Barretão e Lucy, Malu Valle, Vanessa Lóes, Dira Paes, Giulia Gamm, Alessandra Negrini, Janaína Diniz, Kréo Kellab, Otto Júnior, Altenir Silva, Selton Mello, Daniela Escobar, mais diretores, produtores e equipes dos filmes do festival se deliciaram com o feijão maravilha. A premiação será na terça-feira, no Cine Odeon Petrobrás, seguida de uma festa de arromba, no mesmo Armazém 6 do Cais do Porto, com a participação da Bateria da Grande Rio. Vou lá!…
Fotos de André de Oliveira