Igreja São José plena de emoção e sentimento, na tarde deste domingo, 12 de junho, na Missa de Sétimo Dia de Heloísa Aleixo Lustosa. A museóloga importante, presidente da Academia Brasileira de Arte, mulher que muito fez pela nossa Cultura, tendo ocupado o Conselho Federal de Cultura e o Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro.
Católica fervorosa, Heloísa morreu num Domingo de Pentecostes, data que celebra a descida do Espírito Santo sobre Maria e os 12 Apóstolos de Cristo.
Heloísa dirigiu o MAM – RJ na emblemática década de sua história, os anos 70. Com uma visão ampla sobre a cultura, uma notável percepção das necessidades do momento, ela abriu o MAM num grande abraço terno sobre outros segmentos artísticos além das artes plásticas. Na sua gestão foi criado o grupo Comunidade, por Amir Haddad, com a montagem do espetáculo A Construção, marco do teatro brasileiro. Heloisa impulsionou e prestigiou a Cinemateca do MAM, sempre enfrentando dificuldade até então. Heloísa conseguiu restaurar os jardins de Burle Marx no entorno do museu. O MAM virou um point da cultura brasileira, seu vão central fervilhava com performances, apresentações musicais. O coração da cultura era o MAM-RJ. Até que houve o famigerado incêndio, com as línguas de fogo lambendo parte importante do acervo.
Heloísa era a única mulher da diretoria. Não foi difícil imputarem a ela uma responsabilidade que não era de sua alçada, era de um nível superior da gestão, de conservação e prevenção de incêndio do prédio. Ela se manteve altiva, sob o injusto tiroteio. Até Niomar Moniz Sodré, sua amiga, e uma espécie de Eminência Parda do MAM, voltou-se contra ela. Tempos depois, assim como Niomar, os que acusaram Heloísa reconheceram seu equívoco.
Mas a vida lhe deu nova oportunidade de provar sua competência e brilhar, quando assumiu a direção do magnífico Museu Nacional de Belas Artes, com um acervo que o ombreava aos grandes museus do mundo. Com o prédio em péssimo estado, depois de servir até como repartição pública, como sede da Funarj, com divisórias improvisadas de Eucatex e gambiarras em todas as direções, Heloísa, sem grandes recursos, foi reformando, restaurando e adequando o museu em etapas. Multiplicou por quatro sua área expositiva. Criou o andar da Arte Contemporânea. Criou a Galeria dos Impressionistas. O Museu do Inconsciente. O Pátio Lily e Roberto Marinho. Renovou toda a elétrica. Fez um estudo de cores setorizando as diferentes salas, galerias e alas, com um resultado de grande harmonia. Promoveu encontros, seminários. Além de exposições que revolucionaram a própria cultura brasileira. A mostra Rodin alcançou o maior numero de visitantes no ranking nacional dos museus. A mostra Monet repetiu o feito. Os reis de Espanha vieram para abrir a mostra Grandes de Espanha. O MNBA foi o primeiro a se abrir para exposições de moda, com a História dos Sutiãs, e depois com a exposição “A força do Anjo – Zuzu Angel”, na Galeria Bernardelli, como prévia do primeiro Museu da Moda do Brasil, que seria nas cúpulas do Museu, não fosse o obste do IPHAN.
Depois de Heloísa Lustosa, o MNBA nunca mais conseguiu o mesmo status de prestígio e a mesma grande frequência.
Atualmente, Heloísa Aleixo Lustosa presidia a Academia Brasileira de Arte, fundada em 1942, tendo como secretário-geral Victorino Chermont de Miranda e, entre seus membros, Anna Bella Geiger, Eduardo Sued, Luiz Aquila, Marlos Nobre, Nathalia Tinberg, Nélida Piñon, Ziraldo, Turibio Santos, Marcos Azambuja e outros nomes notáveis da cultura brasileira.
Heloísa está na foto com a filha Solange, posando em 1974 com a coleção “Mãe e Filha”, de Zuzu Angel, que ela prestigiou, criando, na Academia Brasileira de Arte, a cadeira Zuzu Angel, que tenho o privilégio de ocupar.