Frenesi e êxtase na reabertura do Teatro Dulcina

Ninguém sabia. A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, não sabia. O presidente da Funarte, Antonio Grassi, não sabia. O secretário municipal de Cultura, Emilio Kalil, não sabia. Nem mesmo a plateia sabia! Pois, certamente, se alguém soubesse da morte, naquele dia, do grande ator Ítalo Rossi, teria-se pedido um minuto de silêncio, na cerimônia-espetáculo de ontem à noite, que reinaugurou o Teatro Dulcina

A morte de Ítalo, caso tivesse sido ali anunciada, teria sido uma nota de grande tristeza num acontecimento que era só alegria, euforia até. Emiliano Queiroz, Paulo Betti, Maria Pompeu, Arlete Salles, Beth Goulart, Leona Cavali, Cristina Pereira, Sura Berditchevsky, Patricia Travassos, Ney Latorraca, Giulia Gam, Daisy Lúcidi, Rogério Fróes, Haroldo Costa e Mary Marinho, Sergio Mamberti, Norma Dumar, Sonia Zagury, Tania Brandão, Tereza Mascarenhas, Flávio Marinho, o povo do teatro todo lá, admirando as paredes bege, os detalhes de sancas brancas do balcão, o teto e a moldura do palco em marron escuro, do teatro agora restaurado…

A classe teatral parecia extasiada. O que mais se escutava era: “Que boa notícia ter o Dulcina de volta”. Em frangalhos há muitos anos, o Dulcina, no coração da Cinelândia, já era há tempos considerado uma causa perdida. Ruínas para, num futuro distante, serem encontradas por algum arqueólogo, que através da análise de seus pedaços datados poderia fazer alguma revelação sobre como era o teatro do Brasil nas priscas eras douradas em que aquele Teatro Dulcina, ex-Theatro Regina, esteve de pé. Mais eis que uma Santa, a Santa Funarte, apiedou-se dele e, no governo passado, ainda sob a gestão de Sergio Mamberti, a Funarte iniciou as obras para, ontem, seu novo presidente, Antonio Grassi, devolver o Teatro Dulcina, em grande estilo, à comunidade do teatro brasileiro…

Antes da leitura, pela trinca de divas Nathalia Timberg-Bibi Ferreira-Marília Pera, de trechos de longa entrevista dada por Dulcina de Moraes para o jornalista Simão Khoury, houve uma solenidade no palco. Falaram Grassi, Mamberti, Kalil e até a ministra Ana. Mas as palavras que de fato calaram no coração de todos foram as de Nicete Bruno, de improviso, entusiasmada, lembrando Dulcina, que a iniciou no teatro. A personalidade de Dulcina, suas orientações, as lições aprendidas com ela, se tivesse decorado o texto, certamente ele não seria dito de modo tão arrebatador como fez Nicete. Aplausos, aplausos, e buquê de rosas pra ela, como é tradição…

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Nicete Burno louva Dulcina, assistida por Sergio Mamberti, Miriam Lewin e Antonio Grassi

 

Antes de se despedir do palco, como nada mais havia para ser dito, o presidente da Funarte Antonio Grassi desejou a todos, ao microfone, uma bela, grande e sonora MERDA! Ninguém agradeceu, pois, como é tradição no meio teatral, merda não se agradece, pois dá azar…

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Antonio Grassi: “Merda!”

 

Bem, vou pular a parte da leitura do discurso pela ministra Ana de Hollanda, pois, conforme ela mesma declarou, ela não estava num bom dia…

Em cena, nossas três grandes atrizes deram show. Impossível comparar suas atuações nas leituras. Cada qual brilhante em seu próprio estilo. Mas quem levou o público ao frenesi foi Bibi Ferreira, quando leu a declaração da saudosa grande dama do teatro, Dulcina de Moraes: “Detesto televisão!”. O público gargalhou e aplaudiu. Em seguida, num tom mais alto, Bibi continuou: “Deteeesto Televisão”. A plateia ululou. E mais adiante: “Detesto! Detesto! Detesto!”. Para êxtase total, uma catarse coletiva, uma apoteose de risos, frenesi, palmas e gritinhos da audiência formada, em sua totalidade, por gente do teatro, do cinema e…. da TV!…

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Bibi Ferreira: “Detesto Televisão!”, no palco ao lado de Nathalia Timberg e Marília Pera

 

Fotos de Sebastião Marinho

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