Publicado em 25 de março de 2013
A caminho do aeroporto, para embarcar para o Canadá, liguei para Gonçalo Carvalho, grande amigo nosso e de Emílio Santiago, e pedi notícias do cantor, ainda na UTI. O cantor se mantinha em estado crítico, preocupante. Logo em seguida, no exterior, recebemos a informação tão triste: nosso querido Emílio tinha partido, levando com ele sua fidalguia, a presença suave, os gestos de um homem de grande sensibilidade e finesse e, sobretudo, a voz impressionantemente linda.
Levou também o olhar triste. Sim, sempre tive a impressão de que Emílio tinha um quê de tristeza no olhar. Como se nos olhos ele guardasse a consciência de que seu sucesso financeiro, a fama, a visibilidade, as oportunidades e o respeito conferidos ao seu trabalho não eram correspondentes ao seu grande talento. Mesmo com o sucesso merecido que fez no fim dos anos 80 com o CD Aquarela Brasileira... Até que chegou o ano de 2012 e ele ganhou o Grammy Latino pelo álbum Só danço samba ao vivo…
Emílio surgiu uma geração ou duas depois daquelas dos grandes intérpretes. Após nomes como Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e outros que viveram o apogeu das grandes vozes.
Sucedendo a era dos grande intérpretes, veio a era dos compositores-intérpretes, os Chicos, Vinicius, Caetanos, Gils, Djavans, Fagners e tantos outros, que, mesmo não tendo vozes extraordinárias, tornaram-se intérpretes maravilhosos de suas próprias músicas, identificados com elas. Um novo momento da MPB, uma voga diferente do gosto do público.
Assim, os cantores não compositores passaram a ter dificuldades para conseguir boas músicas inéditas para interpretar. E ficou mais difícil terem apelo junto às gravadoras para produzirem seus CDs. Isso, no que diz respeito às intérpretes mulheres também.
Cada vez era mais espaçado o tempo entre o lançamento de um e outro CD de Emílio. De dois em dois anos, de três em três… Até que o último e premiado CD de Emílio Santiago foi com selo próprio…
A missa de sétimo dia do cantor brasileiro com voz de veludo será celebrada amanhã, dia 26, às 19 horas, na Igreja Imaculada Conceição…
Se aqui fosse a América, Emílio teria tido um enterro lindo como aquele da Whitney Houston. Com caixão dourado, cortejo de carruagem puxada por cavalos emplumados, pois ele merecia isso tudo e muito mais. Um grande, notável artista!
E me lembro tanto de um jantar aqui em casa, em que Emílio notou a ausência na minha prateleira de seu último álbum, correu lá embaixo em seu carro e voltou com o CD autografado carinhosamente pra mim. Todo contente. Tão carinhoso, tão querido. Que artista com a qualidade do Emílio teria esse desprendimento, me digam?
Até logo, amigo Emílio, sem arrogâncias, com a simplicidade que só mesmo um talento imenso, arrebatador, sabe ter…
Um beijo. Segura ele aí, onde você estiver…
Querida Hilde,
Pois é, depois de 12 dias de vigilia diária no Samaritano, sempre com uma esperança que ele saisse do coma induzido e recuperasse a consciência, para que enfim se avaliassem as eventuais sequelas, inesperadamente na manhã do dia 20 de Março fomos surpreendidos às 6h30 com a noticia do seu falecimento.
Depois desde essa manhã até ontem à noite, e como não tinha nenhuma familia, seu companheiro e um grupo pequeno de amigos mais chegados fizemos uma maratona constante, para que tudo corresse com a dignidade e elegância que ele sempre teve.
Graças a Deus tudo correu bem, o Prefeito cedeu a Câmara de Vereadores para o velório, o enterro no Memorial do Carmo já estava todo providenciado desde que a sua mãe faleceu de modo a que quando ele falecesse ficassem lado a lado.
No velório compareceram uma imensidão de fãs, amigos e personalidades do meio artistico, para prestar uma ultima homenagem à grande voz que havia se calado.
Todas as emissoras de TV e rádio fizeram a cobertura e especiais com homenagem ao nosso querido Emilio. A Globo então foi incansável, nos noticiários, Ana Maria Braga, Fátima Bernardes, Faustão, Fantástico e até no Big Brother.
A missa solene com coral, ontem, foi das coisas mais lindas que vi nos últimos tempos. Seua colegas de profissão colaboraram em diversas partes da missa, que terminou com seus amigos mais chegados carregando flores para o altar, enquanto Alcione, Leni Andrade, Aurea Martins, Zélia Duncan, Elba Ramalho e Rosemary dedicavam algumas canções para nosso grande Emilio.
Escutei muitas pessoas, a exemplo do que o Zuenir Ventura colocou em sua coluna do Globo, “Diante do reconhecimento de seus pares, classificando Emilio Santiago como um dos melhores cantores do Brasil, senão o melhor, é que vi como sou ignorante em matéria de música. Nunca lhe dei a merecida importância.”
Para si, Hilde, queria lhe agradecer as ternas palavras da sua coluna, e todo o carinho que sempre lhe dedicou.
Um beijo e obrigado.