Morreu Paulo Henrique Amorim, o jornalista da democracia, luz nas trevas, coragem entre os pusilânimes, verdade nesta era das mentiras.
Paulo Henrique Amorim, no cenário de seu Conversa Afiada
Tempos atrás, assisti, no programa Domingo Espetacular, do jornalista Paulo Henrique Amorim, a uma reportagem muito curiosa sobre um corpo mantido a baixíssima temperatura, numa funerária de São Gonçalo, guardado num caixão de zinco. Tratava-se de um senhor morto, cujas filhas brigavam na justiça com a irmã caçula, que pretendia levá-lo para Michigan, nos Estados Unidos, onde repousaria numa empresa de criogenia, ao lado de milhares de outros cadáveres congelados anos a fio, aguardando para serem um dia ressuscitados. Paulo Henrique abria a reportagem, propondo: “Imagine morrer e voltar à vida graças ao avanço da ciência.”
Paulo Henrique Amorim se foi hoje, levando consigo o calor de sua luta emuladora. E nós aqui ficamos, condenados ao congelamento de uma crescente apatia, à ausência de expectativas e à paralisia diante do enredo de horrores do cotidiano brasileiro. Sem qualquer perspectiva de quando ressuscitaremos desse pesadelo.
O bravo Paulo Henrique, infatigável combatente contra o oligopólio da mídia e os mercenários da mentira, fidalgo das palavras, destemido sem limites, era o brasileiro indignado que chutava a canela do gigante adormecido; o infatigável ferrinho de dentista, escarafunchando o poço sem fundo das sujeiras do Brasil; o ferrenho defensor de causas boas, até o máximo limite da bravura.
Paulo Henrique dizia e escrevia com as tintas da indignação corajosa. Um ‘quixote’ embriagado pela lucidez, que o levava a desafiar, sem medo, moinhos poderosos. Isso lhe valeu incontáveis processos, sentenças duras e dispendiosas, ira, despeito, ressentimentos e perseguições. A última delas foi seu afastamento da Rede Record, onde há 10 anos comandava, com sucesso, o melhor programa daquela emissora, que como retribuição usou o valente Paulo Henrique como moeda de troca com o atual governo.
Foi o primeiro dos blogueiros independentes, abrindo caminho para os demais, que hoje se multiplicam na rede. Morreu em casa, de infarto, na madrugada em que os parlamentares negociavam na Câmara, sem qualquer pudor, seus votos para a nefasta Reforma da Previdência, que condena milhões de brasileiros pobres à miséria. Paulo Henrique morreu envenenado pelas indignidades desse Brasil de trevas.
O brilhante Paulo Henrique Amorim será para sempre lembrado com respeito e admiração. Um jornalista sensacional, um grande democrata! Foi-se um militante da verdade nesta era de mentiras.
Eu acho que ele morreu de desgosto quando o Bispo do inferno o demitiu! O Domingo não será mais “espetacular”, sem ele! A Internet também! DEP! (DescançaEmPaz)