Uma coisa que me choca é ver jornalista levando jornalista às barras dos tribunais. Foi-se o bom tempo em que jornalistas duelavam seus argumentos, discórdias e inteligências através da pena, dos textos impressos nos clichês de chumbo dos jornais, no offset etc.
Hoje, com essa amplidão ilimitada no mundo virtual para se discutir, discordar, divergir, trocar ideias e, até, desaforos, o que mais vemos (e apenas vemos) são jornalistas recorrerem às dobras das longas togas do Judiciário para dirimirem desavenças.
São homens de imprensa que, à alternativa de lutar o bom combate esgrimando as próprias palavras, preferem terceirizar suas argumentações aos escritórios de advocacia e setores jurídicos de grupos poderosos de mídia. Vence aquele que for melhor assessorado.
Em seu último informativo enviado via email à imprensa, o portal Comunique-se noticia de modo curto e grosso: “INJÚRIA E DIFAMAÇÃO Paulo Henrique Amorim é condenado”.
O Informativo do portal Comunique-se coloca sobre a foto do jornalista, famoso por ser intrépido, a frase CONDENADO À PRISÃO, assim mesmo, em caixa alta, letras vermelhas. A matéria traz o título: “O jornalista Paulo Henrique Amorim foi condenado a um ano e oito meses de prisão por “injúria difamatória”, ao chamar o comentarista de política da Globo, Heraldo Pereira, de “negro de alma branca”.
A Terceira Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios entendeu que a expressão “negro de alma branca” aplicada pelo blogueiro Amorim, da Record, num texto em que se referia ao jornalista Heraldo Pereira, da Rede Globo, é ofensiva à honra. Costuma ser sim. Contudo – e sem querer entrar no mérito da briga de dois profissionais que respeito, muito menos no mérito da sentença – no contexto irônico em que foi empregada, a expressão poderia ter uma interpretação justamente oposta.
Bem, se a intenção do editor do Informativo era a de conferir a Paulo Henrique a imagem de um criminoso comum (com um cartaz ao estilo “PROCURA-SE”, dos filmes de faroeste), o tiro poderá ter saído pela culatra.
O portal Comunique-se, que se pretende um espaço pela e para a classe jornalística, fez uma coisa feia. Deveria repensar e reformular a diagramação da foto, pois credibilidade leva tempo para construir e destruir é num minutinho só.
Essa aparente tomada de partido na pendenga entre os dois profissionais não cai bem a um veículo cuja âncora é o prestigioso Prêmio Comunique-se.
A lição que fica é que, cada vez mais, o jornalista brasileiro deve ter muito cuidado com as palavras que emprega quando escreve um texto. Qualquer texto.
A prática de uma imprensa opinativa se tornou profissão de alto risco no Brasil, onde todo profissional, ao se graduar, deveria receber no diploma aquela frase de policial americano quando efetua uma prisão: “Tudo o que você disser pode e será usado contra você”.
Aí esta a maneira como o portal Comunique-se apresenta um dos mais famosos jornalistas brasileiros. Polêmico, Paulo Henrique Amorim não tem medo de processos. Segundo o Wikipedia, são 40, em que ele é acionado por vários dos nossos maiores empresários, jornalistas e até ministros do STF.
Amorim foi o criador da sigla PIG, hoje de uso corrente, significando Partido da Imprensa Golpista. Tem uma carreira brilhante de grandes coberturas internacionais e nacionais. Considerável coleção de troféus na prateleira.
Demiti-lo é sempre um risco, pois os ataques contra ex-patrões são uma constante em sua biografia. Contratá-lo é certeza de grande repercussão e ótima audiência, como acontece com o programa Domingo espetacular, que apresenta na Rede Record.
Quero participar de debates, referente ao Jornalismo no Brasil!
Lamentável que os jornalistas brasileiros são limitados com a mordaça… Emitir uma opinião não torna uma pessoa criminosa, principalmente em se tratando de um Jornalista.
Não entrando no mérito da questão, não estando de nenhum lado, apenas ofereço minha humilde opinião no sentido que deveríamos discutir mais este assunto com a “ABI”
J. Marcio Cotta – Estudante de Jornalismo – UniBH
Well Hilde… be calm. Nos tempos da Ditadura quem contra o regime se levantasse também era chamado de “criminoso” e tratado como tal. Mas isto não era uma ofensa, antes um elogio.
Penso que quem se rebaixou nesta história não foi o condenado e sim a suposta vítima. Lembre-se, minha cara, ninguém lembra com positiva emoção o nome dos acusadores de Sócrates, pois ele foi imortalizado por se submeter voluntariamente a uma injusta condenação. E se isto não a consolar, lembre-se de que até o fim dos tempos o nome do juiz que condenou Joana D’Arc será considerado infame.