Há lutas inglórias, guerras em que se entra já se antecipando a derrota certa. Quando o jogador de futebol Sócrates morreu, em consequência de uma cirrose, propus no Twitter que se aproveitasse aquele momento para uma reflexão sobre os males do álcool, cada vez mais precocemente consumido em nosso país, com a juventude virando vodca e tequila pelo gargalo, e lancei a ideia de uma Lei Sócrates, que, em nome dos jovens brasileiros e em memória do grande atleta, proibisse a publicidade de bebidas alcoólicas, como já há uma proibindo a publicidade do fumo…
Bem, a resposta foi negativa, claro. Gente debochando, gente até achando que eu estava desrespeitando a memória de Sócrates, vá entender!…
Agora, debocham de Ignez Barreto, na verdade, Ignez Costa e Silva, porque ela, na condição de líder de moradores de Ipanema, escreveu ao Ministério Público, junto com dois outros representantes da comunidade, pedindo que, durante o carnaval, seja cumprida a lei que diz que bebida alcoólica é produto de venda controlada e sua venda para menores de 18 anos é crime. Inez pede que ambulantes não tenham autorização de negociar bebida alcoólica, uma vez que nestes casos sua fiscalização e sua responsabilização, quando a lei é infringida, se mostram impossível…
“Bares e supermercados – explica Ignez – têm ponto comercial de referência, um alvará a ser perdido e poderão ser responsáveis financeiramente pelo pagamento de multas sempre que descumprirem a lei, já os ambulantes, pela própria natureza de seu negócio, ficam fora do alcance da fiscalização e destas medidas”…
Verdade é que nos grandes eventos – e em Ipanema o carnaval é o maior deles – os ambulantes vendem de tudo, sem qualquer controle: cerveja, cachaça, tequila, vodca, caipirinha, picolé de vodca e por aí vai. O resultado é uma lamentável e incontrolável multidão alcoolizada, formada em sua maioria por jovens e adolescentes. Vê-los caídos bêbados nas ruas é um quadro tão chocante quanto é ver crianças trabalhando na venda de bebida alcoólica. Nada mais sensato do que o que Ignez propõe: permitir aos ambulantes apenas a venda de refrigerantes, sucos, mates…
Agora vem um certo Dodô Brandão, do bloco Simpatia É Quase Amor, que fatura horrores com o carnaval, fazer demagogia com o apoio de uma coluna de jornal, dizendo que “dona Ignez” (este “dona” não é por respeito é para rotulá-la de velha, de ultrapassada, vocês sabem) deveria ir passar o carnaval na Suíça…
É inacreditável que exatamente a pessoa que deveria ser a guardiã de uma cultura de irreverência saudável importante para a cidade defenda que esta só possa ser mantida à custa de álcool e drogas (a nota faz a apologia de um carnaval com álcool e “outras privações de sentidos”)…
Importante dizer que Ignez é mãe e avó bem sucedida, de uma família muito bem encaminhada, cujos jovens não enfrentam problemas de bebida nem de drogas. Há outras ótimas mães que, infelizmente, enfrentam esses problemas desesperadores. É por elas que Ignez luta este bom combate. Bonito ver isso. Uma pessoa que abraça causas que não lhe dizem respeito diretamente, mas dizem respeito ao próximo, a toda a comunidade. Infelizmente, pessoas que se enclausuram no egoísmo de seu lucro fácil, de seu humor fácil, de seu sucesso fácil, pouco estão se lixando para a consequência do que dizem, do que fazem e do que escrevem…
Pois eu aqui me posiciono, cerrando fileiras ao lado de Ignez Barreto e Ana Luiza Archer, do Projeto Segurança de Ipanema, e de Bruno Pereira, do Quadrilátero do Charme de Ipanema, que assinam a carta enviada ao promotor Rodrigo Medina, do 4º. Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Infância e Juventude. Endosso o pedido ao Ministério Público para que os ambulantes sejam, sim, coibidos na venda de bebidas alcoólicas durante os grandes eventos, e não apenas no bairro de Ipanema, como também nos de Leblon, Copacabana, Botafogo, enfim, em todos os bairros desta cidade em que a juventude vem sendo tão exposta à sedução de todo o tipo de comércio espúrio – do álcool, às drogas ao sexo…