Hildegard Angel
O desespero nos massacra.
A incerteza de um Brasil caminhando sobre o fio da navalha amolada com o ódio.
A incerteza quanto ao futuro de nossa gente, nossa atmosfera, nossa água, nossas florestas, com as chaves de nosso presente e de nosso futuro entregues aos cuidados de um louco celerado, tudo isso nos descompensa.
Nos desintegra intimamente.
Dormimos e acordamos na insegurança de saber quantos mortos serão naquele dia, de doença, de fome, de arma de fogo, de desânimo, de relento e frio.
Um país movediço.
Este é o Brasil sombrio de Bolsonaro, fruto dessa aliança sórdida, que reúne políticos corruptos, fanáticos ignorantes, mídia perversa, gente ruim de todos os tipos e militares gananciosos.
Tivéssemos um botão vermelho para acionar a bomba atômica, ele, nosso feitor, Bolsonaro, inconsequente e tirânico, já o teria acionado.
Nesse desespero, as mentes delicadas, sensíveis, não suportam a pressão.
Ontem, se foram duas pessoas maravilhosas e frágeis. E não sabemos a real razão e exata.
Hoje, desconfia-se que a partida do artista indígena Jaider Esbell tenha sido por suicídio. Artista contemporâneo do povo Mucuxi, 41 anos, estrela incandescente da Bienal de São Paulo, no momento mais importante, fulgurante, de sua vida, honrado, elogiado, glorificado, nada disso foi suficiente para manter integra a frágil corda de violino Stradivarius que o ligava à vida.
Ela se rompeu tragicamente, causando nosso estupor.
Este não é um momento corriqueiro. Sobrevivemos na anormalidade, e os dotados de consciência abraçam de modo enérgico, e sem pensar em consequências, a causa de salvar o Brasil. Salvar o mundo. Salvar a Humanidade dependente de nossa natureza.
A causa de colocar esse governo em seu devido lugar: no chão.
Escreva eu uma odisseia, não falarei tanto e com a eficiência da obra de Esbell. Vejam aqui esse grito indígena parado no ar em seus trabalhos comoventes. Eu paro e lembro do grito do Tarzan da minha infância, do Jim das Selvas, de Raoni, o cacique do gravador, dos Irmãos Villas Boas, de Darcy Ribeiro, do pajé Sapaim, fazendo pajelança para salvar o ecologista Augusto Ruschi, o ecologista, naturalista, das orquídeas e dos beija-flores. Roguem por nós!