Nada mais desagradável do que alguém que enche a boca, estufa o peito cheio de moral e diz “eu não avisei?”, e fica recitando aquela lenga-lenga de quem tinha razão…
Pois é, e por falar nisso… eu não avisei? Não avisei que eu estava com os meninos da USP e não abria? E isso foi no dia 13 de novembro passado, quando a chamada grande imprensa (grande no poder e algumas vezes ínfima nas suas avaliações), praticamente em uníssono, se empenhava em fazer a caveira da garotada, porque esta se rebelava contra a presença da PM no campus universitário?
Vou lembrar apenas um trechinho do meu texto de novembro passado: “(…) Não é um procedimento “educativo” encher o campus de policiais militares, sobretudo desses PMs truculentos e despreparados como os nossos, do tipo “chame o ladrão”, como nos ensinou o Chico. Mais da metade dos crimes violentos de que a gente tem notícia são protagonizados por PMs. Com que confiança vamos entregar a vida de nossas crianças a esses homens armados? E se um “poliça” resolve achar que puxar fumo no campus é crime, se irrita com um “filho de papai” mais atrevidinho e decide meter uma bala na testa dele? E aí?(…)”…
E o que vimos acontecer ontem no campus da USP não foi praticamente isso? Não foi quase isso? Pois é. Eu não avisei? E cadê os leitores cheios de moral, desagradáveis, grosseiros, que escreveram a este blog toda sorte de desacatos fazendo a defesa da truculência? Onde estão eles agora? E a imprensa, que satanizou os “jovens baderneiros” (à exceção da revista Brasileiros, num belo editorial em defesa dos jovens na edição de dezembro), o que ela faz agora? Engole em seco e faz pose de imparcial, que jeito, não é?…
Abaixo, os links para as cenas filmadas, protagonizadas pelos PMs, introduzidos na USP, com os demais policiais militares, pelo reitor Grandino Rodas.
Abaixo, também, meu post do dia 13 de novembro, aos que queiram relê-lo…
POR QUE EU ESTOU COM OS MENINOS DA USP E NÃO ABRO
(post do último dia 13/11/2011)
Fui ontem a um almoço, numa casa muito bonita, de pessoas muito bonitas. As mulheres eram amáveis, os homens importantes. Empresários respeitados, industriais, jornalistas de fama e uma vereadora combativa da cidade do Rio de Janeiro. A horas tais, à mesa, solto esta: “Estou com os meninos da USP e não abro!”. Para escândalo do jornalista ao meu lado, meu conhecido de há mais de 30 anos, que reaje: “Pô, Hilde, não diz uma bobagem dessas!”. E eu, que não dispenso uma polêmica com bom caldo, desfio minhas razões, sem vírgula, nem pausa, nem ponto e vírgula:
“Ora essa, você teve 18 anos, eu já tive 18 anos, seus filhos tiveram 18 anos. Você deve saber como as coisas são. Nossos filhos cresceram sendo ensinados a ter medo de polícia, sobretudo de PM. E você já ouviu falar de alguma universidade do mundo que tenha polícia militar em seu campus? Harvard tem? UCLA tem? A Sorbonne tem? Yale? Lyon? Columbia? Coimbra? Nenhuma tem! Eles têm o serviço de policiamento da própria universidade, gente treinada. Não é um procedimento “educativo” encher o campus de policiais militares, sobretudo desses PMs truculentos e despreparados como os nossos, do tipo “chame o ladrão”, como nos ensinou o Chico. Mais da metade dos crimes violentos de que a gente tem notícia são protagonizados por PMs. Com que confiança vamos entregar a vida de nossas crianças a esses homens armados? E se um “poliça” resolve achar que puxar fumo no campus é crime, se irrita com um “filho de papai” mais atrevidinho e decide meter uma bala na testa dele? E aí? E você sabe quem é esse reitor Grandino Rodas? Por acaso, ele é o mesmo que se opôs ao processo de minha mãe na Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos. Um radical! Não podemos nos deixar contagiar pela primeira impressão, temos que pensar este episódio em profundidade e não em sua superfície. Estou com os meninos da USP e não abro. PMs no campus, não!”…
Esqueci de dizer que, na única respirada que dei, meu interlocutor, que quando eu conheci usava cabelos longos, conseguiu dizer: “Eu fumei maconha quando tinha 18 anos, mas não podemos deixar o tráfico invadir o campus da USP”. Ao que eu contra-argumentei: “E não é muito mais lógico que os maus policiais introduzam os traficantes na USP, já que eles vivem de extorqui-los, do que os jovens estudantes universitários?”…
Vamos brigar, sim, mas para que as universidades tenham recursos para criar suas forças próprias de segurança, bem treinadas, equipadas, qualificadas, motorizadas, e não para expor nossos jovens à truculência dos historicamente despreparados PMs…