Foi bonito, foi íntimo, foi elegante, foi tocante. Era o casamento do brasileiro Henrique Mollica e o príncipe italiano Giulio Durini di Monza.
Há três anos, Giulio e Henrique se conheceram e são felizes, dividindo-se entre a cidade de Milão e o Rio de Janeiro.
A solenidade seguida de almoço sentado, 14 pessoas à mesa, foi em casa da família brasileira de Giulio, no alto da Glória, com a imensidão da Baía da Guanabara por testemunha, os barcos como se a flutuarem contentes enfeitando a festa, a mais linda das vistas da cidade em dia iluminado, o mais perfeito dos ângulos.
Era como se todos os deuses de todas as mitologias houvessem conspirado para criar, naquele dia, naquele horário, naquele exato momento, o mais perfeito e harmonioso dos cenários para a união daqueles dois homens da mais perfeita beleza e mais harmoniosa das paixões.
A residência carioca Durini é daqueles tesouros extraordinários que o Rio de Janeiro mantém bem guardados, conhecidos apenas pelos insiders “da gema”.
Uma propriedade que domina a perspectiva da entrada da baía por completo, no alto da ladeira do Barão de Guaratiba, seu proprietário original. Posteriormente, foi adquirida pela fazendeira e colecionadora de cavalos de corrida, a russa Margarida Lara, que a descobriu quando a avistou ainda no barco de sua chegada rumo ao Cais do Porto, e decidiu, lá do deck do navio, que seria sua dona.
E foi! Até os 104 anos de idade. Só a vendendo ao casal Nicola Durini após anos de insistência de Josefina, por cuja sensibilidade e gosto Margarida se encantou, ao visitar sua fazenda nos arredores de Piraí. Conclui: Josefina e Nicola estavam à altura de serem seus sucessores à frente daquela “Villa” encantada sobre o Rio!
Eram encantos e encantos e encantos naquele meio-dia de quarta-feira, três de agosto do ano 2014.
Quem esperava encontrar uma juíza de paz soturna se deparou com uma diva, olhos azul turquesa, rosto belo, porte de modelo e tradição no Judiciário brasileiro. Vera Bandeira de Mello, neta, filha, irmã e mãe de juristas – e sua filha, linda como ela, atua como pesquisadora na Comissão Nacional da Verdade.
Sabe bem a dra. Vera a importância da bagagem familiar. Esta foi a tônica de sua preleção aos noivos. Emoldurada pelo dia límpido, ela falou: “O Casamento é baseado na união de duas pessoas diferentes, com afinidades, que seguem juntas por toda a vida, sob a proteção do Estado, o reconhecimento da Lei. A proteção maior, porém, será sempre delas. Elas é que realizam o Casamento no dia à dia, com amor e respeito em muitos outros sentidos, que apoiam o amor e servem de lastro à Família, fazendo dela o bem maior. A Família é a base da felicidade do Ser Humano. É nossa escola do Amor. Através dela a gente aprende a amar sendo amado”.
Competente e sensível, desde o início de sua fala referiu-se àquela cerimônia como “casamento”. Pois a tal da “união civil”, de que tanto falam, até na campanha política, simplesmente não existe na legislação brasileira.
Saibam vocês que a expressão “união civil” é usada no mundo inteiro para tentar rebaixar o direito dos gays ao casamento, criando uma instituição paralela discriminatória, exclusiva para homossexuais.
Vamos ser claros: de acordo com a Constituição Federal, o casamento é civil e ponto.E o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo já é possível em qualquer cartório do Brasil, graças a uma decisão do Conselho Nacional da Justiça, e para sempre! Era casamento, aquela cerimônia a que assistíamos naquele dia abençoado e pleno.
Como madrinhas e testemunhas, assinamos Josefina Durini, prima do noivo Giulio, e eu,amiga de Henrique e Giulio. Fiquei muito emocionada. Lembrei-me de quando, em 1998, recebi o Troféu Arco Íris de Direitos Humanos, no Cine Odeon, e chorei comovida pela distinção.
Henrique Mollica passou a se assinar com o sobrenome de Giulio: Henrique Mollica Durini di Monza. Assim com este novo nome Henrique já está, há quatro meses, inscrito no Libro D’oro Della Nobiltà Europee, onde é o primeiro brasileiro a entrar pelo casamento. A entrada antecipada, mesmo antes da formalidade legal no Brasil, se deu devido a uma questão meramente burocrática da edição, já que o livro é lançado apenas de dois em dois anos e sairia em maio passado.
Pelo casamento com Giulio, ele passa a também deter os títulos nobiliárquicos do marido, entre eles o de príncipe Durini e o de marquês. Giulio também é barão e é conde di Monza.
A trajetória da família Durini, das mais antigas e importantes da Lombardia, do ponto de vista político e também artístico. Com cardeais, bispos, governadores e prefeitos, o clã escreve a história de Milão desde 1644.
A família Durini é guardiã da coroa contendo um anel de ferro forjado com um dos cravos que pregaram Cristo na cruz, símbolo de poder na Itália, usada em 1805, por Napoleão Bonaparte, para se coroar rei da Itália.
Giulio Durini di Monza é um grande e renomado pintor na Itália. Formação dentro do academicismo, porém com olhar totalmente contemporâneo, resultando em trabalhos provocadores e de grande magnetismo. Tal qual o grande portrait de sua prima, no salão principal da casa.

Giulio ao lado do extraordinário retrato de sua jovem prima, pintado por ele, que mantém ateliê no Rio em apartamento com pé direito de cinco metros
Giulio Durini também preside a Fundação Alessandro Durini, que conserva e detém os oito palácios da família. No momento, ele concentra energias no Palazzo Durini da via Santa Maria Valle, em Milão. Trata-se do único dos palácios da família que pode ser visitado pelo público. A ideia é fazer dele um local para encontrar artistas, ouvir música, visitar exposições. Foi lá que viveram, se inspiraram e tiveram seus ateliês o pintor Giuseppe Bossi, que lá morreu em 1815, e o escultor Antonio Canova, amigo de Bossi.
Ao fim da cerimônia, a juíza selou, encerrou e sacramentou o ato com a célebre e definitiva frase: “Eu vos declaro casados perante a Lei”.
Todos nos abraçamos comovidos e contentes. As mulheres protegidas do sol, sob chapelões que Josefina teve a feliz ideia de deixar à disposição no canapé da varanda. Houve um brinde com champagne rosé ao ar livre, sobre o gramado diante do casarão.
Foi tocante. Foi elegante. Foi justo e belo.

Henrique Mollica, Josefina Durini e Giulio Durini

Henrique Mollica, a linda e elegante juíza Vera Bandeira de Melo e Giulio Durini di Monza
A mesa da cerimônia montada diante da Baía da Guanabara


A dra. Vera Bandeira de Mello faz sua preleção. Ela falou bonito e firme. Com a Justiça e com o coração.
Ser contra o casamento civil igualitário é ser contra os direitos civis dos casais do mesmo sexo, portanto, é ser contra a igualdade e a favor da discriminação.

A cerimônia ao ar livre diante da varanda da casa

Os noivos Giulio e Henrique vestiram-se iguais

Alianças clássicas de ouro amarelo e botões de rosas brancas nas lapelas

“No Brasil, a aliança é na mão esquerda”, a juíza Vera precisou avisar

O noivo Henrique Mollica, que passa a se chamar Henrique Mollica Durini di Monza

O noivo Giulio Durini di Monza

Madrinha Hildegard

Madrinha Josefina Durini

“Eu vos declaro casados!”

“Agora é o beijo, por favor”, pediu o fotógrafo Marinho

O brinde ao ar livre, após a cerimônia

Chapéus no canapé da varanda à disposição das convidadas que quisessem se proteger do sol

Enchapeladas Claudia e Cristiane Ferraz

Entre a juíza Vera Bandeira de Mello e a anfitriã Josefina Durini, o estilista Heckel Verri chegou no mesmo dia de Nova York, a tempo de estar no casamento dos amigos

No living, estofados desenhados pela própria Josefina. São grandes mesinhas, poltronas e pufes circulares, que deslizam sobre o chão de madeira, tecidos nas cores laranja e pink, e a conformação do ambiente muda de acordo com a vontade e a atitude dos presentes

Pink

Francesca e Josefina Durini

Patrick Mikaeloff, Abjan Avvani, Claudia e Cristiane Ferraz

A casa

Convidados

Nicolas Durini. Henrique e Giulio Durini di Monza já casados e Josefina Durini

À mesa

A sala do almoço

Os recém casados à mesma cabeceira

Sala de estar, o moderno se mesclando à arquitetura antiga

O discurso do príncipe Giulio Durini di Monza, no brinde após a sobremesa, elogiando o Brasil por seu exemplo de compreensão às diferenças, possibilitando o direito ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o que aqui é uma lei do Congresso, válida para sempre. “Infelizmente em meu país, na Itália, isso ainda não é possível”, lamentou. E todos fizemos um brinde, felizes, e cumprimentamos Henrique e Giulio, que há três anos se conhecem e sinceramente se amam.
Na véspera, os pais de Giulio telefonaram de Milão, ele um senhor de 85 anos, lamentou não poder estar aqui no Rio de Janeiro, falando de sua alegria por sabê-los estarem realizando um sonho e desejando toda a felicidade do mundo ao casal.

O brinde dos noivos e seus amigos à mesa

Francis Bogossian, Giulio Durini e Hildegard Angel
Fotos de Sebastião Marinho