AO FIM DO ALMOÇO DE GISELLA, ABSOLVIÇÃO GERAL DO PADRE

Gisella Amaral, a de 1001 utilidades, fez um almoço em sua sala de jantar blanc et bleu de Chine. Éramos seis à mesa. Desde a época em que foi decorada pelo incomparável Terry Della Stuffa, a sala de jantar de Gisella já passou por algumas mudanças, porém não trocou suas cores. Nos tempos do Terry, havia um lustre sobre a mesa de jantar, enfeitado com minúsculas xícaras de café azuis e brancas Cia. das Índias. Era lindo!

Primeiro, Gisella nos recebeu para drinks no living inglês da cobertura. O copeiro nos serviu um champagne batido com abacaxi e fiapo de casca de limão enroscado na borda do copo, seguido de uma bloody mary soup (bloody mary quente) numa tigelinha cercada de pétalas de rosa vermelho escuro, bem “bloody” (a rainha Mary Tudor iria adorar!). Como canapé, um dente de alho espanhol cozido sobre rodela de palmito, que corta o cheiro do alho (e todos pudemos continuar a conversar sem preocupação).

Como amuse bouche, ela serviu uma trinca de quadrados, receita do Troigros: um de salmon com laranja on the top e dois de torradinhas com queijo. Entrada: tigela com creme de clara de ovo com um topete de caviar. Prato principal servido numa marmita chinesa preenchida com água gelada (em vez de quente): morangos frescos repousando sur un lit de roses, salada verde e gelatina de rosas com alguns botões de rosas coroando essa beleza toda. Tudo comestível, naturalmente.

Au dessert, um sorvete de pistache diet, sob confetes de pistache, servido numa rosa imensa desabrochada.

Vinho branco.

O motivo do almoço era celebrar o aniversário do padre Túlio e saudar a chegada de Dino Trapetti para sua temporada anual de verão. Calliope Marcondes Ferraz, noiva casada pelo padre Tulio, era uma das convidadas. Ela falava contente que o marido Paulo Fernando vai receber, amanhã, dia de posse de novo presidente na Academia Brasileira de Letras no Petit Trianon, uma condecoração da ABL, pelo muito que ele contribuiu, idealizando e viabilizando o auditório da Casa de Machado de Assis.

Outra presente era a Elsa Gardenghi, já no Rio para o Natal.  Elsa está triste. Perdeu sua maior amiga na Italia, Cici Locatelli, chamada de “a rainha dos salões de Milão” pelo Corriere della Sera, que lhe dedicou extenso obituário, quase página inteira, lembrando que em seus salões eram encontrados da duquesa de Kent ao ‘prêmio Nobel’ que estivesse de passagem pela cidade. Trazida por Elsa, Cici esteve no Rio há alguns anos e fez o percurso das grandes anfitriãs cariocas, inclusive almoçando chez Gisella, naturalmente.

A embaixatriz Julia Gibson contava que vendeu o apartamento no Chopin e sai de lá para Ipanema, perto do Country.

O almoço era sentado. Homens às cabeceiras. As mulheres falaram tanto que o Dino não conseguiu colocar uma vírgula. Mudo, como num confessionário, padre Tulio era todo ouvidos. Quando a Elsa soube que ele era padre, já era tarde: ela já havia contado todo seu novo repertório de anedotas, afe!

Certamente não foi por isso que, ao sair, o religioso fez o sinal da cruz na testa de cada convidada. E também na do Trapetti, que, ao melhor estilo romano, curvou a cabeça e beijou o anel do padre.

É por isso que eu digo que meu amigo Trapetti é um vero lord italiano.

Quem bebe Trapetti repete.

foto(74)Dino Trapetti e Elsa Gardenghi

foto(77)Padre Tulio, Gisella Amaral e Callíope Marcondes Ferraz

hilde e dinoHilde Dino

idinha foto(75)Idinha Seabra, morangos e rosas comestíveis, e a embaixatriz Julia Gibson ao telefone

flor de pistacheO sorvete de pistache na rosa desabrochada

Uma ideia sobre “AO FIM DO ALMOÇO DE GISELLA, ABSOLVIÇÃO GERAL DO PADRE

  1. A “Bloody Mary” que adoraria o drink citado seria a rainha Mary Tudor da Inglaterra, conhecida com “A Sanguinária”, por perseguir os protestantes, e não a Stuart da Escócia. Mas o que importa mesmo é que o “texto Hilde” continua irretocável como sempre, inteligente e charmoso.

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