Eu gosto de chamá-lo de “nosso Vatel”…
Vatel foi aquele francês talentoso dos sete mil instrumentos, que ofuscou até o Rei Sol, Luís 14, com as festas extraordinárias montadas por ele, que não era apenas um cozinheiro fantástico (inventou o creme Chantilly). Era também maître d’hôtel, confeiteiro, diretor de cena, florista, cenógrafo, figurinista teatral, decorador…
Daí que, numa das festas produzidas por Vatel no Château de Vaux-le-Vicomte, ele montou esquetes teatrais com texto de Molière e música de Lully, balés, teatro de sombra, fogos de artifício, quadros vivos, malabarismo, numa sequência incrível e incessante de experiências sensoriais, aí incluído o paladar, proeza de cortar o fôlego dos 600 convidados da corte, entre eles o rei e sua mãe, Ana de Áustria…
Proeza de cortar também a cabeça (em sentido figurado) do patrão de Vatel, Nicolas Fouquet, ministro das finanças do rei Luís 14, que, enciumado, pôs Fouquet em desgraça, enquanto Vatel refugiou-se fora da França, só retornando anos depois, contratado por Louis II de Bourbon, o Grande Condé, como seu Mestre dos Prazeres e das Festividades…
A história é longa e, se quiserem saber mais, recomendo a leitura de Vatel, o Cozinheiro que deveria ser Rei, de José Paulo Zaidan Casallecchio, Editora Ideias…
Bem, ao melhor estilo século 21, Antonio Neves da Rocha, o magnífico decorador-cenógrafo das festas, em vez de tocar todos os instrumentos de uma orquestra como Vatel fazia nos anos 1600, sabe trabalhar bem em equipe, reunindo em torno de si os profissionais especializados mais qualificados de cada área e regendo todos eles com a sensibilidade de um Von Karajan. Daí o segredo de seu enorme sucesso, que já emplacou uma década e meia de festas fabulosas no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Brasília e arredores…
E quem é, afinal, esse fazedor de festas Neves da Rocha? Saiba mais sobre ele, sua história, sua família, as preferências e o processo de trabalho, lendo o texto abaixo, de nosso repórter colaborador José Ronaldo Müller
ANTONIO NEVES DA ROCHA, NOSSO FESTIVO REGENTE
De frente para o Pão de Açúcar fica a mesa de trabalho onde Antonio Neves da Rocha olha o mundo. Seu computador, sua agenda, suas revistas e de onde ele olha principalmente ao seu redor seus objetos de arte, que o inspiram para criar o que ele melhor sabe fazer: festas. Sentado na sua cadeira Aeron Chair, o ambientador das festas mais deslumbrantes do Rio, Antonio Neves da Rocha, recebe noivas, gerentes de marketing de empresas, empresários, mães nervosas e sua clientela preferida, as antigas debutantes e hoje garotas antenadas, blogueiras e que são, como no passado, loucas para dar uma festa de arrasar. “Adoro festas de 15 anos, porque eu acompanho a cabeça das meninas e elas são a mostra de tendência, criam as mais loucas aventuras imaginadas para uma festa e nenhum pai tem coragem de contrariar uma linda garota de quinze anos”, brinca Antonio…
O passado e o futuro se misturam na cabeça do criador. Referências não faltam, a avó, Helô Willemsens, está presente no óleo pintado por Portinari e na linda coleção de objetos de prata. As porcelanas também estão presentes. A mãe, Lia Neves da Rocha, adorava serviços brazonados e objetos de porcelana e sua presença é uma ausência. Lia, como o filho Antonio a chamava, é o leitmotif de sua carreira. Mas, Antonio, como um bom filho, foi além, desenvolveu um estilo e uma marca pessoal. Mercedes Orléans e Bragança, irmã de Antonio, é uma excelente pintora de porcelana. Mais uma referência e apoio, Christiana Neves da Rocha, a outra irmã de Antonio, radicada em São Paulo, é uma aficionada por antiguidades. Tanto DNA de connaisseur na veia e de histórias da família Neves da Rocha não deu outra coisa: Antonio tornou-se um colecionador também do passado e do futuro…
Para o genial Antonio, algumas etapas profissionais foram vencidas e outras nunca se esgotam. A decoração de casas e apartamentos é coisa do passado. “A diferença é que como decorador eu posso fazer 10 projetos por ano. As decorações e criações de festas são sem limite. A multiplicidade de pessoas e de ambientes é do que mais gosto”, conta Antonio…
Uma das suas amigas do coração, Maria Geyer, mudou-se para uma linda casa e, no ato da compra, ela e Antonio já sabiam como iria ser a casa. O resultado é que Maria Geyer possui hoje uma das casas mais bonitas do Rio. A decoração do amigo Antonio Neves da Rocha traduz um pouco da cumplicidade de gostos dos dois. “Amo uma fazenda, já tive uma e Maria também. A casa reflete esse “réve” de mais tarde, um dia, quando estivermos velhinhos, morarmos numa fazenda, mas sempre terá um espaço para uma boite em casa, com Maria de DJ e muitos convidados,” ri Antonio…
“Adoro uma quantidade, as festas, uma agenda cheia delas é o que eu mais gosto. Muita pressão, muito stress, gosto de ir dormir e achar soluções. Sou o rei dos planos e executá-los é um estímulo para o meu trabalho. Tenho quatro livros para fazer, uma correria”, conta Antonio. Tudo começou na casa de Sérgio e Maria Helena Chermont de Britto, uma festa há 15 anos e de lá para cá Antonio não parou mais. Casamentos, jantares, incontáveis celebrações. Tudo com um requinte e senso de estilo que beira o barroco e o contemporâneo…
“O futuro é fundamental. É o outro lado pelo qual eu sou apaixonado. Se gosto de planos é porque eles projetam uma visão do futuro e isso eu também encontro na arte contemporânea brasileira”, fala Antonio, que está cercado por suas obras. Tatiana Blass, Tunga, Waltércio Caldas, Barrio e sua mais nova paixão, os desenhos e a pintura de Daniela Carcav. “Acho o trabalho dela bem consistente. E mesmo com o tal chamado mercado eu não abro mão da minha visão”, fala Antonio. Vai aí uma dica do colecionador…
Para descrever seu trabalho, Antonio Neves da Rocha não poupa o assunto. “Definitivamente eu não trabalho com frieza. Acredito no conceito, as festas realmente lindas, as pessoas não sabem descrever direito, fica uma emoção. Meu forte é o contato. Me coloca uma pessoa difícil na frente e isso vira meu desafio, adoro seduzir. Na minha infância, as amigas da minha mãe mais difíceis e sérias foram as de quem eu me tornei mais amigo, Lourdes Faria, Kiki Almeida Braga. Sabe aquelas que não dão bola para crianças, essas foram as que eu conquistei”, conta Antonio.
“Gosto de festas temáticas. Que possuem um fio condutor e que surpreendam na sua concepção, por isso gosto das festas de quinze anos. O casamento tem a realidade do casal, tem que haver um consenso, não dá para fazer performances e mudar as características do casal”, fala Antonio…
Os personagens literários Doutor Jekyll e Mister Hyde são uma analogia para a múltipla personalidade de Antonio Neves da Rocha. Não é o bom e o mau, mas são os estilos, um é barroco, o outro é contemporâneo, um é o rei e o outro… “Sou humilde e sou do dito popular que o cliente tem sempre razão. Não penso em detalhes, vejo um desenho geral. Os detalhes são importantes, mas não conduzem uma festa. Olho com os olhos apertados antes de entregar a festa, se tudo está enquadrado e a luz. Dou muito valor à iluminação, se estiver correta sei que vai bombar”…
Antonio não gosta do vento, gosta da chuva. Gosta de música no carro. Em casa prefere ver um filme. Ama seus três cachorros da raça Cavalier King Charles Spaniel. Gosta da vida do campo, de cuidar de gado, agricultura. Gosta de Londres, mas não passa mais de dez dias viajando. Não é obcecado por nada, só pelo trabalho…
Antonio Neves da Rocha, escultura de Ascânio sobre a mesa
Antonio: anjos barrocos, escultura Art-déco, pintura abstrata
Antonio e um de seus três cães da raça Cavalier King Charles Spaniel
Fotos de Sebastião Marinho
Caro Antônio, acho vc. um espetáculo. Parabéns pelo seu trabalho, por sua inteligência, seu bom gosto. Adoraria participar de uma dessas suas criações. Não tenho dinheiro para ir. Me convide. Deixe eu realizar esses sonho de ver ao vivo você e essa sua obra simplesmente MARAVILHOSA.
Onde posso comprar o livro?