Este vídeo foi filmado na segunda-feira, nas cercanias da maior manifestação, no Centro do Rio de Janeiro, e indica uma movimentação suspeita de policiais, que trocam a farda por roupa civil, aparentemente para se misturarem aos manifestantes.
Digo aparentemente pois só isso justificaria a perseguição empreendida, ato contínuo, à jovem que os flagrou nessas circunstâncias, que nada teriam de grave, se não fosse para cometer algum delito.
O delito que se supõe seria se disfarçar com o propósito de cometer arruaças, transformando um protesto pacífico, como se pretendia, num ato de vandalismo.
Os comentários postados no YouTube indicam o local onde teria sido feito o vídeo. Por enquanto tudo são suposições, mas as imagens realizada merecem uma investigação profunda dos órgãos de segurança (delegada Martha Rocha, secretário Beltrame), pois cheiram mais a ações provavelmente da direita, infiltrada no movimento para descaracterizá-lo e “tocar terror”, bem semelhantes às que outrora aconteciam, na época de 1968, botando o povo contra a juventude e fortalecendo no poder o truculento golpe militar.
Você melhor que ninguém conhece essas manobras da direita! Sou daquela época do heroísmo do seu irmão e sua mãe: e também sei do preço que pagaram.
Um grande abraço e continue sua luta, denúncias, em memória deles!
Acorda , Hilde! Eu a adoro, mas vocês está equivocada!
Esses protestos não são de direita, não são de esquerda! É do povo classe média, que CANSOU!
Ontem mesmo estava com a minha turma de pilates e duas pessoas da turma estavam falando que vão para o protesto marcado aqui para Recife, amanhã. NÃO SÃO ELEITORES DO PT, NÃO são ELEITORES DA EXTREMA ESQUERDA!
Acorda, querida! É um protesto de pessoas que não suportam mais PT, PSDB, qualquer droga de partido.
Para quem protesta, não há mais essa de ideologia de esquerda, de direita!
Sim, o protesto surgiu na extrema esquerda, mas já fugiu a esse propósito! A esse pessoal, que era um grupo pequeno, juntou-se o povo CLASSE MÉDIA!
Hoje, no meu trabalho, havia pessoas dizendo: sim, quem está protestando não anda de ônibus, MAS PAGA O TRANSPORTE DOS SEUS EMPREGADOS, DAS SUAS SECRETÁRIAS DO LAR. Esse pessoal cansou da roubalheira, da injustiça, da falta de atendimento na saúde, da falta de boas escolas… E cansou de ser acossada, de sempre está pagando mais impostos, mais encargos e não ver retorno!
Quem recebe bolsa-família não está na rua protestando! É A CLASSE MÉDIA ODIADA PELA MARILENA CHAUÍ quem agora agigantou os protestos!
E o seu PT NÃO REPRESENTA ESSE POVO, nem o odiado por você PSDB.
É um movimento apartidário, de revolta contra tudo! Onde vai dar? Não sei!
Tem gente infiltrada para badernar? Sim, mas para com essa mania petista de pôr a culpa sempre nos outros! O POVO TAMBÉM SE CANSOU DISSO!
Desculpe o meu desabafo, mas eu tinha que falar!
MOVIMENTOS DE JUNHO DE 2013
Hannah Arendt dizia que a Política somente pode existir no espaço criado por consenso entre pessoas e grupos de pessoas diferentes. A grande teórica também ressaltava a fragilidade deste espaço. Quando grupos antagônicos se tornam irreconciliáveis, o espaço da política é destruído e só uma Terra Devastada passa a existir entre exércitos inimigos.
Os conflitos que tem ocorrido nas ruas brasileiras, com evidente risco de destruição do espaço político porque há violência e repulsa por partidos políticos, obriga-nos cuidar de nossa Democracia Representativa e a fazer o que necessário for para evitar o Totalitarismo. Nunca é demais esquecer que o pior Totalitarismo é aquele que parece democrático, que parece ser construído a partir das ruas.
Certa vez um colega meu disse o seguinte num blog onde eu discutia estas questões:
“The Antidote is logic and objectiveness; two things that differentiates humans from the animals.”
Ele se refere a lógica e a objetividade como um antídoto para a rejeição da Política ou para a destruição do espaço político.
Concordo inteiramente com sua frase. Mas faço uma pequena objeção.
Para mim o problema é que nós agora não estamos diante de um fenômeno pessoal, mas diante de um problema social, político e cultural. Ontem, por exemplo, um rapaz deliberadamente investiu contra a sede da Prefeitura de São Paulo em fúria destrutiva. Seu comportamento despertou um vivo debate entre os manifestantes no Facebook. Há os que condenam e exigem que ele seja punido, mas para muitos ele é o exemplo a ser seguido. Como uma pessoa pode ver como normal um comportamento socialmente anormal e destrutivo?
Na Alemanha dos anos 1930 milhares, talvez milhões, de bons, piedosos e cristãos aderiram consciente ou inconscientemente ao nazismo. Hannah Arendt estudou o fenômeno e creditou o sucesso do nazismo a “banalidade do mal”. Quando o mal se torna banal é impossível fazer qualquer distinção entre bem e mal. O mesmo parece se aplicar ao comportamento deste paulista que depredou a Prefeitura e daqueles que o apóiam e até o consideram um herói.
O heroísmo se distingue da conduta normal por seu caráter benéfico e exemplar. O que aquele rapaz fez foi destruir patrimônio público e isto é crime (não há nada de exemplar em cometer crimes, inclusive porque quando isto ocorre numa manifestação expõe a multidão à sanha repressiva dos policiais).
Não estou falando aqui que estes garotos sejam nazistas (no sentido próprio da palavra). Mas que fenômenos sociais similares podem e devem ser entendidos através de analogias.
Em seu comentário, meu amigo fez ainda um outro comentário digno de nota:
“Eventually, a line of propaganda can become so entrenched that entire nations suffer a collective psychosis.”
Psicose coletiva! Esta pode ser a chave para entender o que está ocorrendo neste momento.
Psicose coletiva é, sem dúvida, uma excelente descrição do que ocorreu na Alemanha nazista. Também pode ser uma excelente descrição do que pode estar ocorrendo no Brasil. Após uma grande manifestação, outra maior se seguiu e outra muito maior ainda ocorreu. A violência não é a regra, mas já começa a ser praticada com “estilo” e a ser glorificada no Facebook.
As contradições e atos falhos sempre são muitos, mas não são vistos pela maioria. Exemplo. Várias pessoas no Facebook rejeitam de maneira enfática a partidarização do movimento. Outros, uma minoria, dizem que o movimento é apartidário e não anti-partidário.
Os partidos políticos são entidades legais e legítimas. Portanto, os militantes dos partidos têm sim direito de levar suas bandeiras para as ruas. Negar-lhes o direito de ostentar seus símbolos equivale a suprimir nas ruas um direito garantido a estes cidadãos pela CF/88. Num Estado de Direito nenhum grupo, por mais bem intencionado que seja, tem ou deve ter o direito de transformar as ruas numa espécie de Tribunal de Exceção onde as ações das pessoas são sumariamente julgadas e consideradas corretas ou inadequadas. No limite, tenho visto garotos no Facebook defendendo abertamente o espancamento dos militantes dos partidos. Isto certamente não é coisa de democratas e sim de proto-fascistas.
As multidões são fenômenos sociais antigos e tem sido estudados há um bom tempo. Em PSICOLOGIA DAS MULTIDÕES (Gustave Le Bon, Martins Fontes, 2008) aprendemos que:
“O desaparecimento da personalidade consciente e a orientação dos sentimentos e dos pensamentos em um mesmo sentido, primeiros traços das multidões em via de organização, nem sempre implicam a presença simultânea de vários indivíduos em um único local. Milhares de indivíduos separados podem em um dado momento, sob a influência de certas emoções violentas, um grande acontecimento nacional, por exemplo, adquirir características de uma multidão psicológica. Um caso qualquer que os reúna bastará então para que sua conduta logo se revista da forma específica dos atos das multidões. Em certas horas da história, meia-dúzia de homens podem constituir uma multidão psicológica, ao passo que centenas de indivíduos reunidos acidentalmente podem não constituí-la.”
Levando em conta os critérios definidos por Le Bon, devemos concluir que neste exato momento, através do Facebook e apesar de viverem em cidades e Estados diferentes, de terem diversas origens sociais, simpatias políticas, intenções pessoais e situações econômicas, centenas de milhares de brasileiros (talvez até milhões, pois a velocidade de crescimento do movimento na internet e nas ruas nos últimos dias têm sido exponencial) constituíram uma verdadeira Multidão Psicológica Temporária com uma finalidade: modificar o país.
O que os jovens querem mudar? Esta é a verdadeira questão. O movimento iniciou como uma reivindicação específica (redução das passagens), mas nas ruas há aqueles que querem a deposição de Dilma, o impedimento de Alckimin, a ilegalidade dos partidos políticos, a pena de morte, a redução da maioridade penal, o linchamento de Haddad e por aí vai. Loucuras são ditas no Facebook e automaticamente começam a ser discutidas. Nas ruas impera um certo clima de euforia e delírio. Ontem um garoto amigo meu me ligou dizendo “… é a revolução mano, é a revolução”. Não foi a revolução e hoje a realidade recuperou seu curso e ele foi trabalhar na Prefeitura de São Paulo cujo Prefeito ontem ele questionava nas ruas.
A Multidão Psicológica Temporária segue seu curso: atacando as autoridades, depredando patrimônio público, rejeitando partidos políticos, saqueando lojas, fugindo ao controle dos líderes do movimento, queimando equipamentos da imprensa que ali está para reportar e, de certa maneira, ajudar a fazer o movimento ganhar legitimidade e crescer. O céu é o limite, mas o inferno do totalitarismo está ali na esquina.
Afinal, pessoas que atacam a existência de partidos políticos só acreditam numa coisa: que o poder emana de Deus e é conferido a uma casta por ele escolhida, que o poder emana da força bruta e deve ser exercido pelo mais forte e, principalmente, que o poder emana do dinheiro e só pode ser exercido pelos mais ricos. Portanto, num país tão cheio de diferenças como o Brasil, os que neste momento usam o Facebook e as ruas para tentar destruir o sistema representativo ou a própria existência de partidos políticos brasileiros, não querem que o poder seja do povo. Querem é se apropriar do poder para pisotear o povo assim que comandarem soldados.
É evidente que os governos não podem abrir mão do poder/dever de governar. Mas isto não pode ser feito com violação das liberdades civis dos cidadãos (rejeito aqui e de maneira veemente a violência policial criminosa da PM paulista em 13/06/2013). Os governos não podem nem devem tentar silenciar a mídia para evitar a proliferação do movimento. Não podem, todavia, tolerar a violência política nas ruas especialmente quando há risco de ela se tornar a regra em virtude de sua valorização no Facebook.
Não vou discutir aqui a justiça ou não das reivindicações destes movimentos. Isto de certa maneira se tornou irrelevante: como uma psicose coletiva contagiosa eles se espalharam por todas as cidades do Brasil. Nosso trabalho agora é tentar entender o que ocorre e remediar o que pode ser remediado.
A imprensa tem que agir de maneira responsável neste momento. Ontem, porém, vi telejornalistas criticando o governo federal por gastar dinheiro demais em estádios. Curiosamente, os próprios veículos de comunicação em que eles trabalham lucraram, lucram e lucrarão fortunas com os eventos esportivos internacionais realizados nos tais estádios. Usar o clamor das ruas para encurralar um governo legitimamente eleito pelo povo e que não tem qualquer poder de decisão quando a questão é o preço das passagens de ônibus e de trem/metrô não é inadequado, é coisa de canalha não de jornalista.
Há algumas décadas, jornalistas ajudaram a construir uma Ditadura. Depois foram torturados e assassinados por ela. Espero que isto não ocorra novamente.
Fábio de Oliveira Ribeiro
advogado