Entre as filhas, Narcisa e Alice Maria, Alicinha Tamborindeguy com seu companheiro inseparável: o blazer nos ombros
Morreu Alice Tamborindeguy, a Alicinha, seu apelido, ou “Aliçona”, como preferiam chamar alguns. Mas o que de fato a definia não eram nomes, sobrenomes ou títulos, como o de “a Matriarca Tamborindeguy” ou “Amazona do Chopin”, cunhados por mim.
O que explicava Alice era seu caráter único e firme, de mulher franca, eram suas atitudes de rara lealdade.
No período difícil do exílio da família Brizola no Uruguai, ele e dona Neusa com as três crianças em Montevidéu, sofrendo penúrias e toda sorte de dificuldades, eis o relato de Neusinha, cujo apelido era Baía, em sua biografia:
Dona Alice
“(…) Uma vez perguntei a minha mãe se os anjos existiam. E ela respondeu:
– Deus usa as pessoas como anjos, Baía.
Uma delas foi Dona Alice Saldanha Tamborindeguy, que mais tarde seria mãe de Narcisa e Alice, grandes amigas minhas no Rio. Gaúcha de Alegrete, Dona Alice também se tornaria companheira oficial de minha mãe, tanto pessoal quanto nos eventos durante os futuros mandatos de meu pai.
Ela mandava entregar comida para nós, contendo suprimentos, hortaliças, legumes, carnes. Enviava também cobertores, roupas e calçados.
Meus pais ficavam constrangidos.
– Não se arrisque por nós, Alice.
Ela levantava o punho cerrado e dizia:
– Pra quê servem os amigos nessa vida inimiga?
Os entregadores chegavam com as caixas de compras e minha mãe corria para perto da imagem de Santa Terezinha, agarrada ao rosário e chorando, entre orações do Pai Nosso e da Ave Maria.”
Depois desse relato de Neusinha, acho que nada mais preciso acrescentar sobre essa gaúcha franca, de palavra solta e precisa, sem medo de se posicionar quando se tratava de estar ao lado de um amigo, mesmo que houvesse um preço alto a pagar por isso.
O enterro de ‘Dona Alice’ será amanhã, às 14 horas, no Cemitério São João Batista.
Minha estimada Alicinha descansou.
Hilde
Cara Hilde, permita-me tira-la da concentração no seu trabalho, para ser solidário contigo, após a enfim confessada participação total e criminosa das fôrças opressoras do regime militar, na morte e ocultação do cadáver do seu irmão, que assim como este humilde escriba, esteve na linha de frente, contra a ditadura, e pela redemocratização brasileira. Mesmo virtualmente, aceite um abraço de pesar e de pêsames, extensivos a todos os seus, e em especial(e in memorium) à sua mãe, cujo sofrimento é impagável, porem a lembrança de que a nossa luta(a minha, a do seu irmão, e de muitos outros brasileiros) não foi em vão. Do céu, certamente, ele tem a certeza do dever cumprido, e a certeza tambem, que é inesquecível.
Que linda homenagem Hilde. Perdemos uma pessoa muito especial. Alicinha, sinto muito.
Desnecessária essa história do Brizola.
História de solidariedade!!!!