Não são os detalhes, nem os materiais, nem as misturas, nem as texturas, nem as cores e muito menos é o tema. O que faz da coleção exibida por Ronaldo Fraga, no encerramento da São Paulo Fashion Week, o grande plus do evento é o talento especial do estilista, que não apenas produz roupa bonita. Ronaldo é daqueles cuja obra na moda transcende a beleza, vai além da forma, da proporção, da harmonia. O que ele faz é pura arte, uma explosão de criatividade, um mergulho profundo em sua alma de criador, no mundo em que vive, em sua memória, seu íntimo, suas raízes, suas observações cotidianas, suas minas gerais. Um mergulho transformador, que só os realmente grandes conseguem ousar. Assim, quando Fraga nos apresenta uma grande coleção, ele se parece com um Alexander McQueen em seus melhores momentos ou qualquer outro de sua estatura que são maiores do que a própria atividade artística que escolheram para se expressar…
Isso posto, quero dizer que esta coleção, em que Ronaldo canta carnavais passados, poderia ser música, quadro, escultura, filme. É diante de uma obra desse porte que qualquer questionamento sobre se moda é arte ou não cai por terra, se esborracha diante das evidências mágicas. É quando a agulha e a linha têm o mesmo porte de um cinzel, uma espátula, um instrumento musical. E dão forma a alguma coisa linda, que nos encanta e extasia…
Só o Ronaldo para gravar pierrôs apaixonados em suas saias, imprimir marinheirinhos do passado nos vestidos, salpicar confetes em pernas nuas, plissar colombinas, desabar chapeus malandrinhos, elevar notas musicais e até pandeiros ao cocoruto das mulheres, e tudo parecer suave e delicado, uma sinfonia de belezas sucessivas. Ah, este mineiro Ronaldo é um daqueles talentos para se guardar do lado esquerdo do peito da moda brasileira, junto com outros poucos, muito poucos…
Como vocês vêem acima, Ronaldo Fraga nos brindou com um desfile emocionante, delicado, repleto de brasilidade e originalidade, como já é de seu costume. Embalada pela Velha Guarda da Vila Isabel tocando velhos clássicos de Noel Rosa, a coleção surgiu como num baile de carnaval dos anos 30, todo em preto e branco. Destaque para os lindos florais, notas musicais, pierrots e pois bordados, resultado do trabalho que Ronaldo desenvolve com cooperativas de bordadeiras do Nordeste. De forma delicada, o estilista trabalhou as transparências em vestidos, camisas e saias de tule com camadas de tecido enviesado, franzido e plissado. Confiram mais…
Fotos: Agência Fotosite / Zé Takahashi, via FFW
Fotos: Agência Fotosite / Marcelo Soubhia, via FFW
Fotos: Agência Fotosite / André Conti, via FFW