Ontem, eu disse que não comentaria o episódio de Cristina Mortágua, pois era “mondo cane” demais. Hoje, resolvi falar, mas não para, seguindo a corrente da hora, apedrejar os envolvidos. Acho que cabe aqui um mea culpa também da imprensa que engendra os famosos, um olhar seu para suas próprias responsabilidades, quando divulga, endeusa, enaltece personalidades muitas vezes sem conteúdo, sem substância e, principalmente, sem uma obra que justifique fama tamanha…
Uma imprensa não comprometida com parâmetros, com apontar caminhos, com discernir mérito e demérito, mais do que informar, ela presta um grande desserviço à sociedade como um todo. Pois é tamanho o poder de influenciar pessoas que a mídia hoje detém, que não podemos nos abster de refletir sobre seus compromissos com a sociedade, sua responsabilidade social e, mesmo, cidadã…
A imprensa não pode e não deve simplesmente priorizar apenas os números de sua circulação, os índices de sua audiência e o lucro. Quando age assim, ela se apequena e apequena todo o seu entorno. Reduz, mediocriza e dá ensejo a que histórias tristes como essa, do affair Mortágua, ou mais outras, como o caso Bruno, se repitam rotineiramente em nosso noticiário…
Pessoas que chegam, não mais que de repente, ao estrelato das news, mais pela sua capacidade de ‘causar’ (impacto) do que por suas realizações. É aquela que consegue engravidar de uma celebridade que lhe garanta o sustento e o assento no pódio das celebridades, é aquela que escancara na rede seus momentos sexuais, à la Paris Hilton, é aquele que descola casa/comida/roupa lavada e a atenção dos paparazzi em seu papel de consorte da vez de alguma atriz ou apresentadora veterana de TV…
São esses os valores que a mídia, hoje, propaga como mérito, como referências, como caminhos para ‘se dar bem’. Não digo que a imprensa não deva noticiar, afinal, interesse há. Mas fazê-lo de modo crítico, responsável e com equilíbrio. Gastando tinta e papel também para celebrizar quem de fato merece…
Querem um exemplo de mídia responsável e de qualidade? A última edição da revista Brasileiros, que traz, além do pensamento do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, o libelo antifumo do médico Drauzio Varella e as boas lembranças musicais de Tom Zé, evocando seu mestre, o maestro Koellreutter. Estes, sim, celebridades com sustança. Pena que a grande mídia não lhes dê tanta bola…