Nesta quinta-feira, recebemos a triste notícia da morte de François Lesage, o mais famoso, renomado e talentoso mestre da arte do bordado. Lesage faleceu ontem à noite, aos 82 de idade…
François Lesage em seu atelier, em Paris
A história da Casa Lesage teve início em 1924, quando os pais de François, Albert e Marie-Louise, compraram a casa de bordados Minochet, que costumava bordar para Napoleon III e para Charles Worth, o pai da Alta-Costura. A partir daí, surgem outras bem sucedidas parcerias da casa com grandes nomes da Haute-Couture da época, como Jeanne Paquin, Paul Poiret, Madeleine Vionnet, Redfern e Elsa Schiaparelli…
Bordados da Casa Lesage para Elsa Schiaparelli, década de 30
Mas o até então jovem François tinha outros sonhos, queria conquistar a América. Deixou o atelier dos pais, em Paris, e mudou-se para a Califórnia, onde abriu, na Sunset Boulevard, um novo atelier de bordados, caindo nas graças das estrelas de Hollywood. No entanto, em 1949, após a Segunda Guerra Mundial, François decidiu retornar a Paris, para assumir a gestão da Casa Lesage. Nessa época, cresceram as parcerias com outros grandes, como Balmain, Balenciaga, Piguet e Jacques Fath…
Bordado para Balenciaga, década de 40
Vestido bordado para Balenciaga, década de 60 – Acervo Victoria and Albert Museum
Ainda nos anos 60, o audacioso François decidiu modernizar a casa tradicional, experimentando novos materiais e novas formas de se bordar, além de resgatar antigas técnicas, unindo o clássico ao moderno. A clientela cresceu: Lanvin, Givenchy, Dior, Grès, Patou e Yves Saint-Laurent se renderam ao talento e à beleza dos bordados Lesage. Um casamento mais que perfeito!…
Detalhe de vestido bordado para Lanvin, década de 50 – Acervo Victoria and Albert Museum
Casaco Yves Saint-Laurent, com bordados em homenagem a Van Gogh, 1988 – Foto: DR, James Bort -Puretrend
As inovações seguiram… François era incansável! E, possivelmente, este é um dos motivos pelo qual a Casa Lesage é a número 1, até hoje, na técnica e na qualidade dos bordados. Mesmo com o advento do prêt-à-porter, o atelier continuou a produzir, agora, também, o que se pode chamar de prêt-à-porter de luxo! A perfeição e a delicadeza de seus padrões impressionam. Suas bordadeiras, escolhidas a dedo, trabalham com as próprias mãos. Uma única peça pode levar centenas de horas para ficar pronta…
Bordados cuidadosamente feitos a mão, no atelier de Lasage, em Paris
Nos anos 80 e 90, os estilistas americanos também se renderam aos bordados de Lesage. Só para citar alguns nomes: Calvin Klein e Oscar de la Renta. Sem esquecer dos mestres europeus, Karl Lagerfeld, Christian Lacroix e Jean-Paul Gaultier! Como vocês podem ver, não há um grande nome da moda que não tenha recorrido ao trabalho da Casa Lesage...
Christian Lacroix, 2009
No Brasil, a casa Mme. Rosita foi uma das que procurou Monsieur François para bordar seus vestidos. Inclusive, o Instituto Zuzu Angel possui um deles em seu acervo. A peça, lindíssima, pertenceu a Dona Karolina Lewandowska. Possivelmente deve datar da década de 50, e o mais emocionante é que os bordados estão intactos, perfeitos, o que comprova a qualidade do trabalho do atelier Lesage…
Vestido Mme.Rosita, que pertenceu a Dona Karolina Lewandowska – Acervo Instituto Zuzu Angel
E nem o Papa ficou pra trás! João Paulo II teve bordada, pela Casa Lesage, sua Casula e sua Mitra!…
Com o intuito de transmitir seu savoir-faire às futuras gerações, em 1992, François inaugurou, em Paris, a Escola de Bordados Lesage. Um conhecimento que antes era passado de pai para filho, agora pode ser aprendido por qualquer pessoa que tenha interesse, tanto iniciantes quanto veteranos. Bonito, né?…
Em 2002, a maison Chanel comprou o atelier Lesage, permitindo que se desenvolvesse sem perder sua independência. Isto é, além de produzir bordados exclusivos a cada coleção da Chanel, a casa também continua atendendo a novos e antigos clientes, como Saint-Laurent, Dior, Valentino, Dolce & Gabbana e Louboutin…
Chanel, Spring 2011 – Haute-Couture
Chanel, Spring 2011 – Haute-Couture
Mocassim Louboutin, 2009
Em 2007, François recebeu o título de oficial da Legião de Honra, na França. E, mais recentemente, recebeu a condecoração francesa de Mestre das Artes. Lesage nunca se aposentou. Tinha um verdadeiro amor pelo que fazia. Mas há pouco tempo, talvez devido ao seu cansaço, foi anunciado um novo diretor criativo para a maison: Hubert Barrère. Coincidentemente, Barrère já estava programado para assumir o posto hoje, um dia após a morte de François Lesage…
Lesage vai deixar saudades, mas sua obra viverá para sempre. Fica aqui registrada, no Blog da Hilde, a homenagem a este grande mestre…
Hilde, vc é muito importante por preservar, divulgar e difundir a alta costura e tudo que gira em torno, numa visão de expressão artística dos seus criadores e Representativa da cultura de um país!