Se vocês ainda não leram o Caderno ELA de O Globo de hoje, leiam. Há uma muito bem escrita reportagem, por Livia Breve, sobre a exposição “Arte, uma política subversiva”, em cartaz na antiga Fábrica Bhering, na TAL, apresentada na matéria como “a primeira galeria e espaço multimídia do Brasil”.
A Fábrica Bhering é uma usina de gente talentosa que desponta cheia de vigor no cenário artístico nacional, um pote fumegante de galerias, situado além do arco-íris do Santo Cristo. Uma das gratíssimas novidades que o Rio de Janeiro oferece a quem quer desvendá-lo.
Lá, Gabriela Maciel, artista plástica, ousa a sua TAL, iniciais de Tech Art Lab. Porém, poderia ser TAL, de simplesmente “É a tal”, como costumamos dizer (ou costumávamos?) quando a coisa é bacaninha, é tudo de bom. Pois a TAL de Gabriela é a tal mesmo.
Sua proposta com a mostra é somar as artes plásticas à arte da indumentária através da subversão. Para produzir essa liga, ela foi buscar um fato na História, lá atrás, nos anos 70, quando a estilista Zuzu Angel, minha mãe – e mãe é mãe – realizou um desfile de protesto político. O primeiro na História da Moda com tal propósito.
Zuzu denunciava ao mundo as atrocidades da ditadura brasileira, com sua moda singela, quase pueril. Imagens aparentemente leves e ingênuas e de conteúdo com tamanha intensidade e crueza que, naquele contexto, naquela época, surgiam como um grito de dor e horror.
Foi em Nova York, época do governo do mais tirano dos ditadores, Garrastazu Médici. A imprensa internacional cobriu e repercutiu. O governo brasileiro não gostou. O ministro da Aeronáutica da época “caiu”, como se dizia.
Era a Moda subversiva que surgia, nascia, era parida pela mater dolorosa Zuzu.
Cinco décadas passadas, na expo da TAL a subversão está presente, também intensa e atenta. Vejamos…
Margherita Isola veste um capote preto sobre a bomba de matéria tóxica (cola, tinta) e ela se transforma em metralhadora letal (também). Subversão.
Isola emociona de novo, quando, através da Moda, nega o gênero, num grande painel fotográfico em que os personagens, machos e fêmeas, estão todos nus. Depois, vestidos de forma convencional: homens e mulheres. Em seguida, trocam de roupa de modo inusitado, várias vezes, tornando-se homens, mulheres e todas as variantes LGBT. A Moda trans-forma. Nega o gênero. Subversão.
Esparramada no chão, uma mulher de burca preta, saída de dentro de uma gigantesca sacola de papel de supermercado. Como se fosse um produto, um saco de feijão virado no piso. É a instalação de Alex Cassimiro, sugerindo a mulher pra servir de consumo. Submissão. Subversão.
No trabalho de Flávio Colker, duas imagens fotográficas de Supla e sua banda, com a marca da caveira estampada nos jeans, inspirando o famigerado Comando Vermelho, e a projeção da grade sobre a pele do roqueiro, que bem pode ser uma prisão ou a malha de um tricô encarcerando o mito. Subversão.
Na foto abaixo, a prisão de Supla é potencializada pela janela da galeria refletida no vidro do enquadramento. É o cenário atuando sobre a obra, que jamais termina de subverter…
Flávio tem obra dele no MoMa, em Nova York. Mas você poderá encontrá-lo aqui pertinho. No dia 6, você verá mais de Colker, na mostra só dele “O grande campo”, na Oi Futuro Flamengo, com curadoria de Alberto Saraiva.
A matéria do ELA menciona o fato com destaque, mas não mostra a foto. O que faço aqui abaixo. Afinal, foi o grande frisson, o momento mágico do vernissage, pura coincidência…
… quando entrou Maria Pedrosa Piereck, vestindo um original de Zuzu em patchwork feito com modestas rendas brasileiras en sur tons de bege, com franjas. O vestido foi usado por sua mãe, Fernanda, no cortejo das cinco demoiselles d’honneur do casamento da irmã.
Elas levavam buquês de flores bege do Cerrado brasileiro amarradas por uma fita marrom. Transgressão/subversão para uma época de noivinhas e daminhas brancas de neve com organzas point d’esprit e rendas Chantilly.
O vestido de Maria falava a mesma linguagem do véu com que Caroline Valansi encobre rostos femininos: um patchwork de rendas brancas (nacionais) e bege (francesas). Os anos passam, mas a Subversão continua a mesma…
A avó de Maria Pedrosa Piereck, Célia Pedrosa, teve sua morte registrada no filme “Zuzu Angel”, de Sérgio Rezende, quando a personagem de Angela Vieira é assassinada num “acidente” provocado, por agentes do governo que julgavam que sua amiga Zuzu viajava com ela em seu carro.
Na missa de sétimo dia de Célia, igreja superlotada, mil pessoas pelo menos, as primeiras filas foram todas ocupadas por pessoas vestidas com as famosas ‘camisetas do anjo’, da estilista Zuzu, distribuídas por ela, que organizou pessoalmente aquele manifesto silencioso. O anjo da camiseta simbolizava seu filho morto, Stuart. Os da época sabiam. Outra Subversão através de sua moda.
Depois disso, a filha caçula de Célia, Fernandinha Pedrosa, também presente ao vernissage da TAL, foi enviada para morar em Nova York, temendo-se uma retaliação à família.
Hilde,que matéria linda e forte!!!Me emocionei muito!!!!Você, como eu,sabe que o nó na garganta e a flecha no coração continuam e essa dor é eterna….
Obrigada pelo carinho e lembrança.
Minha admiração por você é grande!!!
Beijo no coração.
Fernanda Pedrosa Peczek
Amei as fotos, você sempre linda, foto ao lado do retrato da sua mãe, coisa mais linda, <3 Hilde!
O espaço da fábrica Bhering é ótimo e a revitalização, uma grande iniciativa. A expo “Moda Subversiva” na TAL,é a tal… Parabéns !!!
Incrível os pontos comuns em sua grande mãe e a minha humilde, ainda viva aos 94 anos, na Cidade de Goiás… Somente o PAI MISERICORDIOSO(sou orgulhosamente Católico e naturalmente carola) CONSEGUEM DOMAR ESSAS GENUÍNAS LEOAS… As semelhanças – nas devidas proporções – batem muito, principalmente no importante quesito: D E T E R M I N A Ç Ã O!!!
Vc acredita que com a família do inesquecível IBRAHIM SUED, também é assim…
01) Mamãe super católica praticante, da Legião de Maria – precurssora da Carismática: a inteiramente bela e sempre amada, GLORINHA, idem…
02) Meu pai filho varão da família mais antiga de imigrantes árabes, do estado de Goiás, vieram de Zahle(a princesa do Líbano) para antiga Capital – Goiás Velho – em 1890… Os avós do IBRAHIM, tb vieram da famosa e bela, Zahle…
03) Mamãe super tradicional – dos quatro lados da família – GLORINHA idem. Foi ela, como é sabido, quem deu um grande “up” na carreira do seu devotado e importantésimo marido colunista…
04) O peculiar casal de Goiás(papai casou-se com mamy aos 42 anos e ela aos 38) teve um casal de filhos: Tio Ibra e tia Glória, idem – no casal de filhos…
05) O mais velho de cá, taurino: a bela primogênita de lá, Isabel Cristina, idem – os dois do segundo decanato aliás…
06) Eu não tive irmão: EDUARDO DE SUED idem – por isso somos carne e unha e sabemos tudo que envolveram nossos extremosos pais… O INQUEBRANTÁVEL AMOR MÚTUO…
OBS.:) Vc sabia Hilde, que foi Glorinha – como todo carinho e amor quem vestiu o Ibrahim para o seu “último e eterno baile”? E chegou praticamente na hora do seu último e inesperado suspiro – já que moravam(propositalmente) em prédios vizinhos???
Que o muito importante Ibrahim foi enterrado no túmulo da sogra – já que ele não tinha um palmo de terra, em campo santo, para chamar de seu…
Pode uma coisa dessas, sempre amada Hilde?
Desculpe comentar tudo isso no texto de sua impagável mãe – já que pus minha mais-que-merecida opinião sobre a imortal Dona Zuzu, no Face!
Mas o motivo aqui é para dizer QUE O VERDADEIRO AMOR É A ETERNA CHAMA QUE NUNCA SE APAGA… e ESSE, O SEMPRE VENERÁVEL AMOR – QUE NOS UNE (E NOS MOVE) EM TODOS OS SENTIDOS… percebe?
Para finalizar, apenas por hj, bem entendido(rsrsrs) M A K T U B – “estava escrito” – o mais importante bardo do bravo povo libanês!!!
Um abençoado domingo a todos!!!
Hilde sempre com matérias maravilhosas!!!!!
O vestido de Maria Pedrosa Peczek by Zuzu Angel foi sucesso na exposição!
Zuzu sempre foi a frente do seu tempo, sua criatividade era sem fim!
Hilde que matéria linda e forte!!!!
Me emocionei muito!!!!
Obrigada pelo carinho e a lembrança.Você, como eu, sabe que o nó na garganta e a flecha no coração continuam e ninguém tira essa dor.
Essa semana vou separar as fotos para te dar.
Beijo no coração e toda a minha admiração por você.
Fernanda Pedrosa Peczek
Historia emocionante que gostei de conhecer.O terror foi grande e insano,mas a verdade todos sabem,veio a tona e aqueles que sofreram,uns ainda vivos estão assistindo,de pe,a vergonha a que esta exposta os terriveis torturadores.
Sua querida mãe,Fernanda, era linda.Por isso,vc tem a quem sair e essa bela e meiga filha tambem. São.charmosas e elegantes..