Já imagino o desembargador Aloysio Maria Teixeira marcando audiência com São Pedro e chegando, com aquela simpatia cerimoniosa, a formalidade afetuosa, e fazendo o pleito: “Venho muito humildemente rogar a Sua Santidade que, ali no perímetro do Jardim Pernambuco, no Leblon, Cidade do Rio de Janeiro, Brasil, faça dia bonito e ensolarado, na próxima segunda-feira, mas que o clima seja tépido, que o sol não seja por demais ardente e que haja alguma brisa, bem levezinha se possível, contudo chuva jamais, nenhum pingo sequer pra assustar ou afugentar!”.
São Pedro, expressão de desentendido, curioso, querendo saber o porquê daquele senhor de cabeça branca, olhos azuis, que ele via placidamente caminhar todas as manhãs sobre as nuvens, sempre bonachão e sorridente, a trocar assuntos que nunca terminavam, com seus pares – um deles, o mais frequente, um certo dr. Chagas – jamais lhe havia dirigido qualquer solicitação. O que era realmente incomum, naquela repartição celestial, onde todos queriam ser transferidos para nuvens mais bem posicionadas, nuvens com vistão, nuvens de pista, com som ambiente, e dr. Aloysio sempre parecendo satisfeitíssimo com a dele…
Pedro, o dono da chave do Céu, pergunta: “Mas por quê, dr. Aloysio, tal interesse?”. Responde o desembargador: “É que meu filho, Aloysito, um importante empresário da hotelaria, vai fazer nesse dia a inauguração de uma praça com meu nome, que está planejando há tempos com muita dedicação, como tudo que ele faz. Não quero que tenha contratempos, pois não merece, é pessoa de imenso coração. E desejo ao meu filho que tenha, lá na Terra, em dobro, em triplo, todas as alegrias que me proporciona, ao ver daqui, as homenagens que me tem feito e prestado, as palavras que fala, as lágrimas de saudades que verte, as histórias que lembra e conta, os discursos que profere… fico tão emocionado! Com seu amor filial sem medida, ele me descreve, aos olhos dos outros, um pai modelo, aquele pai que tanto me empenhei por ser para ele. Ele me enxerga ainda maior do que fui! Meu filho me entope com um amor que transcende a Terra, abraça o Universo, impregna o Céu e me deixa feliz e inebriado, em minha modesta nuvenzinha, que de nada precisa, nem de som ambiente, vistão ou mesa de pista. Bastam os eflúvios do amor de meu filho Aloysito!”.
Diante de tal depoimento, carregado de amor em estado bruto e lapidado, São Pedro não tem dúvidas, acessa o Google Earth em seu tablet, mira o Jardim Pernambuco e programa: “Manhã ensolarada, tempo ótimo, 22º, brisinha agradável, nuvem do dr. Aloysio bem posicionada, para poder assistir, com visibilidade privilegiada, à toda a cerimônia da pracinha, ao lado do amigo dr. Chagas, pois Chagas filho deverá estar presente”.
E não é que o Cláudio Chagas Freitas estava lá na segunda-feira, na plateia da solenidade da inauguração da Praça Desembargador Aloysio Maria Teixeira, no Jardim Pernambuco? Com direito à estátua de dr. Aloysio, de bronze, sentado num banquinho, diante de um grande canteiro florido, onde as babás poderão descansar, enquanto os bebês nos carrinhos ficarão ao sol, e as crianças maiores poderão brincar de sentar no colo do “vovô Aloysio” ou de fazer “cosquinha” em sua cabeça. E muita gente irá ali “tirar retrato” ao lado do pai padrão.
No entanto, a presença mais frequente ao lado do “dr. Aloysio” em sua pracinha, sem dúvida, será sua viúva, dona Yedda, 70 anos do casamento sendo comemorados também naquele dia. Sua casa é bem em frente, ela e o marido foram os primeiros moradores daquele Jardim Pernambuco, e lá ela estava, no dia da inauguração, sentadinha ao lado do amado. Belo e tocante.
E no grande dia, promessa de São Pedro cumprida, toldo armado, cadeiras ao ar livre, banda de música até, todos nos posicionamos para ouvir o emocionante discurso de Aloysito.
Imagino Aloysio pai, em sua “nuvem de pista”, assistindo ao evento ao lado do amigo Chagas Freitas e vibrando entusiasmado diante da eloquência do filho, ao vê-lo lembrar as suas provas de amor de pai, uma por uma, e quantas ele tinha para relatar! E a maneira como ele transmitiu, ao filho, Lucas, este mesmo amor.
Com a mesma emoção, Lucas, filho de Aloysito e Joana, leu o trecho de um textinho meu sobre dr. Aloysio, distinção imensa para mim, no contexto daquela solenidade única.
Ele disse, com uma pontinha de legítima censura pelo meu indesculpável atraso: “A Hilde chegou, mas, se ela não tivesse vindo, eu diria que o texto era meu”.
Você poderia ter dito sim, Lucas, pois você aprimorou bastante o texto, cuja segunda parte foi toda sua. Modestamente, apenas contribuí com a primeira. A segunda, a melhor, dos “olhinhos azuis que brilhavam”, era sua, apenas sua. Parabéns!
O meu texto:
“Aloysio Maria Teixeira era um justo na essência. Não usava sua função para agradar, muito menos para desagradar. Assim como não a usava para oprimir e para tripudiar. E muito menos era um vaidoso. Um homem simples, de boa conversa, que sabia colocar-se bem, ser afável, mas manter a necessária cerimônia, que ajuda a perenizar as boas relações (….) Aloysio era um homem sorriso. Um sorriso inteiro. Quando os escritores fazem literatura e dizem “sorria com os olhos” é porque devem ter conhecido o velho desembargador, cujos olhos estavam sempre a observar e a sorrir. Observar com argúcia, sorrir com tolerância e compreensão do próximo. Um bom homem deixou suas marcas na Terra…”
O lido pelo Lucas era melhor
Quem não conhece Aloysio Maria Teixeira, saiba abaixo quem foi:
“Aloysio Maria Teixeira, um homem justo, deixou suas marcas”
Joana, Aloysito. Yedda Maria Teixeira e a escultura do desembargador Aloysio Maria Teixeira. todos no banquinho da praça. Ao fundo, a banda de música. E o dia radioso, tal e qual prometeu São Pedro
Glória Severiano Ribeiro, Idinha Seabra Veiga e Alda Soares
Yacy Nunes, Vicente Brizola, neto do governador Leonel Brizola, e Maristela Kubitschek Lopes, filha do presidente JK
Euclides Oswaldo Aranha e Paula Aranha
Gilberto Rodriguez, Aloysio Maria Teixeira, juíza Maria Victoria e Paulo Duque
O secretário municipal do Meio Ambiente, Carlos Alberto Muniz, Aloysio Maria Teixeira Filho e o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani
Didu Souza Campos e Cristiano Kerti
Marcia e Mauro Duarte, diretor da Fundação Parques e Jardins, com Aloysio Maria Teixeira Filho
A família Teixeira reunida no “banquinho do Aloysio”: dona Yedda,ao lado da escultura de Roberto Sá
Fotos de Armando Araújo
Amiga Hilde,você como ninguém sabe que uma Cidade como a nossa não vive sem Sociedade e Badalação,e o faz com muita leveza e simpatia,Parabéns amiga,vc é o Neymar dos Colunistas.
Hilde, parabèns pelo texto que exprimiu exatamente como era o nosso querido Aloysio pai. Convivi com ele desde a faculdade de Direito onde me formei, UEG, hoje UERJ , inclusive em jantares e almoços na casa do saudoso Desembargador e Professor de Direito Processual Civil, Hamilton Moraes e Barros . Ele sempre alegre e atencioso com os estudantes de Direito e gostando de conversar sobre viagens e amenidades. Tomamos vàrias vezes cafèzinho no Bar dos Desembargadores, onde ele de beca chegava e com aqueles lindos olhos azuis, iluminava o ambiente com sua simpatia e amabilidade.
Parabéns, Hilde , voce teve a sensibilidade necessària para transmitir em palavras, o sentimento que o Aloysio pai, transmitia em seu lindo olhar.
Linda edição, Hilde, você é uma amiga muito querida, gata e genial, beijos.