Visão do Vale do Cuiabá, depois da enxurrada de lama, detritos e água, que transformou um córrego singelo numa grande fenda
Vamos, a partir de hoje, contar, aqui, em capítulos, a história desse vale encantado, que, por tantas décadas, foi o eldorado das famílias tradicionais brasileiras…
A origem do eldorado Cuiabá
Nos anos 20 e 3o, a elite carioca procurava terras para suas férias rurais e encontrou um vale mágico, verdejante: o Vale do Cuiabá! Perfeito para abrigar os Soares Sampaio, Salgado Filho, Machado Coelho de Castro, Cápua, Gouvêa Vieira e outras famílias coroadas…
Quem conhece, ali, a Fazenda Santa Cecília, dos Gouvêa Vieira, proclama que sua sede é uma das casas mais lindas do mundo. Nada há de mais elegante. O senador João Pedro e Cecília Gouvêa Vieira levaram todo charme chique carioca para o Vale do Cuiabá…
Fazenda Paquequer
Mas o grande destaque da casa era o vidro “blindex”, novidade da época, com três metros de altura por cinco de largura, vindo de Paris junto com um montador especialmente enviado pela fábrica. Quando colocou a peça no lugar, o francês deu uma martelada no meio do vidro, para mostrar que não quebrava, e causou furor! O vidro foi colocado na sala, permitindo uma visão exuberante de toda a propriedade…
A casa-sede, que teve o auxílio de Lina Bo Bardi, em seu projeto, construção e decoração
As treliças azuis nas janelas datam a casa dos 40’s
Na frente da propriedade, o deputado represou um lago, e também construiu uma capela com vitrais trazidos da França. De sua Lorena natal, em São Paulo, ele trouxe o sino de bronze, que badalava na catedral de sua cidade – e então ele podia ouvir, nas horas das refeições em sua fazenda, as badaladas de sua infância…
Os móveis eram todos franceses, o serviço da casa era composto de copos Baccarat e louça Limoges, todas com monograma MCC. Com os filhos já crescidos, o deputado vislumbrava ver a grande família, com filhos, netos, todos aproveitando ao máximo a fazenda, e ali colocou um pouco de gado, cavalos, ovelhas, patos, galinhas e uma grande horta. Os filhos casaram, os netos vieram. Maria Celeste, a mais velha, se casou com José Bonifácio Flores da Cunha. José, conhecido como Josi, se casou com Neusa Cordovil, e Bebe, a caçula, com Mario Marchese…
Ao fundo, o vidro blindex, em peça única, de onde se vislumbrava toda a propriedade
Mario Marchese, o genro do deputado, era um apaixonado por cavalos de corrida e queria construir um haras para sua criação de puros sangues. Em 1963, antes do golpe militar, o senador João Pedro Gouvêa Vieira, já proprietário de um belo recanto no Vale do Cuiabá, receando uma possível revolta comunista no Brasil, a exemplo de Cuba, decidiu vender seu Sítio São José, adquirido então por Mario Marchese...
Com o golpe militar e afastado o pânico do “golpe comunista”, o senador quis desfazer a venda do sítio, porém Marchese não voltou atrás, prometendo encontrar uma propriedade para le. Uma outra área perto dali fora posta à venda por Álvaro Soares Sampaio, Marchese ofereceu-a ao senador que, rapidamente, a comprou, colocando-lhe o nome de Fazenda Santa Cecília. Mario mudou o nome do sítio para Haras do Cuiabá. Todos ficaram felizes…
Em 1975, com a morte do deputado José Machado Coelho de Castro, a Fazenda Paquequer foi dividida entre os filhos, que, em meados dos anos 80, decidiram vendê-la ao empresário do setor de alimentos José Sanchez. Tão encantado ficou Sanchez com a compra que, anualmente, recebia toda a família Machado Coelho para um jantar sentado…
O Vale do Cuiabá, na Fazenda Paquequer, antes da devastação
Com a mudança da família Sanchez para Brasília, novamente foi colocada à venda a Fazenda Paquequer, quando, nas recentes chuvas, viu seu pequeno córrego transformar-se numa grande fenda no terreno, pela ação da enxurrada de lama e água…
A sede de tantas histórias, porém, nada sofreu. Resta saber se ela viverá, de novo, momentos de tanta felicidade e beleza, com seu futuro novo proprietário, agora sob o imponderável risco de outros deslizamentos e enchentes…
Fotos antigas da Fazenda Paquequer, das décadas de 40 e 50:
Vista da fazenda Paquequer
Visitei uma vez a fazenda quando meu tio José ainda era vivo. O que ficou na memória foi um relógio. Para anunciar a hora, saía um corneteiro em vez de um cuco. Tio José era um admirador da arte e seu apartamento no Flamengo, Morro da Viúva, era fantástico. Quadros da Renascença, sofá dos Bórgia, tudo lindo e à frente do seu tempo. Famílias elegantes e agora só memória. Adorei a reportagem.
Conheci este local em 2016 e é musical deslumbrante. Muito calmo. Um grande lago represado as águas que descem serenas da montanha e a vista maravilhosa de picos ao longe. O verde predomina na natureza com uma amostra significativa da Mata Atlântica. O Sino de bronze da Catedral de Lorena la está deitado sobre uma calçada de concreto com a inscrição de LORENA E A DATA.
Já trabalhei na fazenda era muito linda
Adorei