Quem assistiu à estréia de Hamlet, ontem, no Espaço Tom Jobim, ficou particularmente impressionado com o desempenho magnífico de Thiago Lacerda no papel-título do príncipe atormentado.
Os elogios a Thiago não são de hoje, eles aconteceram ao longo de toda a temporada da mesma montagem em São Paulo e a história agora se repete no Rio. Muitos até se surpreendem com os até então desconhecidos dotes shakespeareanos do ator global.
Porém, meus amores, em teatro, nada se faz no improviso. Além do talento, tudo envolve uma carga grande e profunda de esforço, suor, ralação. E, no caso deste Hamlet, a chave do sucesso está no nome do chaveiro: o diretor do espetáculo, Ron Daniels.
Quando nasceu em Niterói, Ron Daniels chamava-se Ronald George Daniel. Estudou na Fundação Brasileira de Teatro, no Rio, e fundou o Teatro Oficina, com Zé Celso e Renato Borghi. Em 1964, passeava pela Escócia quando houve aqui o golpe militar, e resolveu não voltar ao Brasil. Fez carreira no teatro na Inglaterra, quando passou a se assinar Ron Daniels e, em 1977, assumiu a direção artística do The Other Place Theatre, da Royal Shakespeare Company, onde bateu um tal bolão que até hoje é um dos diretores honorários da Royal Shakespeare Company.
Ron é um dos maiores especialistas em Shakespeare do mundo, o que o levou ao cargo de diretor artístico da Companhia American Repertory Theatre e diretor do Instituto de Teatro da Universidade de Harvard, nos EUA.
Foi ele quem dirigiu Raul Cortez na memorável montagem de Rei Lear, em 2000, até hoje comentada. E agora dirigiu Thiago Lacerda como Hamlet.
No seu séquito de admiradores no Brasil está a grande Fernanda Montenegro, a Fernandona, que prestigiou a plateia de ontem com sua presença…
Ron Daniels, Thiago Lacerda e Fernanda Montenegro
Helena Ranaldi e Christine Fernandes
Zeca Camargo e Thiago Lacerda
Jacqueline Laurence e Vanessa Lóes
Emilio de Mello e Thiago Lacerda
Itala Nandi e Fernanda Montenegro
Claudio Rangel e Natalia Lage
Vanessa Lóes e Thiago Lacerda
Fotos de Cristina Granato
Vi a peça em Sao Paulo,e fiquei encantada, bem como meu marido e minha filha de, entao 17, anos. Recomendo.
Aurelia
O máximo!!!
Que maravilha ver que os textos estão voltando à cena! E vamos combinar que ter a Dona Fernanda na plateia não é pra qualquer estreia. Obrigado, Hilde, pelo texto rico em informações só encontradas aqui.
Eis uma peça bastante sombria, mesmo para os padrões de Shakespeare. O tema parece ser a loucura do príncipe, mas a exploração da loucura (real ou fingida) de Hamlet é apenas uma artimanha usada pelo autor para esconder e deliciosamente explorar a loucura de todos os outros personagens. O que podemos dizer de guardas que escutam e veem assombrações, de um irmão que mata o Rei dormindo, da mãe que se casa com o assassino do ex-marido para impedir que o filho assuma o trono, de um aristocrata abastado que age como um garoto de recados e morre escondido atras de uma cortina, de uma moça romântica que não é capaz de se entregar totalmente ou de abandonar seu amor e se mata, de um amigo fiel que se torna um assassino vil? A conduta de Hamlet é insana, mas a dos que o cercam não pode ser considerada normal. Por isto sempre presto menos atenção no protagonista e mais nos coadjuvantes. Eles são os verdadeiros “condutores” desta peça que depende mais da atuação deles do que a do próprio Hamlet.