“Senador Saturnino, a atividade política não se destina a imobilizar os anseios do povo e perpetuar regras obsoletas e conservadoras. A repetir gestões ineficientes e desmoralizadas. Ao contrário, só se justifica e se legitima ao incentivar, esclarecer, acolher, integrar, incluir, promover, renovar, reformar e se necessário revolucionar, como força propulsora e não como um freio de retenção.
Sua excelência sempre representou a renovação criativa qual o cerne de efetividade é o Estado Social e Democrático de Direito.
Hoje afastado das lides eleitorais, entretanto presente, para nossa satisfação das atividades políticas.
Escritor nato empenhado a pena e tocando o teclado, afim de externar as opiniões de uma inteligência forte, ética, experiente e ideologicamente a serviço da justiça”.
Assim falou Bráulio Maciel, presidente da Sociedade Eça de Queiroz, ao contemplar o ex-senador Roberto Saturnino Braga com seu título de membro honorário da sociedade, um “eciano” de raiz.
Ladeado pelos demais homenageados, o presidente Bráulio Maciel contempla o ex-senador Saturnino com seu título de Membro Honorário
Roberto Saturnino Braga é presidente de honra do Instituto Cultural Casa Grande, conselheiro da Fundação Perseu Abramo, do PT, Diretor Presidente do Centro Celso Furtado, Vice-Presidente da Sociedade AMAR que, há mais de vinte anos, cuida de meninos de rua no Rio, e Membro do Conselho Diretor do Clube de Engenharia.
Além disso é um escritor festejado. São de sua lavra as obras “História do Rio em 10 pessoas” – Contos; “Geografia do Rio em Quatro Posições” – Crônicas; “Contos do Rio” – Contos (prêmio Malba Tahan da Academia Carioca de Letras, ano 2000); “Quarteto” – Romance; “Contos de Réis” – Histórias de sua fase de menino; “Os Quatro Contos do Mundo” – Contos; “Cartas do Rio” – Romance; “Entre os Séculos” – Ensaio; “Mudança de Época” – Ensaio; “O Curso das Ideias” – Filosofia; “Correios do Rio” – Coletânia de artigos; “Ética e Política” – Ensaio.
Maior do que seu talento para as letras, a facilidade com que expressa o que pensa e sente através da escrita, a agilidade em coordenar as ideias e o pensamento, mais expressivo do que o mérito do grande escritor é o exemplo, mais do que raro, praticamente inédito, de homem público desprendido e íntegro, alvo de todo tipo de pesadas injustiças, ofensas, incompreensões, aprontadas por maus adversários, que entraram na política pela janela das circunstâncias e dos apadrinhamentos e não dos ideais cívicos.
Engenheiro da turma de 1954 da Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, em 1954, após dois anos de formado ingressou no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, especializando-se em engenharia econômica. Foi aluno de Celso Furtado na CEPAL e estudou também no ISEB.
Em 1960, ingressou na política pelo PSB, elegendo-se deputado federal.
Embora não cassado em 1964, teve sua recandidatura impugnada por pressão do regime de governo vigente, fazendo-o retornar ao BNDE.
Convidado às pressas por Amaral Peixoto, retornou à política em 1974, elegendo-se senador pelo antigo Estado do Rio, na legenda do MDB, do qual fora fundador em 1966.
Em 1979, já sem o bipartidarismo, Saturnino ascende à principal liderança do PMDB, mas questões políticas internas levaram-no à ruptura e acesso ao PDT, reelegendo-se senador em 1982.
Em 1985, já na volta das eleições diretas para prefeito, Saturnino se candidata pelo PDT e conquista a prefeitura do Rio de Janeiro, com quase 40% dos votos. Em 1988, Saturnino deixa a prefeitura e também o PDT, retornando ao PSB de suas origens.
Em 1996, elegeu-se vereador da cidade do Rio de Janeiro e, dois anos depois, numa aliança de esquerda que reuniu PDT, PT, PSB e PCdoB, reelegeu-se pela terceira vez para o Senado.
Em 2006, ao final do mês de julho, recusou a proposta de se candidatar à Câmara Federal e anunciou o fim de sua carreira eleitoral nos poderes da República.
Todo esse desenrolar de mandatos poderia ser mal avaliado nos padrões neoliberais, mas não nos do socialismo utópico.
E aqui volto ao tema das “pesadas injustiças, ofensas, incompreensões”: a presença de Saturnino na prefeitura do município, encontrada por ele praticamente falida, com a conta bancária bloqueada por falta de pagamento da dívida, salários dos servidores defasados, 13º por pagar, dívidas enormes.
Este quadro não era incomum nos municípios brasileiros, visto que a reforma constitucional de 1966 esvaziou as receitas municipais.
Saturnino saneou as finanças do Rio, dignificou os servidores com planos de cargos e salários, inicialmente os professores. Efetivou a primeira experiência no país da Gestão Participativa, implantando os Conselhos Governo-Comunidade com reuniões mensais entre secretários de governo e associações de moradores.
Criou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o que permitiu a implantação do Programa dos Polos de Desenvolvimento de indústrias de tecnologia avançada.
Criou a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Transportes, com a CET-Rio, o Instituto de Previdência, o Prev-Rio, os Conselhos de Defesa dos Negros e dos Deficientes.
Construiu 24 novos postos de saúde, sendo 20 deles na Zona Oeste.
Ao final de 1987, o Plano Cruzado naufragou. A inflação aumentou violentamente.
Foi quando Saturnino solicitou do Legislativo revisão para o IPTU, o que lhe foi então negado! A inflação já beirava os 20% ao mês.
Com outros prefeitos, apelou ao Congresso Constituinte, a fim de contornar o problema das receitas municipais. Teve êxito, mas a aplicação dar-se-ia somente em janeiro do ano seguinte.
O prefeito Saturnino pediu autorização para lançar novos títulos da dívida pública do município, com a garantia de que novas receitas entrariam a partir de 1989, mas o Banco Central negou-lhe o pedido e comunicou a todos os bancos do país a proibição de financiamentos ao Rio, nem mesmo a rolagem de empréstimos pretéritos!!
O que cabia fazer era tentar sensibilizar a sociedade com a declaração sincera e honesta da falência do município.
Após três meses de luta, tudo aquilo que fora rejeitado em 1987 acabou sendo efetivado, mas agora para outro prefeito.
Novo prefeito que foi sacramentado como “o gênio da lâmpada das finanças” o “redentor”, quando na verdade a solução dos problemas foram viabilizadas pela criatividade de seu antecessor, Saturnino, boicotado pelos adversários no Legislativo e no poder federal.
Este desfile de acontecimentos constitui uma verdade de mais de 20 anos, que poucos cariocas conhecem nos seus detalhes relevantes, aqueles normalmente ocultados pela mídia dos atrasos, que domina a informação com ações mentirosas e omissões inconfessáveis.
Todo esse trajeto político, que aqui relato, pude colher durante o elogio feito pelo engenheiro Edson Monteiro ao ex-senador e prefeito Roberto Saturnino Braga, por ocasião da entrega de seu título de Membro Honorário da Sociedade Eça de Queiroz.
Aplausos para ele!
Saturnino Braga sempre foi um político honrado. Que falta ele faz ao nosso cenário político hoje, quando a ética é desprezada pela maioria deles.
Ainda bem que existe uma jornalista como você, para nos mostrar a verdade dos fatos. Como sinto prazer em ler o que escreve. Obrigadaaaa!!!