PARÁBOLA DO FILHO PREDILETO

Na parábola do filho pródigo, o filho problemático, que mais dá trabalho e preocupações, é o melhor acolhido pelo pai, com festas, carinhos, atenção. O filho trabalhador, cumpridor de seus deveres, se revolta e questiona o pai, que lhe diz: ”Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido, e foi encontrado.” Jesus também tinha o discípulo mais amado, era João, que o acompanhou do princípio ao fim de seu ministério. Ele está ao lado de Jesus na Última Ceia. Natural que os comuns mortais tenham também seu filho predileto.

O grande articulista político Janio de Freitas colocou a questão: Quanto poder terão os filhos do presidente? E se nós fossemos mais adiante na pergunta: Quanto poder tem o filho dileto do presidente? Não é incomum um pai ter seu filho preferido. No caso de Jair Bolsonaro, as evidências apontam para o filho Carlos Bolsonaro, aquele com quem o presidente eleito dividiu glórias e aplausos, no dia da posse, dando-lhe o assento sobre a capota aberta do Rolls Royce. O inusitado da situação, ao se arbitrar posição inexistente, valeram a Carlos o apelido nas redes sociais de “bebê conforto”. Para convencer o pai de participar daquele show, ele pode ter usado o argumento de que Dilma desfilou ao lado da filha. Mas Dilma não tinha um “príncipe consorte” para chamar de seu, enquanto Bolsonaro tem Michele. Naquele momento, soubemos qual seria o filho mais influente nas decisões do presidente. No episódio de Gustavo Bebianno, não foi o presidente quem o demitiu. Foi Carlos, com um post no Twitter. Fritura de uma frigideirada só. E o que levou Carlos, também chamado de “Carluxo”, a colocar tanta gordura na panela? Os mais próximos dizem que o ciúme. E ciúme de homem é pior do que o de mulher. Que dirá o de filho do homem. Bebianno foi aquele colaborador grudado em Bolsonaro, desde o início da campanha. Havia entre eles identidade e uma confiança absoluta. A ponto de Bebianno dormir no chão, junto à cama de Bolsonaro, no vaivém dos compromissos de campanha eleitoral. Gustavo Bebianno Rocha era o único “rival” de Carlos na disputa pela maior ascendência sobre o Presidente da República e no prestígio conferido por ele. Diz-se, nos bastidores, que foi equivocada a notícia no jornal O Globo de que Bebianno afirmou ter falado três vezes com Jair Bolsonaro naquele dia em que despontou o laranjal.  Bebianno teria dito que ligou três vezes para Bolsonaro. Mas não foi atendido. O repórter interpretou que ele falou três vezes, e se criou o imbróglio. Bebianno foi chamado de “mentiroso” por Carlos, sem ter tido a oportunidade de se explicar com o presidente. Gustavo Bebianno, além de aliado, foi um elemento útil para Bolsonaro. Entre outras coisas, foi quem indicou Paulo Marinho para suplente de Flávio Bolsonaro, e foi em casa de Marinho que Bolsonaro & filhos se aquartelaram durante a campanha, multiplicaram apoios na elite, à qual não tinham qualquer acesso, e contatos na mídia, que hoje rejeitam. Em seu modo rude, têm aversão à mídia que não seja mera repetidora de seus press releases e comunicados oficiais. Despreparado para a função, desambientado dos rituais do poder, o presidente Bolsonaro parece não ter noção do que se tratam as palavras Democracia e Republicanismo. Age como um tirano medieval, que manda para a forca quem não lhe satisfaz as vontades. E seu oráculo é o filho mais atraído por sangue, Carlos, aquele que, durante a campanha, postou no Twitter a foto de um homem sendo supostamente torturado com um saco de plástico enfiado na cabeça ensanguentada. É isso que devem esperar os que cruzarem o caminho do filho predileto? Saco de plástico na cabeça, até que lhes falte completamente o ar?

 

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