Os tristes fins de Bubulina

Anthony Quinn e Lila Kedrova, a Bubulina de Zorba, o Grego, em imagem do filme captada no YouTube

Hildegard Angel

Como eu amava a Bubulina! A antiga cortesã francesa, idosa saltitante e solitária, patética e ridícula, pintada com exagero, vestida com extravagância, emplumada, coberta de bijuterias, brilhos, e tão exuberante!

Embalada em sonhos de glórias passadas, Bubulina era hostilizada pela gente mesquinha e atrasada da pequena aldeia grega, à exceção de Zorba, que via nela encantamento. Jamais esqueci a cena da morte de Bubulina, no filme Zorba, o Grego. No leito, prestes a morrer, Bubulina cercada de pudicas carpideiras de preto, que, ao perceberem seus últimos espasmos moribundos, correram a abrir armários, apossar-se dos vestidos, das joias, lingeries, com enlouquecida alegria. E dançavam com os boás de plumas, davam gritinhos de excitação, disputavam as peças do guarda-roupa decotado e lascivo daquela Bubulina, de que sempre desdenharam, mas que naquele instante demonstravam querer ser, todas elas, bubulinas. Eram bubulinas reprimidas e recalcadas.

Sempre me lembrei de Bubulina com ternura e nostalgia –  saudades do filme Zorba o Grego, de Irene Pappás, de Nikos Kazantzakis, Cacoyannis e Theodorakis. Saudades do Zorba, Anthony Quinn, que conheci, e com quem dancei o Sirtaki na festa de meu casamento em Nova York. Saudades, saudades daqueles anos de cinemas de arte lotados na madrugada, no Rio de Janeiro. Filas intermináveis no Paissandu, para assistir a todos os Goddards, aos anos passados em Mariembad, guarda-chuvas do Amor e Un Homme Une Femme. Saudades da fila do Rian, na Av. Atlântica, para embarcar no Yellow Submarine dos Beatles, e me alistar no Exército de Brancaleone – “leon, leon, leon…”

Agora, vejo um destino ainda mais trágico para a gentil Bubulina: emprestar seu nome a um cargueiro grego, transportador da morte de nossa fauna marinha, emporcalhando algas, pedras, o fundo do mar e as praias mais lindas do planeta. Espalhando destruição, desalento e fome nas comunidades de pescadores, arrasando a economia de cidades nordestinas.

Bubulina, a francesa doce, sonhadora e frágil, cantora de cabarés de antigamente, que despertou ardor e ternura no liberto Zorba, não merecia essa mancha negra de óleo no obituário.

Muito menos a Venezuela merecia ser tão caluniada.

3 ideias sobre “Os tristes fins de Bubulina

  1. HILDE! HILDE! HILDE!
    mundo…vasto…mundo…..
    BOUBOULINA …que tanto desejava ter sido….quem sabe…inda tá em tempo?
    Naqueles anos….fomos SALVAS….chega nosso ZORBA! GREGO….em todos os SONHOS…..brevemente REALIZADOS!
    Longe das eternas… CARPIDEIRAS invejosas…..
    Quem diria…hein?
    DANCE! DANCE! DANCE!
    Somos BOUBOULINA ….
    Temos ZORBA!
    Pela VIDA inteira !
    Cá, estamos!
    SALVE!
    Maria Edna

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