MARIA HELENA ABULAFIA, UMA DESPEDIDA

No dia em que a Igreja Nossa Senhora da Paz lotou com os amigos de Maria Helena Abulafia, despedindo-se dela unidos em suas orações, eu não estava lá. À mesma hora recebia em casa uma outra amiga, que marcara especialmente para abrir seu coração comigo sobre momentos difíceis de sua vida.

Quando vi o anúncio da missa por Maria Helena, fiquei dividida: a qual amiga querida atender? À que partiu, já liberta dessa corrente com bola que nos prende o pé e nos impede de, em vida, dar os voos que realmente planejamos? Ou àquela entre nós, sempre procurando acertar o foco de sua lente da felicidade, e raramente acertando?

Optei por manter o compromisso, e aqui estou escrevendo para Maria Raquel de Carvalho, Lucinha Araújo, Solange Ribenboim, Suzette Dourado, Lelia Gonçalves Maia,Maurea Pantoja, Rosinah Meirelles, Glaucia Zacharias, Isabel Ferreira, Eliana Moura, Belita Tamoyo, Laura Pederneiras, Helena Guimarães, Terezinha Leal de Meirelles, Regina Rique, Maria Clara Tapajós, Terezinha Pittigliani, Lygia Lowndes, Heloisa Fabbriani, Dayse Fabbriani, Christiana Medeiros e tantas outras amigas com que dividi momentos alegres, felizes, plenos, inesquecíveis, com Maria Helena e Isaac.

Porque não consigo, não consigo mesmo, dissociar Maria Helena de seu Isaac Abulafia. Sequer consigo lembrá-la sem ser abrindo a boca e proferindo, sempre com prazer e orgulho, o nome “Isaac”. Era literalmente o casal indissolúvel. Um casal de topo de bolo de núpcias. A mesma altura, mesmo biotipo, mesmo jeito, mesmo timing, mesma eletricidade. E Maria Helena toda perfeitinha, maquiada, boca pintada sempre, jamais despenteada, os cabelos avermelhados e o inseparável Isaac. Uma dupla dinâmica. Uma dupla perfeita.

Em Paris, certa vez, nos encontramos, e o Isaac fez questão de nos levar em seu restaurante preferido, onde assavam um carneiro inteiro em frente de nossa mesa. Do grupo faziam parte Alberto e Terezinha Pittigliani, Mauricio e Glaucia Zacharias e acho que Mario e Solange Ribenboim, Homero e Terezinha Leal de Meirelles também.  Foi uma tarde e tanto! Como rimos, bebemos, comemos! E ninguém falou mal de ninguém! Pois a característica desse grupo querido sempre foi essa: um grupo positivo, sem mesquinharias nem frivolidades. Ai, quanta saudade!

Uma vez, Myriam Carlos de Andrade sentou-se ao meu lado enquanto jantávamos. Ela estava saindo de um câncer muito difícil, que coincidiu com sua separação. Mas Myriam sobreviveu a tudo. E me disse a frase: “Cientistas descobriram que o câncer é a doença da tristeza da alma”. Quando Myriam ficou doente, sua alma estava triste, depois se curou.

A tristeza da alma de Maria Helena Abulafia era incurável. Assim como foi seu veloz câncer de pâncreas. Sem Isaac, que partiu antes dela, que graça a vida tem?

Não, não vou dizer para você, querida Maria Helena Abulafia, que descanse em paz, porque aí, ao lado de Isaac, você pode ter paz, mas a palavra descanso não combina. O estar junto de vocês é uma euforia permanente de felicidade.

maria-helena-abulafia-e-dr-carlos-fernando-de-carvalhoSeus  amigos sempre se mantiveram os mesmos: Maria Helena Abulafia, em uma de suas fotos recentes, entre Suzette Dourado e Carlos Carvalho

(Foto Vera Donato / 2012)

 

5 ideias sobre “MARIA HELENA ABULAFIA, UMA DESPEDIDA

  1. Linda suas palavras a respeito da sua grande amiga Maria Helena !!!!!! Tenho certeza que ela está muito feliz com esse seu gesto de carinho….❤️

  2. Hilde querida, há um dado errôneo no seu comentário a respeito do câncer da Myriam. O fato ocorreu 10 anos antes ou mais do Evandro se separar dela.
    Beijos
    Teresa

  3. Ela deixa saudades,mas deixa tambem lembranças maravilhosas! Minha mae,Isaaquinho e eu formavamos uma familia muito unida.Os amigos sempre presentes e queridos completavam esses momentos.
    Obrigado pela linda despedida!

  4. Como diz meu marido:” pessoas do tempo da delicadeza”…discretos, elegantes. Ela deixa saudades.

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