“Getúlio”: estreia no 1º de Maio teve cinemas cheios, com aplausos do público, ótimas bilheterias

Ao fim da sessão das 18h de “Getúlio” no Kinoplex Roxy, no 1º de Maio de seu lançamento, houve aplausos. O ritual se repetiu em outras sessões, em outras salas de exibição cheias, ótimas bilheterias. Pois o filme é daqueles que enchem a audiência de satisfação. Sim, respeitável público, “Getúlio” preenche as expectativas.

Num ritmo emocionante e crescente de um thriller que magnetiza, episódios históricos já conhecidos são lembrados. Agora, de modo desanuviado e claro, esfriadas décadas de paixões, que distorcem a correta visão, e trazendo à luz fatos pesquisados com isenção.

João Jardim se apresenta um cineasta extremamente talentoso e de acabamento refinado, bom contador de história, que em muitos momentos se curva ao documentarista vocacionado.

Demonstra também respeito e reverência à boa História, com grande H. A começar pela escolha preciosa do elenco, que nos faz pensar que outros não poderiam ser os atores, quando, ao final, os letreiros comparam as suas fotos às dos personagens reais, havendo entre eles evidentes semelhanças. Preciosismo.

O Palácio do Catete é o maior protagonista, usado como cenário de 90% da ação, com o mobiliário original, os objetos, adereços, inclusive o revólver com que Getúlio Vargas se matou! Tudo impressiona e contribui para nos transportar com intensidade veraz e dramática ao mês de agosto do ano 1954.

Espectadores privilegiados de um recorte trágico da História política brasileira, Jardim nos conduz a espiar indiscretamente pelo buraco da fechadura da vida de um Presidente da República sem direito à intimidade e observá-lo passear de pijama pelos aposentos, entre funcionários públicos e parentes, que giravam maçanetas de suas portas, vigiavam seu ir e vir ao banheiro e lhe adentravam o quarto de dormir, sem a menor cerimônia, quase inspirando o cotidiano promíscuo dos reis de antigamente em seus palácios medievais.

A farsa do tiro no pé de Carlos Lacerda, cujo responsável fora ele mesmo, exibindo-se depois, aos olhos do povo, como vítima sangrenta no episódio dos Trapalhões da Toneleros. A possibilidade de até a bala que acertou o guarda municipal ter partido do revólver do jornalista, que jamais o entregou às autoridades policiais…

O enredo não hesita em enfatizar o quadro golpista da época, atiçado pela pena brilhante de Lacerda, com o respaldo da Aeronáutica. Assim como evidencia as articulações desleais do mau irmão Benjo Vargas e não esconde os bastidores de corrupção da guarda pessoal do presidente Vargas, inepta, numerosa e cheia de poder, motivos alardeados à exaustão pelos opositores como pretexto na tentativa de depor o Chefe de Estado legitimamente eleito, sob a alegação de que Getúlio deveria saber até o que se passava pelas suas costas – a mesma tese do “domínio do fato” de que hoje tanto se fala.

Como bem diz Tancredo Neves nos letreiros finais, só não fizeram o “64” em 54 graças ao suicídio de Vargas…

Por acaso, estamos num ano que termina em 4. Parece que o número – correspondente no tarot ao “Imperador” –  estimula a sanha golpista. Haja vista a recente “marcha”. Uma tentativa de marcha à ré. Mais uma. Outra tentativa de fazer o Brasil “cair de 4” em obediência aos caprichos de uma direita, que, se não ganha no voto, quer ganhar no tapetão.

“Getúlio”, um belo e grande filme, chega às telas brasileiras no ano certo, no momento exato de nos fazer refletir e concluir que o preço da Democracia é a eterna vigilância.

No cinquentenário do Golpe Militar de 64.

Nos 60 anos do suicídio de um presidente eleito pelo voto, pressionado por um golpe iminente apoiado por seus próprios comandantes militares.

drica e tony fotos_ana_stewart_23Sem esquecer de fazer um merecido elogio às atuações de Tony Ramos e Drica de Moraes, protagonistas do filme,  vivendo Getúlio Vargas e sua filha, Alzirinha Amaral Peixoto. Desempenhos dignos e competentes de dois grandes atores

2 ideias sobre ““Getúlio”: estreia no 1º de Maio teve cinemas cheios, com aplausos do público, ótimas bilheterias

  1. Desde o suidídio de Vargas, quando no segundo ano ginasial, a prof. Da. Cléria, Getulista apaixonada, entrou na sala as 8,30 dizendo que Getúlio Vargas havia morrido. Daquela época em diante, pesquisei muito. Estive na Rua Toneleros no Rio. Estive no Palácio do Catete no Rio, Já Museu da República. Uma pergunta fica no Ar: “..Como ninguém, até hoje, questionou o fato de um Major da ativa da Aeronáutica, estar como “Segurança de um Deputado e Jornalista”? Curioso isso né? Ninguém foi atrás da República do Galeão. Onde Eduardo Gomes e outros que anters serviram Vargas, tramavam contra ele? O Filme investigou isso? Ou passou batido como sempre?

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