Com menos preconceitos, um high mais livre e feliz!

Esta colunista, que desde os 18 de idade frequenta e cobre as festas de nossa sociedade (no início tipo gandulinha, com minha câmera automática e prestando muita atenção), ao longo das quatro décadas que se seguiram tive muita oportunidade para conferir hábitos, detectar costumes, comportamentos, atitudes do creme do creme da elite nacional…

E, durante esse tempo longo, afirmo que era raríssimo ver cadeirantes e pessoas com dificuldades sérias de locomoção circulando pelas festas. Na verdade, isso não era sequer considerado de bom tom. Registrei raras, raríssimas exceções, de cadeiras de rodas nos salões, como as usadas pelos saudosos embaixadores Hugo Gouthier e Paulo de Paranaguá, e isso certamente porque eram homens do mundo, que passaram grande parte de suas vidas vivendo e convivendo no exterior, onde esse tipo de preconceito não existe. Aqui, cansei de ouvir, constrangida, comentários cochichados do tipo “pessoas doentes não deviam sair de casa”. Que lástima!…

Mas tenho o prazer de informar aos leitores que esse tempo passou. Cada vez mais encontramos, nos salões do high, cadeiras de rodas bem azeitadas, circulando com alegria e desenvoltura. Essa mudança de atitude passou por alguns bons exemplos, a começar pelo de Thomáz Magalhães, que, acidentado, levantou a cabeça, deu a volta por cima e, a bordo de sua cadeira, foi até eleito Mais Bem Vestido do Brasil, graças a seus smokings elegantíssimos…

Já na grande festa dos 200 anos da Chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil, dada por Lily Marinho no Cosme Velho, duas mulheres elegantíssimas foram vistas em cadeiras de rodas: Nelly Jafet e Carmen Mayrink Veiga, e é aí que quero chegar…

Não resta dúvida de que o pioneirismo de Carmen, sua coragem e a altivez assumindo a dificuldade de locomoção serviram de grande “abre-te Sésamo”, liberando de casa pessoas que, em outas épocas, evitariam aceitar convites. Maquiada, bem penteada e sempre superproduzida, com a maior elegância, em todas as ocasiões, Carmen é um highlight das festas, dos jantares, almoços e coquetéis. Fosse antes com sua bengala de quatro pés, seja agora em sua weelchair...

Carmen não apenas desafia costumes, como também reclama, reivindica, usa a visibilidade que tem para cobrar acessibilidade de hotéis, teatros, restaurantes. E pouco a pouco vai somando conquistas. Graças a Carmen, o Gero providenciou uma rampa para cadeiras. O mesmo fez a Casa Julieta de Serpa, que agora vai até inaugurar elevador. O Teatro Municipal tratou de convidá-la para conhecer seu novo elevador e o Copacabana Palace prometeu a ela que em breve sua acessibilidade será total…

Assim, fico feliz em ver, como aconteceu num jantar elegante carioca semana passada, senhoras e senhores de bengalas, em cadeiras de rodas ou mesmo apenas permanecendo a maior parte do tempo sentados nas poltronas, porém felizes, satisfeitos, vivendo, plenos, conversando, rindo, enfim, exercendo seu supremo e divino direito à felicidade, como qualquer outro filho de Deus, tenha ele, 20, 40, 80 ou 100 anos. Seja ele lépido ou não…

E aplausos gerais para as Carmens, as Nellys, as Evinhas, as Lyginhas, os Thomáz e os Johnnys pelo grande significado de seus exemplos, rompendo preconceitos, e que ainda hão de fazer muitas e muitas pessoas mais livres e mais felizes!…

AntoniaIMG 7954 Com menos preconceitos, um high mais livre e feliz!

Carmen Mayrink Veiga, linda, produzidíssima, a bordo de sua cadeira de rodas, com a filha, Antonia Frering

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