Brasil, depois da queda, a putrefação

Hildegard Angel

O Brasil está na UTI, em estado terminal. Não adiantam mais cloroquina nem tubaína. Sequer cabe uma tentativa de ressuscitação. Estamos já em tratamento por médico paliativista, sob doses de morfina, na infrutífera tentativa de morte sem dor.

Chegamos ao estágio máximo da impossibilidade. Um país é seu povo. Um país é sua natureza. Quando a vida do povo, muito menos a da natureza importam, muito ao contrário o Estado é o promotor de sua destruição, só nos resta orar por uma passagem serena e indolor.

É como se o Brasil já tivesse se atirado do alto de um prédio de 30 andares, caindo em velocidade proporcional ao seu peso de país continente. Não há mais como impedir o impacto da queda, com o esfacelamento de todos os membros. A próxima missão será juntar os pedaços, limpar a área da catástrofe, inventariar os danos e expurgar os responsáveis, submetendo-os a uma Corte Internacional. Como acontece nas guerras, em que o inimigo é levado à expiação pública.

No Brasil, o inimigo é o próprio governante com seus asseclas. Resta a eles como alternativa trancarem-se em seu bunker e injetarem nas veias doses massivas e letais de cloroquina.

Brasil, um corpo já em estado avançado de decomposição, em que o tom esverdeado não é o de nossas matas, mas produzido pelos gases mal cheirosos das bactérias do intestino, e sua grandeza não é a territorial, e sim do inchaço do abdômen putrefato, atraindo moscas, que aceleram a decomposição e incomodam os convidados do velório, enquanto vermes gulosos se alimentam da podridão.

Parasitas, sem ideais, se multiplicam, se locupletam, penetram por todos os orifícios, ocupam todos os espaços, cargos, funções, centrões. Deglutem os privilégios, benesses, mordomias e jetons.

Um governo composto por quem não tem nome a zelar, nada a perder e a oferecer. Fritada, manipulada e humilhada, a sem noção Regina Duarte é agora substituída por um ator da última fila do coro, cuja única memória que guardamos de seu rosto é de um anúncio de cuecas. Perfeito para um cargo em que sua única tarefa será não executar coisa alguma, a não ser cabeças. Em vez de gestor, guilhotinador cultural. Assim como, no meio ambiente, no lugar de sementes, multiplicam-se as serras elétricas, e, na saúde, mortes são geradas em progressão geométrica.

Intrigados, só nos resta o conforto de, num jogo do contente, imaginar que os militares ali estejam apenas em patriótica força tarefa para, antes que seja tarde demais, tentar despertar o gigante entorpecido, sob os efeitos de um “boa noite Cinderela” bem ministrado, dopado para que lhe sejam perpetrados todos os tipos de abusos – o estupro de nossa soberania, da ciência, da cultura, da educação e, como objetivo principal, da Constituição.

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