MARCELO RUBENS PAIVA EXIGE RETRATAÇÃO DO GOVERNADOR DE SÃO PAULO

Reproduzo aqui o texto publicado hoje por Marcelo Rubens Paiva em seu blog no site do Estadão em que ele pede ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que se retrate. Como familiar de desaparecido, mortos e torturados pela diitadura militar brasileira, endosso a exigência e a indignação expressas por Marcelo e subscrevo seu bem escrito texto, com colocações muito pertinentes.
Hildegard Angel
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EXIGE-SE UMA RETRATAÇÃO

Marcelo Rubens Paiva                                                                                 03.abril.2013

Nesta semana, na cerimônia de entrega de parte dos arquivos do DOPS-SP digitalizados, o governador do Estado, Geraldo Alckmin, apareceu com o novo secretário particular, o advogado Ricardo Salles, um provocador que já disse coisas como “felizmente tivemos uma ditadura de direita no Brasil”.

Salles já concorreu duas vezes, a deputado federal e estadual, pelo PFL e depois pelo DEM, mas não conseguiu se eleger.

Meus colegas do ESTADÃO, Júlia Duailibi e Bruno Lupion lembraram ontem no jornal: Salles é fundador do radical Instituto Endireita Brasil, que, na rede social, entre outras pérolas, como criticar o casamento gay e a Comissão da Verdade, já publicou que Dilma é uma terrorista.

Comentou o analista Glauco Cortez: “Salles cuidará de toda a agenda do governador do estado mais rico do País. Aparentemente uma função burocrática, mas o fato é que, com essa nomeação, o político tucano instala, dentro do Palácio dos Bandeirantes, um movimento que exala obscurantismo.”

Mas a declaração mais chocante de Salles embrulha o estômago de muitas famílias vítimas da Ditadura, como a minha.

Segundo o assessor do governador de SP, “não vamos ver generais e coronéis acima dos 80 anos presos por crimes de 64, se é que esses crimes ocorreram.”

Sim, esses crimes ocorreram.

Nem precisamos citar a extensa biografia à respeito, nem os testemunhos colhidos há décadas, no projeto TORTURA NUNCA MAIS, da Igreja. Nem depoimentos de gente do partido do governador, como FHC e José Serra, cassados e exilados pela ditadura, ou de gente da liderança e base tucana que foi torturada.

Sou testemunha viva. Eu e minhas irmãs. Vimos nossa casa no Rio de Janeiro ser invadida por militares armados com metralhadoras em 20 de janeiro de 1971.

Vimos meu pai, minha mãe e irmã Eliana serem levados.

Minha mãe ficou 13 dias presas no DOI/Codi, sem que o Exército reconheça ou tenha feito qualquer acusação.

Meu pai entrou no quartel do Exército e não saiu vivo de lá. Também não sabemos o motivo da prisão, a acusação. Não entendemos as negativas posteriores de que estivesse preso.

Abaixo, documentos que provam que, sim, crimes ocorreram.

Em nome da decência, exigimos uma retratação do secretário e um pedido de desculpa do Governo do Estado.

Que está onde está graças aos que lutaram, foram torturados ou deram a vida pela redemocratização do País.

Brasileiros que merecem mais respeito.

DOCUMENTO DE ENTREGA À MINHA TIA RENNÉ PAIVA DO CADOCUMENTO DE ENTREGA À MINHA TIA RENNÉ PAIVA DO CARRO QUE MEU PAI DIRIGIU ESCOLTADO ATÉ A PRISÃORRO QUE MEU PAI DIRIGIU ESCOLTADO ATÉ A PRISÃO

DocumentoRubensPaiva01-739x1024DOCUMENTO DA ENTRADA DELE NO DOI, DESCOBERTO RECENTEMENTE EM ARQUIVO DO EX-CHEFE, CORONEL REFORMADO JOSÉ MIGUEL MOLINA

documento prontuario_rubens_paiva-815x1024ATESTADO DE ÓBITO DE 1996, 25 ANOS DEPOIS DO DESAPARECIMENTO, POSSÍVEL GRAÇAS À LEI DE RECONHECIMENTO DOS DESAPARECIDOS POLÍTICOS, ENVIADA PELO PRESIDENTE FHC AO CONGRESSO

documento certidao-obito-rubens00011

13 ideias sobre “MARCELO RUBENS PAIVA EXIGE RETRATAÇÃO DO GOVERNADOR DE SÃO PAULO

  1. Realmente retratação é muito pouco… até pq as declarações públicas do governador de SP sempre são revestidas de uma segurança falsa, nunca consegui enxergar em nada q diz sinceridade em suas palavras, parece q está dizendo um texto q encobre verdades, oculta, disfarça, chega a ser sub-reptício… Mas ele tem obrigação de responder a Marcelo, à presidenta Dilma, a voce, Hilde, e ao povo brasileiro… Luiz Müller disse certo: ‘resistir é preciso’.

  2. Não vai adiantar o governador “se retratar” de uma declaração deste seu secretário, terrorista de direita e adepto da Ditadura Militar. O problema não é a declaração, mas o que ele representa. Ele representa o mesmo retrocesso que impôs o Marco Feliciano como Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Triste sina esta do Brasil, que em pleno período democratico vê voltar com toda a força a chaga do obscurantismo e do conservadorismo retrógrado e destruidor da sociedade e dos direitos civis. Resistir é preciso.

  3. Que tristeza para o escritor Marcelo, perde o pai nessas condições de tortura e ainda tem que escutar um “absurdo” desses.
    Força, Hilde e Marcelo, vamos continuar essa “luta”

  4. Hilde, mais uma afronta destes traidores do povo brasileiro, tentando desqualificar com frases idiotas, a desgraça que se abateu sobre nós todos, durante estes tristes 21 anos da ditadura. Ao Marcelo toda nossa solidariedade.

  5. Marcelo estou decepcionado com o governador por estar em tão péssima companhia, não esperava isso dele, é lamentável.

  6. Assino embaixo do Marcelo e da Hilde. É absolutamente absurda, essa declaração, e essa negação. Isso chega a parecer deboche com as pessoas, que perderam seus familiares, que sofreram durante anos, com o desaparecimento deles, que passaram uma vida procurando pistas, que nem sequer puderam enterrar seus corpos, que foram afastados de madrugada, na total escuridão e desconhecimento do que acontecia de seus entes mais queridos. Tem que haver o reconhecimento de que HOUVE sim, assassinatos, atrocidades e muita tortura. Inclusive dos que lutaram, como foi o caso da Zuzu pela verdade, denunciando, inconformada até o final com a bárbara morte de se filho, e tornando-se também vitima daquele mesmo sistema, morrendo misteriosamente, morte essa até hoje não explicada.
    E todo o sofrimento do Marcelo, um guerreiro também, que nunca deixou pra lá o desaparecimento de seu pai, denunciando, falando, procurando, e não se calando jamais!
    E assim, temos outras muitas pessoas, algumas até hoje na ignorância, sem nunca terem tido pistas nem confirmações.
    Devem desculpas sim!
    E isso é ainda muito pouco!!!!

    • Obrigada, Verinha, pelo seu depoimento tão claro, seguro e verdadeiro.
      Fazendo um adendo e um esclarecimento importante a ele: a morte de minha mãe, depois de muita luta, pesquisa, trabalho e insistência nossa, durante o período FHC, graças à Comissão dos Desaparecidos Políticos, teve a confirmação do Governo Brasileiro, 22 anos depois, de ter sido, sim, provocada por agentes do governo. O Governo brasileiro reconheceu o assassinato de mamãe em um acidente provocado por órgãos da ditadura militar.
      Para isso, houve uma investigação meticulosa, perícias, com inclusive dois testemunhos oculares do crime ouvidos na Paraíba, dois estudantes de direito da PUC em 1976, que residiam no único predio que havia no local na época e que a tudo assistiram. Tudo isso no inquérito procedido por Miguel Reale Jr., relator.
      beijos carinhosos
      da
      Hilde

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