ERUNDINA EXALTA VIOLETA ARRAES, A ‘ROSA DE PARIS’

Vocês pediram, eu atendo.

Aqui está, completinho, o texto do antológico discurso da deputada federal Luiza Erundina, por ocasião da solenidade da entrega do Prêmio Zuzu Angel às Mulheres do Tortura Nunca Mais, da Homenagem aos 20 anos do Instituto Zuzu Angel e da entrega a ela da Medalha Violeta Arraes, conferida pela Secretaria Estadual das Mulheres do PSB, no Teatro Odylo Costa Filho, esta Semana, na UERJ.

Um texto para ler e guardar. Isto é, para ler e arquivar em seu pen drive… Lendo-o você saberá a grande mulher que foi Violeta Arraes, um nome que ficou para a História.

Fala Erundina:

“MEDALHA VIOLETA ARRAES DE DIREITOS HUMANOS

Muito me honra e comove ser a primeira mulher a receber a Medalha Violeta Arraes de Direitos Humanos, criada pela Secretaria Estadual de Mulheres do PSB do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo em que o Prêmio Zuzu Angel – II Edição é conferido, pela mesma Secretaria, às bravas mulheres do grupo Tortura Nunca Mais. A elas nossos cumprimentos e gratidão pela dedicação na defesa dos Direitos Humanos.

Ao ser informada pela companheira Regina Flores, Secretária da Mulher, sobre a escolha do meu nome para  receber a Medalha Violeta Arraes,  pensei sobre o significado da homenagem e conclui que não era a mim que devia ser prestada, mas, sim, à própria Violeta, inspiradora da criação deste Prêmio. É a ela, pois, a quem devemos e queremos homenagear nesta noite de festa, com toda solenidade que se possa imprimir a este ato.

Com certeza, tudo o que de mais relevante eu possa destacar da trajetória de vida dessa
mulher extraordinária, já deve ser de pleno conhecimento dos que estão presentes  aqui e
de tantos mais que a conheceram pessoalmente ou através dos rastos luminosos que ela foi deixando atrás de si ao longo de sua rica e fascinante existência.

No entanto, o reconhecimento e a celebração pública da grandeza e dignidade de uma pessoa, cuja vida privada se confunde com a vida pública, nunca é demais, visto que  confirmam o que já se sabe sobre ela; ao mesmo tempo conferem realidade aos feitos extraordinários  de  sua vida, iluminando-os.  É o que queremos fazer neste momento,  reconhecer e celebrar a vida e a obra de Violeta Arraes que marcaram indelevelmente seu tempo e sua geração.

Violeta dedicou inteiramente sua vida às lutas pelos direitos humanos e na defesa da
democracia; lutas essas que ela travou sem fronteiras, com muita coragem e determinação e no limite máximo de sua generosidade.

Cearense do Araripe, veio ao mundo em 5 de maio de 1926 e foi uma das figuras mais atuantes e influentes nos meios acadêmicos da sua época, projetando-se publicamente dentro e fora do Brasil por sua presença ativa no mundo da cultura e das artes e pelo seu engajamento político.

Em Recife, Violeta foi ativista do movimento de educação de base; atuou no Movimento
de Cultura Popular, junto com o educador Paulo Freire, e colaborou com D. Hélder Câmara, enquanto membro do Secretariado Nacional da Ação Católica e integrante da Juventude Universitária Católica (JUC), de onde se originaram grupos de ação política que combateram o golpe de 64 e resistiram à ditadura civil-militar; por isso foram duramente perseguidos e dizimados.

Ligada ao Cinema Novo e ao meio artístico e cultural pernambucano, no período em que
junto com o marido Pierre Maurice Gervaiseau, economista e militante socialista, Violeta
colaborou com a ação política do seu irmão, o então governador de Pernambuco, Miguel
Arraes, deposto e preso em 1º de abril de 1964, no golpe militar. Ambos foram presos
quando chegavam à sede do Arcebispado para visitar D. Hélder Câmara no dia em que
ele assumia como bispo de Recife e Olinda. Quatro meses depois, ela e sua família
foram expulsos do Brasil e se exilaram  na França onde, a partir de então,  passaram a viver.

O castigo do exílio que os algozes da ditadura lhe aplicaram não conseguiu fazer
com que Violeta arrefecesse o ânimo, nem abdicasse de seus sonhos e da utopia
socialista  que iluminaram e deram sentido à sua vida. Esta é uma marca da sua origem
nordestina, região onde se forjam homens e mulheres fortes que não se dobram
diante das agruras da seca e do sol inclemente do semiárido, nem menos se vergam sob a opressão covarde de um regime de força que dominou pelas armas durante longos e tenebrosos vinte e um anos de ditadura e de graves violações aos direitos humanos em nosso país.

Na França, já graduada em sociologia, cursou pós-graduação em psicologia para
poder ajudar, como psicoterapeuta, a muitos exilados brasileiros traumatizados com
a tortura a que foram submetidos.  Por sua generosidade e dedicação no acolhimento
aos exilados políticos na França, ficou conhecida como a “Rosa de Paris”.

Como integrante da Frente Brasileira de Informações, naquele país europeu, Violeta,
segundo testemunho de ex-exilados, foi fundamental para a denúncia dos crimes
contra os direitos humanos cometidos pela ditadura militar e, como estava acima
das divisões entre partidos e grupos políticos, conseguia aglutinar todos e a todos
ajudava a suportar as terríveis agruras do exílio. Sua casa em Paris se transformou em
uma referência para artistas e intelectuais perseguidos pelo regime militar. Também
estendeu sua ajuda aos exilados chilenos, após o golpe de Pinochet, e ao movimento
anticolonialista em Angola, Moçambique e Guiné Bissau.

Com a aprovação da Lei da Anistia em agosto de 1979, Violeta retornou ao Brasil,
mas foi convidada a trabalhar como adida ao projeto França-Brasil, na embaixada
brasileira em Paris. De 1984 a 1986, ela se dedicou a elaborar e desenvolver o projeto,
realizando vários eventos relevantes, destacando-se, entre outros, a Exposição de
Arte Popular Brasileira, no Museu de Arte Moderna. Em 1988, a convite do então
governador Tasso Jereissati, assumiu a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e,
em 1996, foi nomeada reitora da Universidade Regional do Cariri, na cidade do Crato,
cargo que exerceu até 2003. Viveu os últimos anos de sua rica existência na cidade do
Rio de Janeiro, onde veio a falecer em 2008. No entanto, Violeta continua viva, não
só nas nossas mentes e nos nossos corações, mas sobretudo no exemplo que deixou,
exemplo de  coragem e de fidelidade absoluta ao seu  compromisso  com os direitos
humanos e com a democracia.

Para que a história de uma pessoa se revele em toda sua inteireza, é preciso que seja
projetada no espaço público, sobretudo se for mulher, e, como tal, historicamente
condenada a viver submersa na invisibilidade da vida privada, por determinação de
uma cultura machista e patriarcal ainda hoje dominante na nossa sociedade. Violeta
Arraes é uma mulher que rompeu com esse padrão e protagonizou os acontecimentos
mais importantes e cruciais da vida nacional, com desdobramentos para além de
nossas fronteiras.

Vale destacar, ainda, o simbolismo e o significado da Medalha Violeta Arraes de
Direitos Humanos que projeta, no espaço público, a figura gigantesca dessa mulher
excepcional. Esta homenagem é prestada num momento decisivo para a história e a
democracia brasileira. Ocorre exatamente no momento em que, após longos e aflitivos
anos de espera, o Estado e a sociedade civil brasileira buscam resgatar a memória e
desvelar a verdade histórica sobre os crimes de lesa humanidade cometidos durante
a ditadura militar, e apontar os responsáveis por eles, para que não fiquem impunes.

Trata-se, portanto, de fazer justiça, mas para isso é preciso dar nova interpretação à
Lei da Anistia que, absurdamente, anistiou vítimas e algozes.

Se viva ainda estivesse, não tenhamos dúvidas de que Violeta estaria na linha de frente
deste embate entre o passado, que quer ser esquecido, e o presente que grita, em
dores de parto, para que a Verdade se revele por inteiro e se faça justiça aos que,
como Violeta Arraes, pagaram com prisão, tortura, assassinato, desaparecimento
forçado e exílio a incipiente democracia que temos hoje. Precisamos, de uma vez
por todas, passar a limpo essa vergonhosa página da nossa história, e como diz a
ex-presidente do Chile, Michele Bachelet, “a ferida só sara se for lavada”. É este o
momento. A hora chegou, não a deixemos escapar.

Por fim, agradeço de coração a honra de me conferirem esta Medalha que me servirá
de escudo e de estímulo para continuar a luta de Violeta Arraes, e de tantos outros, na
defesa intransigente dos Direitos Humanos e na luta sem trégua por Verdade, Justiça e
plena Democracia.

Obrigada a todos e todas.

Rio de Janeiro, 27 de maio de 2013

Dep. Luiza Erundina de Sousa”

violeta_1Violeta Arraes em sua juventude, antes de ser a “Rosa de Paris”

discurso de Luiza Erundina.jpg1Deputada federal Luiza Erundina faz seu discurso e conta quem foi a “rosa” Violeta

2 ideias sobre “ERUNDINA EXALTA VIOLETA ARRAES, A ‘ROSA DE PARIS’

  1. Li isso hoje no Jornal do Brasil, e diz tudo que eu tenho engasgado
    Cara Hilde o que achas ?

    CONSPIRAÇÃO CONTRA A PÁTRIA
    O Jornal do Brasil mantém a confiança na chefia do estado Democrático
    Jornal do Brasil
    O mundo inteiro passa por uma crise econômica e social, decorrente da ganância dos banqueiros, que controlam o valor das moedas, o fluxo de crédito, o preço internacional das commodities. Diante deles, os governos se sentem amedrontados, ou cúmplices, conforme o caso e poucos resistem.
    A União Europeia desmantela-se: o fim do estado de bem-estar, o corte nos orçamentos sociais, a desconfiança entre os países associados, a indignação dos cidadãos e a incapacidade dos governantes em controlar politicamente a crise, que tem a sua expressão maior no desemprego e na pauperização de povos. Se não forem adotadas medidas corajosas contra os grandes bancos, podemos esperar o caos planetário, que a irresponsabilidade arquiteta.
    A China, exposta como modelo de crescimento, é o caso mais desolador de crescente desigualdade social no mundo, com a ostentação de seus bilionários em uma região industrializada e centenas de milhões de pessoas na miséria no resto do país. Isso sem falar nas condições semiescravas de seus trabalhadores – já denunciadas como sendo inerentes ao “Sistema Asiático de Produção”. Os Estados Unidos, pátria do capitalismo liberal e neoliberal, foram obrigados a intervir pesadamente no mercado financeiro a fim de salvar e reestruturar bancos e agências de seguro, além de evitar a falência da General Motors.
    Neste mundo sombrio, o Brasil se destaca com sua política social. Está eliminando, passo a passo , a pobreza absoluta, ampliando a formação universitária de jovens de origem modesta, abrindo novas fronteiras agrícolas e obtendo os menores níveis de desemprego de sua história.
    Não obstante esses êxitos nacionais, o governo está sob ataque histérico dos grandes meios político-financeiros. Na falta de motivo, o pretexto agora é a inflação. Ora, todas as fontes demonstram que a inflação do governo anterior a Lula foi muito maior que nos últimos 10 anos.
    O Jornal do Brasil, fiel a sua tradição secular, mantém a confiança na chefia do Estado Democrático e denúncia, como de lesa-pátria, porque sabota a economia, a campanha orquestrada contra o Governo – que lembra outros momentos de nossa história, alguns deles com desfecho trágico e o sofrimento de toda a nação.

  2. Hoje é muito difícil encontrar uma mulher igual a essa, alias é impossível encontrar …até a dep. Erundina não merecia esse premio, afinal ela fez parte PT…

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