Trabalho escravo na Zara abre a questão: consumo consciente ou consumo conivente?

Está bombando hoje nos jornais a notícia de que a Zara foi flagrada com fábricas clandestinas em São Paulo, onde mantém imigrantes bolivianos e até menores de idade trabalhando em péssimas condições, trancados na oficina, com jornada de mais de 12 horas e salários de miséria, o que configura trabalho escravo. A notícia se espalhou, sujando geral para a rede de lojas espanhola que é um fenômeno da moda contemporânea, especialmente entre a garotada antenada que consome a fast-fashion

Fast-fashion são as roupas fabricadas em larga escala, que, por seguirem as volúveis tendências de cada estação, têm curto tempo de vida, com rápido desgaste de sua imagem. Portanto, as grandes lojas desses produtos precisam estar sempre lançando novos modelos, às vezes até a cada semana, e sempre a preços bem atrativos. Esta é a fórmula de um sucesso certo, pois quem não quer estar na moda, com uma roupa inspirada no último desfile da Chanel, a um preço acessível? Não importa se o acabamento é péssimo e se o tecido é a seda sintética mais vagabunda do mundo. Não vamos ser hipócritas, todas querem!…

Todo mundo quer consumir, mas ninguém quer saber como e onde esta moda é produzida. Está lá nas etiquetas da Zara, basta ler: “Made in China”, “Made in Camboja”, “Made in Sri Lanka”, “Made in Índia” e…”Made in Brasil”. A Zara é apenas mais uma entre tantas outras redes de lojas que fazem o mesmo mundo afora: para baratear sua produção em larga escala, recorrem a países onde a mão de obra é mais barata. Leia-se, onde o trabalho escravo é praticado, onde não se cumprem leis trabalhistas, onde os operários trabalham apenas pra comer e sobreviver. No Brasil, a mão de obra mais utilizada nesses casos costuma ser a de imigrantes bolivianos e peruanos, que vêm para o país em busca de melhores condições de vida…

Na moda, infelizmente, o trabalho escravo não é novidade. Há pouco tempo, a rede Marisa também se envolveu em um escândalo semelhante ao da Zara. Leiam aqui. Lembram do escândalo da Nike, das criancinhas que costuram as bolas de futebol à mão? É, façam uma pesquisa no Google, é escândalo que não acaba mais!…

No Brasil, o consumidor não está nem aí. Mas eu já vi, há mais de 10 anos, um piquete, em plena Rodeo Drive em Los Angeles, de consumidores conscientes protestando contra o trabalho escravo praticado por uma grife italiana e impedindo a freguesia de entrar em sua loja. Era o caso de se pensar em fazer o mesmo aqui, não acham?…

Vocês acham que Zara & Outros vão tomar alguma atitude, fiscalizando as confecções suas terceirizadas? Hummmm, está difícil… E o povo que consome, hein? Será que eu ou você vamos deixar de comprar roupas na Zara? É aí que o bicho pega! Na prática, que responsabilidade temos nós, consumidores, diante dessa exploração do homem pelo homem? É para refletir. Até que ponto, em nome das aparências, vamos apoiar aqueles que promovem o sofrimento de pessoas escravizadas na produção de roupas que iremos usar por uma estação e rapidamente serão esquecidas no fundo do armário?…

Por mais difícil que seja admitir, a responsabilidade também é nossa. Pensem…

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